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Artigo

EUA adotam regras para reduzir poluição por mercúrio, por Paul Krugman

 

[The New York Times] O que eu desejava ganhar no Natal era algo que pudesse nos tornar mais saudáveis e ricos. E, como isso é apenas um desejo, por que não desejar também que os norte-americanos se tornem mais inteligentes?

Surpresa: o meu primeiro desejo foi atendido, sob a forma dos novos padrões da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos relativos ao mercúrio e aos poluentes atmosféricos produzidos pelas usinas de geração de energia elétrica. Essas regras há muito se faziam necessárias: nós deveríamos ter começado a regulamentar o mercúrio há mais de 20 anos. Mas as normas foram finalmente estipuladas e elas implicarão em grandes benefícios a um custo modesto.

Assim, naturalmente, os republicanos estão furiosos. Mas, antes de entrarmos no campo da política, falemos sobre como foi positiva essa medida da Agência de Proteção Ambiental.

Até onde eu sei, mesmo os oponentes das regulamentações ambientais admitem que o mercúrio é um elemento químico altamente prejudicial à saúde. Ele é um potente neurotóxico: a expressão “louco como um chapeleiro” surgiu no século 19 porque os chapeleiros da época tratavam peles de animais com compostos à base de mercúrio e, como resultado, eles frequentemente sofriam danos no sistema nervoso e padeciam de problemas mentais.

Os chapeleiros não usam mais essa substância (e, atualmente, quem usa mais chapéus?), mas muito mercúrio ainda é lançado na atmosfera pelas usinas termoelétricas movidas a carvão que não contam com controles de poluição modernos. A partir da atmosfera, esse elemento vai parar na água, onde micróbios o transformam na substância metil mercúrio, que se acumula nos peixes. E o que ocorre a seguir? A Agência de Proteção Ambiental explica: “A exposição ao metil mercúrio é um motivo de preocupação especial no que se refere a mulheres em idade procriativa, bebês ainda no período de gestação e crianças novas, já que estudos identificaram uma relação entre altos níveis de metil mercúrio e problemas de desenvolvimento do sistema nervoso, que são capazes de limitar a capacidade das crianças de pensar e aprender”.

Isso parece ser um tipo de coisa que nós deveríamos regulamentar, não é mesmo?

As novas regras também teriam o efeito de reduzir a poluição por partículas finas, que são uma fonte conhecida de vários problemas de saúde, desde a asma até os ataques cardíacos. De fato, os benefícios da redução da poluição por partículas finas seria um dos resultados quantificáveis mais positivos das novas regras. A palavra-chave nisto tudo é “quantificável”: a análise de custo e benefício feita pela Agência de Proteção Ambiental leva em consideração apenas um dos benefícios da regulamentação do mercúrio: a redução dos futuros salários de crianças cujos coeficientes de inteligência seriam reduzidos devido ao consumo de peixes capturados por pescadores de água doce. Existem, sem dúvida, vários benefícios derivados da redução das emissões de mercúrio, mas neste momento a agência não sabe como determinar um valor em dólares para esses benefícios.

Mesmo assim, o resultado positivo das novas regras é enorme: até US$ 90 bilhões por ano em benefícios, contra cerca de US$ 10 bilhões por ano em custos na forma de preços de energia elétrica ligeiramente mais elevados. Isso, conforme diz David Roberts, da Grist, é um excelente negócio.

E é um negócio que os republicanos estão loucos para destruir.

Com tudo mais que vem acontecendo na política norte-americana nos últimos tempos, a postura antiambientalista radical do Partido Republicano não tem recebido a atenção que merece. Mas algo de notável aconteceu quanto a isso. Apenas alguns anos atrás, parecia impossível que alguém fosse simultaneamente republicano e um ambientalista sério. Durante a campanha presidencial de 2008, John McCain advertiu para os perigos do aquecimento global e propôs um sistema de comércio de emissões de carbono. Porém, atualmente, o partido afirma que nós devemos não apenas evitar novas regulamentações ambientais mas também abolir medidas de proteção que já se encontram em vigor.

Eu não estou exagerando. Durante a batalha em torno do teto da dívida dos Estados Unidos, os republicanos tentaram impor medidas que, segundo a revista “Time”, iriam essencialmente impedir que a Agência de Proteção Ambiental e o Departamento do Interior executassem o seu trabalho.

Aliás, você pode ter escutado que Jon Huntsman é diferente. E, certa vez, ele de fato afirmou: “O conservacionismo é conservador. Eu não tenho vergonha de ser um conservacionista”. Entretanto, ele também foi assimilado pelo movimento antiecológico Borg, tendo denunciado o “reinado de terror regulamentador” da Agência de Proteção Ambiental e previsto que as novas regras provocarão blecautes nos Estados Unidos no próximo verão norte-americano, algo que seria incrível, já que as novas regras sequer entraram em vigor.

De forma mais geral, toda vez que ouvir previsões catastróficas sobre os efeitos da regulamentação da poluição, você deveria saber que os interesses especiais sempre fazem tais previsões e que eles sempre estão errados. Por exemplo, as companhias de energia elétrica alegaram que as regras referentes à chuva ácida prejudicariam o fornecimento de eletricidade e fariam com que a conta de energia disparasse. Nada disso ocorreu, e o programa de chuva ácida transformou-se em um exemplo brilhante de como o ambientalismo e o crescimento econômico podem conviver harmonicamente.

No entanto, uma oposição insensata às regulamentações “matadoras de empregos” é atualmente um elemento que define os republicanos. E eu sou obrigado a admitir que isso me deixa meio pessimista: a Agência de Proteção Ambiental acaba de ter tomado uma medida positiva, mas se um republicano – qualquer republicano – vencer a eleição do ano que vem, ele sem dúvida tentará cancelar as novas regras e normas adotadas pela agência.

Mesmo assim, pelo menos por ora, aqueles que se preocupam com a saúde dos outros cidadãos, e especialmente com a das crianças dos Estados Unidos, têm um motivo para comemorar.

Análise de Paul Krugman, do New York Times, no UOL Notícias.

EcoDebate, 30/12/2011

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