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Dilma: cisterna de plástico, ‘presente’ natalino aos Nordestinos, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

[EcoDebate] O presente da presidente Dilma ao povo do semiárido nesse Natal já está decidido: uma cisterna de plástico.

A presidente é uma excelente gerente, pessoa íntegra e acima de qualquer suspeita. Quando criou o “Água para Todos” nos encheu de alegria. Afinal, agora iríamos acelerar a construção das cisternas para beber e produzir. Mas, a presidente preferiu doar centenas de milhares de cisternas de plástico para os nordestinos. Descartou o trabalho histórico da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e vai trabalhar exclusivamente com os estados e municípios.

Claro que essa decisão está acima de qualquer interesse eleitoreiro, ou dos coronéis do sertão, ou dos 10% das empresas fabricantes do reservatório. Dilma é uma mulher honrada.

Claro que os empresários enviarão junto com as cisternas pedagogos, exímios conhecedores do semiárido, que farão a educação contextualizada realizada a duras penas por milhares de educadores da ASA. Esses pedagogos evidentemente conhecem o semiárido, o regime das chuvas, a pluviosidade de cada região, como se deve cuidar dos telhados, das calhas. Irão pelo sertão, pelas serras, pelos brejos, gastarão dias de suas vidas em meio às populações para realizar com um cuidado sacerdotal as tarefas que a questão exige.

Claro que os políticos farão, antes de entregar as cisternas, uma crítica ao coronelismo nordestino, ao uso da água como moeda eleitoral, afinal, já superamos os períodos mais aberrantes da política nordestina.

Quando a cisterna quebrar os pedreiros capacitados saberão reparar os estragos, sem depender da empresa e as cisternas de plástico não virarão um amontoado de lixo no sertão.

As empresas também enviarão agrônomos para dialogar com as comunidades como se faz uma horta com a água de cisterna para produção, uma mandala, uma barragem subterrânea, uma irrigação simples por gotejamento. Claro, o interesse das empresas e dos políticos é continuar o trabalho pedagógico da ASA tão premiado no Brasil e outros lugares do mundo.

Não temos, portanto, nada a protestar. A presidente e a ministra Campello são exímias conhecedoras do Nordeste, mesmo tendo nascido no sul e sudeste. Conhecem cada palmo de da região, dessa cultura, cada um de seus costumes. Claro que não nos enviarão mais sapatos furados, roupas rasgadas em tempos de seca, como acontecia antigamente. Até porque o trabalho da ASA eliminou as grandes migrações, a sede, a fome, as frentes de emergência e os saques. Mesmo não sendo nordestinas, nem jamais tendo vivido aqui, conhecem a região melhor que o povo que aqui nasceu ou aqui habita. Portanto, gratos por tanta generosidade.

Vamos conversar com os milhões de beneficiados envolvidos na convivência som o semiárido. Eles vão entender as razões da presidente e da ministra e vão retribuir com a generosidade que lhes é peculiar.

O povo do semiárido jamais esquecerá que, no Natal de 2011, ganhou como presente da presidente Dilma Roussef uma cisterna de plástico.

Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT.

EcoDebate, 19/12/2011

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2 thoughts on “Dilma: cisterna de plástico, ‘presente’ natalino aos Nordestinos, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Jorge Alexandre O.A. da Silva

    A falta de acesso à água é, sem dúvida, um dos maiores e mais antigos flagelos pela qual tem passado uma significativa parte da nossa população. As conseqüências desse problema, todos nós já conhecemos: miséria quase absoluta, êxodo rural, não uso de terras produtivas, etc.. Portanto, entendo que toda e qualquer iniciativa que venha a minimizar esse problema é bem vinda, devendo atuar de forma complementar às alternativas existentes, permitindo uma maior velocidade na disponibilização da água aos seus usuários. Não importa de que material seja feito o reservatório, desde que propicie qualidade e conservação adequados para a água, além de rapidez e facilidade na sua instalação, de forma a garantir acesso à água para um maior número de famílias ao longo do período de estiagem.

  • Muito bem postas as colocações do Malvezzi. Cisternas plasticas, de fato são bem mais práticas. Os governos locais certamente também agradecerão por tão oportuna iniciativa, uma vez que poderão contar com a eterna gratidão dos seus beneficiarios-eleitores. O ano eleitoral está aí bem á vista. Sejamos práticos, o que precisamos de fato, é água para uso imediato. Essa coisa artesanal e tudo mais que a complemente, como comprova a exitosa prática de pedagogia cidadã empreendida pela Articulação no Semiárido Brasileiro é obviamente incômoda e insidiosa.

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