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Artigo

O ‘bode’ da Suzano Papel e Celulose em Enxu, Baixo Parnaiba maranhense, artigo de Mayron Régis

 

As pessoas custam, mas voltam ao Enxu. Com essas palavras ditas em sua quitanda, no dia nove de outubro de 2011, Moacir, morador desse povoado de São Bernardo, Baixo Parnaiba maranhense, numa área limítrofe com o município de Santa Quitéria, recupera certa dualidade que os moradores de Enxu levam consigo para qualquer lugar que forem, até na volta para casa.

Uma dualidade bem representativa como a de um dos seus moradores que se ateve à Chapada e por lá se deparou com um caçador do município de Brejo. Quis saber o que o motivava a ir tão longe para caçar. O caçador respondeu que aquela Chapada ainda permitia caçar enquanto que nas Chapadas de Brejo havia poucas caças devido aos desmatamentos para os plantios de soja. E que ficara sabendo que queriam acabar com a Chapada do Enxu para plantar eucalipto. O morador se calou por toda aquela verdade que ouviu do desconhecido.

A Suzano Papel e Celulose começou a demarcar os picos para desmatar mais de quinze mil hectares de Chapada no município de São Bernardo. Diga-se de passagem que este município, desde 2005, proíbe a produção de carvão vegetal e os plantios de monocultura em seu território. A lei de autoria do ex-vereador Gilvan Alves periga que os vereadores da atual legislatura a derrubem por conta de um acordo do prefeito Coriolano e da Suzano Papel e Celulose para que esta financie a sua campanha em 2014.

Na primeira parte da quitanda de Moacir, no povoado do Enxu, averígua-se vários produtos industrializados que ultimamente abarrotam os comércios dos interiores, mesmo os mais miseráveis e mais distantes. A distância e a miséria descalçam tanto o cotidiano dessa comunidade e de tantas outras comunidades do Baixo Parnaiba maranhense que um “calçado” qualquer é festejado. E que “calçado” é esse? A responsabilidade social da Suzano Papel e Celulose que no começo da década levou uma biblioteca móvel e depois a removeu da comunidade do Enxu. Da mesma forma que a empresa não perguntou se os moradores queriam ou não queriam uma biblioteca, ninguém perguntou sobre o que eles achavam sobre a venda irregular da terra por parte de posseiros para a Suzano Papel e Celulose.

A empresa montou em cima da comunidade e continuou por cima da carne seca porque depois desse encontro em que levou a biblioteca móvel a Suzano se mandou para só dar as caras, recentemente, visto seu interesse em desmatar os quinze mil hectares da Chapada. Em tempos remotos, alguém descobriu a pólvora e com a pólvora as potências derrubaram muros e subjugaram povos indômitos. Em tempos recentes, alguém descobriu a responsabilidade social que a Suzano usou e usa muito bem para “amarrar seu bode” em todo o Maranhão.

“Amarrar um bode” denota que alguém quer distrair sua atenção com algo que diverge da sua realidade e quando cobram o que realmente significa aquilo a pessoa responde que o “bode”, ou a biblioteca móvel ou a escola digital corresponde a toda uma conquista histórica da comunidade. Contudo, a comunidade do Enxu quer saber como a Suzano deteve quinze mil hectares de Chapada se uma das posses, que ela adquiriu da mão do senhor Manuca que adquirira do senhor Bernardo Cardoso, consistia em 26 hectares? Essa posse, na verdade, que ainda é da família do senhor Bernardo Cardoso em razão dos seus filhos não terem assinado nada, consiste em 43 hectares.

Artigo originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba

Mayron Régis, articulista do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

* Artigo enviado pelo Autor ao EcoDebate, 13/10/2011

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One thought on “O ‘bode’ da Suzano Papel e Celulose em Enxu, Baixo Parnaiba maranhense, artigo de Mayron Régis

  • A certificação FSC que a Suzano detém não permite o desmatamento de áreas após novembro de 1994. Sendo assim, como poderia esta empresa pensar em fazer isso? Estariam estas áreas fora do escopo da certificação? A respeito da tomada das terras, prefiro nem comentar, pois falta muita coisa para isso mudar, por exemplo, atendimento dos órgãos públicos para a vigilância das terras.

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