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Artigo

Carbono Zero e outras Balelas, artigo de Marcelo Szpilman

[EcoDebate] No rastro dos debates das grandes questões ambientais, como sempre acontece, logo surgem os oportunistas surfando a onda com criativos produtos e belas campanhas de marketing. Como a bola da vez é o Aquecimento Global e as Mudanças Climáticas, a onda agora é prometer compensar (ou neutralizar) as emissões de carbono e gases do efeito estufa com o “mágico” plantio de árvores. Como Slogan, é muito bonito e reconfortante dizer que o plantio de árvores neutralizará totalmente as emissões de carbono de um evento ao público ou as emissões dos gases de efeito estufa do carro ou do avião que o transporta. Mas será que é verdade?

Ainda que essas promessas possam ter-lhe convencido, e trazido algum alívio para a consciência pesada, pare por alguns instantes e pense. Resgate seu bom-senso. Em primeiro lugar, tenha a exata noção da seguinte premissa: se todos nós quisermos seguir esse mesmo caminho “preservacionista”, não haverá área suficiente para plantar todas as árvores necessárias. O que significa dizer que essa não é uma solução viável para o Planeta.

Mas tudo bem, vamos admitir que somente um parte seguirá esse caminho. Nesse caso, qual é a garantia que você tem de que a empresa responsável irá plantar as mudas das árvores? Quais espécies serão plantadas e em que áreas? Quem delas irá cuidar durante os longos 20 ou 30 anos que levarão para tornar-se adultas? Ou você não sabia que no cálculo que aponta o número de árvores necessárias para neutralizar suas emissões gasosas, ou seja, para concretizar a prometida compensação, utiliza-se o coeficiente de captura de CO2 da árvore adulta? E mais; dependendo da espécie, esse coeficiente será bem diverso. Quem lhe garante também que suas árvores chegarão à vida adulta? Aliás, quem lhe garante que a empresa responsável (contratada) pelo plantio estará viva e cuidando das suas árvores daqui há 20 ou 30 anos? Infelizmente, você não obterá respostas satisfatórias a todas essas dúvidas.

Não está-se falando aqui, e é bom que fique bem claro, dos programas e projetos de recomposição da mata nativa e de reflorestamento. A recuperação das áreas degradadas, especialmente nas encostas dos morros e entornos de rios e mananciais, e o replantio feito pela indústria de papel e celulose são ações que devem sempre ser incentivadas e apoiadas.

Entretanto, se até o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) critica o forte apelo de marketing das campanhas de Carbono Zero, o caminho não pode ser o insidioso discurso: “continue consumindo e gerando emissões de carbono sem preocupações; nós limparemos sua barra plantando árvores”. Seria ótimo para todos nós se pudesse ser assim. Mas não é. Não há outro caminho sustentável de longo prazo senão o consumo consciente, a preservação dos recursos naturais e a reciclagem dos materiais e resíduos.

Pense nisso! Não se deixe levar por soluções oportunistas e milagrosas.

Associe-se, contribua e participe de ações, entidades e projetos atuantes e respeitados por seu longo e verdadeiro trabalho em favor da Natureza.

*Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor do livro GUIA AQUALUNG DE PEIXES, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês AQUALUNG GUIDE TO FISHES, editado em 1992, do livro SERES MARINHOS PERIGOSOS, editado em 1998/99, do livro PEIXES MARINHOS DO BRASIL, editado em 2000/01, do livro TUBARÕES NO BRASIL, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto Aqualung. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).
Site: http://www.institutoaqualung.com.br

EcoDebate, 21/07/2011

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2 thoughts on “Carbono Zero e outras Balelas, artigo de Marcelo Szpilman

  • “(…) Não há outro caminho sustentável de longo prazo senão o consumo consciente, a preservação dos recursos naturais e a reciclagem dos materiais e resíduos.”
    Acredito que Szpilman, para escrever um artigo de opinião engessada deve ter se preocupado com a leitura complementar e de valor agregado para conhecimento dos leitores. Sendo assim, penso que é contradizente esse tipo de posição, uma vez que a organização para compensar (neutralizar) suas emissões de gases poluentes precisa inicialmente inventarias suas emissões (seguindo normas técnicas e protocolos internacionalmente aceitos). Deve-se ressaltar que tais diretrizes não obrigam as organizações a fazerem os “plantios” e sim elaborarem projetos de eficiência (para água e energia), reduzirem consumo de materiais e matérias-primas e sobretudo reduzirem sua geração de resíduos.
    As empresas assumem esta gestão de melhoria e além destas ações, buscam o plantio de mudas para dar maior visibilidade externa ao seu sistema, e marketing. Será que eles estão errados? Penso que não.
    Com todas estas mudanças no cenário da indústria, o meio ambiente só ganha! Recupera-se áreas degradadas, recompoem-se matas ciliares, proporcionam retorno da fauna local…. o que há de errado nisso?

    Ninguém está esperando milagres e nem dando esperanças falsas… estamos sim, torcendo para que as áreas recuperadas por matas nativas (e não eucaliptos – das indústrias (elogiadas) de papel e celulose) fiquem em pé e sobrevivam nos próximos 20 anos e mais!
    Gizelle Lira
    Instituto Oksigeno

  • Marcio Araujo de Almeida Braga

    A Gizelle Lira reconhece que está apenas “torcendo” pra que as áreas plantadas sobrevivam nos próximos 20 anos.
    O autor do artigo explica que as árvores plantadas precisam chegar aos 20 anos e depois continuar vivas por outras tantas décadas. Será que isso vai acontecer? Será que as empresas plantadoras sequer existirão em 20 ou 30 anos?

    A solução virá apenas com a diminuição do consumo nas sociedades desenvolvidas e com o controle da natalidade nas sociedades não desenvolvidas. O resto é cortina de fumaça, marketing verde, enganação.

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