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Artigo

As cabeceiras do rio Jacu, artigo de Mayron Régis

[EcoDebate] A chuva dificilmente contempla alguém como se gostaria. Isso se deve pelo fato de que a chuva vem de longe. De outros campos, como os campos de Cachoeira, como os campos de Dalcidio Jurandir.

Ouve-se a chuva com os mesmos ouvidos da infância e da juventude; o que mudou foi o significado da chuva de uns anos atrás para cá. Ela traz vozes de pessoas que conversavam sobre e que esperavam pouco dessa vida.

Quando essas vozes se juntam, elas viram e desviram uma sinfonia ensurdecedora como a própria vida e a própria chuva se tornam e se retornam sem que peçam licença a ninguém.

A mãe-da-lua, pássaro do Cerrado, nos Anajás dos Garcês, povoado de Barreirinhas, município do Maranhão, acorda todos para a chuva que descerá dos céus: “João foi, foi”. Isso de manhã cedinho e montada sobre as cabeceiras do rio Jacu, bacia do rio Preguiças. Ao acordar, Divan Garcês responde: “Mas eu fiquei”.

Como seria bom que as histórias nas Chapadas do Baixo Parnaíba maranhense se resumissem a chuvas de varrer a Chapada com muita água e com muita frieza e a mães-da-lua que discorrem sobre as cabeceiras dos rios.

Ali mesmo nos Anajás e nas Tabocas, povoados de Barreirinhas e limítrofes com Urbano Santos, as pessoas se entontecem com seus parentes que se anulam perante a calamidade do eucalipto como se vê nos Gonçalo dos Moura. Alguns desses mesmos parentes se granaram com a compra de suas Chapadas por gente da Holanda.

As Chapadas, que os Moura venderam, encostam-se às Chapadas dos Anajás e das Tabocas. Alguma empresa contratada pela fazenda Maranhão e pela Margusa tentou entrar na área das duas comunidades. Mais do que nunca, vieram pessoas de todas as partes para frearem os tratores e quem sabe tocarem fogo.

A Vera, funcionária da Planeja, empresa de assessor ia técnica para assentamentos da reforma agrária, louva as Tabocas como a comunidade mais politizada de Barreirinhas e como tal a mais encrenqueira com relação aos seus direitos. Ao todo, moram mais de mil pessoas em quinze comunidades nessas Chapadas e nesses Baixões. Algumas dessas comunidades vivem problemas com ameaças de desmatamento direcionadas a elas por pretensos proprietários.

Mayron Régis, jornalista e articulista do EcoDebate, é Assessor do Fórum Carajás.

EcoDebate, 16/03/2011


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Alexa

One thought on “As cabeceiras do rio Jacu, artigo de Mayron Régis

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Sou leitor constante do EcoDebate e, desta vez, surpreendi-me com um texto literário quando esperava algo essencialmente técnico.
    Fiquei imaginando a mãe-da-lua cantando “João foi, foi” enquanto se ouve o batido harmonioso da chuva no telhado.
    Está de parabéns o Mayron Régis.

Fechado para comentários.