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Artigo

A vegetação e o Ambientalismo de Asfalto, artigo de Cristiano Cardoso Gomes

[EcoDebate] Cotidianamente a legião de defensores ambientais tem ampliado, nossa sociedade aos poucos e progressivamente aumenta o interesse pelas causas e efeitos no meio ambiente. Não obstante, informações codificadas e quebradas chegam às pessoas, e as possibilitam um endetimento deficiente da realidade ou mesmo parcial.

Para exemplicar utilizarei três acontecimentos distintos, usando-os como pano de fundo para discussão:

a) Numa conversa uma pessoa me disse: Eu sou contra a derrrubada de árvores e meu pai também, apesar de que ele pode ser considerado como um destruidor. Ele precisou derrubar a Caatinga para vender lenha e fazer carvão para que eu estudasse.

b) Num dos guias eleitorais da vida, um candidato a senador disse a beira de um forno de uma calcinadora de gesso: Essa lenha que queima aqui é oriunda de desmatamento, trabalharei por outro combustível sustentável.

c) Num curso escutei: Aquela devastação do Araripe precisa acabar, não tem que plantar eucalipto não, tem que plantar espécies nativas. Aquilo tem que acabar.

d) Um cadidato a Governador diz que construirá um gasoduto de mais de 500 km, objetivando substituir a lenha.

No item “a” na qualidade de pai, acho que faria até mais do que o pai do jovem, que atire a primeira pedra o pai/mãe que não quer o progresso dos filhos e, sobretudo a educação. Será que os fins não justificariam os meios. É provavel que sim! Para nos católicos, Deus criou a terra, o céu, o mar e todas as formas de vida. Para mim foi atribuido ao homem o gerenciamento ambiental.

Todos os brasileiros já escutaram falar de secas no semiárido brasileiro, acho que também é comum o entendimento de que no Brasil, sobretudo no nordeste, há duas estações bem definidas (verão e inverno), inverno o tempo que chove, que geralmente ocorre num tempo compreendido entre 3 e 4 meses.

Certamente é fácil entender que os cultivos agrícolas são no geral exigentes de água, assim, após as chuvas o cultivo desses é complexo. Contudo, apesar das imagens iludirem as pessoas, as árvores da caatinga não morrem na seca, elas simplismente protegem-se ficando no que grosseiramente posso afirmar de dormencia.

Já sabemos que ao retirarmos árvores e criarmos condições para que a regeneração se desenvolvam em poucos anos outras árvore substituírão as retiradas. Esse é o fundamento de rendimento sustentável que é ensinado na Europa datado de perído anterior a 1500. Já a estruturação atual é do início de seculo XIX, na Alemanhã, e no Brasil já são mais de 50 anos de ensino.

Diante dos fatos: escassez de água, capacidade natural de crescimento (rendimento sustentável) e fontes de renda escassa, não seria o uso racional da caatinga uma fonte renda, e mesmo de sobrevivencia. É sim, e deve ser em minha singela compreensão, haja vista que quem vive nesse ambiente é que efetivamente sabe onde aperta o sapato. Assim derrubar árvores, desde que dentro de um plano de uso não é e nem deve ser crime, tão pouco fruto para vergonha ou arrenpendimentos. A natureza ai está para que se use de forma equilibrada, e o conhecimento para o uso sustentável existe a mais de século.

Já o item “b”, quanto a lenha não ser sustentável, sinceramente não sei o que mais é sustentável. A lenha sempre é tratada como filha dos outros, tomada como o cristo atual não deve ser desprezada. A lenha mesmo quando proveniente de desmatamento é o que sustenta muitos pais de famíliana Caatinga, sobretudo no período seco, é a lenha que possibilitou ultrajar muitas secas, foi ela que colocou feijão e arroz em muitos pratos de famílias sertanejas, e também possibilitou o estudo de muita gente. Muitos agricultores utilizam como uma poupança, para ser utilizada na hora da emergência.

Aquilo que se corta e cresce em ciclos, é uma fonte renovável. Cortar é apenas colher, tal como uma manga ou uma goiaba é colhida. É preciso entender que árvores podem ser colhidas, necessitamos destas para o nosso desenvolvimento. Agora um gas que de natural só tem o nome, e que leva milhoes de anos para forma-se. Onde o uso deste só faz com que as petroleiras ampliem suas riquezas e concentre renda. Usar lenha é uma forma de distribuir renda. O uso da lenha não deve ser um crime, crime é a forma de exploração, exploração sem plano de manejo florestal, ou mesmo sem formação de novas florestas energéticas.

Enquanto uma árvore no Brasil, leva de 4 a 35 anos para crescer a depender da espécie e a caatinga de 15 a 20 anos, a Amazonia de 35 a 50 anos, na Finlândia um ciclo levam de 60 a 120 anos. Cerca de 86% do território Filandes é coberto por florestas, e destes, apenas 21% são de plantios. Aqui quando se fala em floresta, os ambientalistas de asfalto defendem o plantio e nunca o manejo de florestas naturais, na contramão do que os finlandeses fazem. Aqui o potencial de crescimento tem que ser desprezado, pois é feio usar lenha e madeira. Bonito é utilizar o combustivel da moda, não é o que pensa 1 em cada 5 finlandês, dono de florestas.

Quanto ao item “C”,, existe uma celeuma social e ambiental, nenhuma árvore deve ser tomada para cristo. Porém, é o caso do eucalitpo. Nem sou contra tão pouco a favor do eucalitpo, sou contra aos plantios extensivos em monocultivos, a concentração de terra e a derrubada de florestas para plantio. Porém, entendo que quem planta feijão quer feijão, que planta milho quer milho, quem planta árvores quer madeira. E nesse campo, o bexiguento do eucalipto é extremamente eficiente. Lamentavelmente é a verdade.

Plantar espécies nativas é importante e legal, contudo, o conhecimento sobre os tratos culturais, desenvolvimento e comportamento destas no ambiente é infimamente pequeno em relação ao Eucalipto. Quem faz investimento deseja segurança e risco controlável. O Estado deveria investir mais em pesquisas e financiamento para plantio de espécies nativas, que estas também sejam plantadas em consórcio, do contrário provocam os mesmos maus do eucalipto e se não pior. Ninguém quer plantar uma árvore e esperar 30 anos para ter um resultado que não aconteça, é preciso segurança para quem planta e quem financia.

Quanto ao item “d” , é triste ver que a lenha uma fonte de energia renovável, seja substituida por uma fonte não renovavel. Lenha é energia renovável, suas emissões são compensadas quando provenientes de florestas manejadas (manejo florestal ou plantios).

Espero que o tal gás, tenha preços tão estaveis quanto à lenha, que consiga ser estável frente as oscilações cambiais. Pelo que sei os empresarios cansaram de investir em combustíveis fósseis, haja vista o gesso ser um produto de pouco valor agregado, e que o mercado não aceita oscilações bruscas. Os ditos combustíveis fósseis têm oscilações quanto ao cambio e por guerras por situações banais. Por outro lado, espero que os candidatos das petrolíferas procurem saber qual é o custo de calcinar uma tonelada de gesso com lenha, gás, glp, coque e diesel. Não esqueçam que essa cadeia produtiva gera 12 mil empregos diretos, e 60 mil indiretos numa populçao de 232 mil pessoas, e que 95% da produção de gesso do Brasil, saem do Araripe Pernambucano.

Lembro também aos candidatos, que já foi elaborado um Plano para Desenvolvimento Florestal do Araripe e que este precisa ser colocado em prática e não detonado ou mesmo no contrafluxo para o setor.

De forma geral, percebe-se que a lenha e o uso da caatinga são tratados como vilões ambientais, como algo a ser aniquilado e substituído. Estimados, a lenha é e deve ser um combustível para a geração de energia renovável. Contudo, o seu uso deve ser condicionado ao manejo florestal sustentável, uma técnica já utilizada há décadas no nordeste, e comprovadamente eficiente e de baixo impacto ambiental.

Não podemos desprezar a capacidade de crescimento de nossa vegetação, temos que aproveitar racionalmente, manejando nossas florestas e mesmo plantando, pois isso gera renda aos homens no campo, podendo ser uma fonte de renda complementar, sobretudo no período de estiagem.

Cristiano Cardoso Gomes é Engenheiro Florestal e Licenciado em Ciências Agrícolas pela UFRPE, atua como consultor para ONGs, organismos internacionais e órgãos governamentais nas áreas de avaliação de ganhos ambientais, desenvolvimento territórial, eficiência energética e sistemas agroecológicos.
e-mail: biomacaatinga{at}gmail.com

EcoDebate, 04/01/2011


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