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Pesquisa sugere que estrogênio, aplicado na reposição hormonal, pode diminuir incidência de tumores nas mamas

Câncer de Mama - Infográfico no Correio Braziliense.
Câncer de Mama – Infográfico no Correio Braziliense.

O estrogênio, que representa sério risco para o desenvolvimento de câncer nas mulheres quando produzido pelo próprio organismo, acaba de virar uma esperança de proteção. Cientistas descobriram que, se aplicado na reposição hormonal, pode diminuir incidência de tumores nas mamas

Estrogênio, ex-vilão, vira esperança para proteção contra o câncer de mama Todos os anos, o câncer mata mais no mundo do que a Aids, a tuberculose e a malária juntas. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, em menos de uma década, 30 milhões de vidas foram perdidas para a doença. Entre as mulheres, a maior incidência refere-se às neoplasias na mama, que, neste ano, somaram mais 49.240 casos novos no país. A boa notícia é que, cada vez mais, surgem pesquisas promissoras, que trazem esperança de melhores tratamentos e, até mesmo, da cura da doença.

Uma das principais novidades sobre o câncer de mama foi apresentada na segunda semana de dezembro, durante a reunião anual da Associação Americana para Pesquisa sobre o Câncer (AACR, sigla em inglês). Surpreendentemente, o hormônio estrogênio, largamente conhecido na literatura médica por ser um fator de risco carcinogênico, pode, na verdade, proteger as mulheres contra o tumor maligno. Embora a forma endógena do hormônio, ou seja, aquela produzida pelos ovários, tenha ligação com o aparecimento do câncer, quando ingerido durante a terapia de reposição hormonal, ele diminui os riscos da neoplasia. Reportagem de Paloma Oliveto, no Correio Braziliense.

“Nossa análise sugere que, ao contrário do que se imaginava, há um valor substancial em utilizar o estrogênio na terapia de reposição hormonal. Os dados mostram que, para determinadas mulheres, ele não é apenas seguro, mas potencialmente benéfico contra o câncer de mama, assim como para outros vários aspectos da saúde feminina”, disse ao Correio o pesquisador Joseph Ragas, oncologista da Faculdade de Medicina da Universidade de British Columbia, no Canadá.

Ragaz e outros pesquisadores reviram e analisaram dados de um estudo epidemiológico realizado entre mulheres que faziam testes de reposição hormonal. O objetivo desse estudo, o Women’s Health Initiative (WHI), é prevenir doenças cardíacas, câncer de mama e colorretal e fraturas em mulheres na pós-menopausa. Ele foi lançado em 1991 e inclui dados de aproximadamente 161 mil mulheres entre 50 e 79 anos. “Nas últimas três décadas, a terapia de reposição hormonal tem sido usada quase que indiscriminadamente por mulheres que esperam melhorar a qualidade de vida de forma geral. Originalmente, os resultados do WHI, porém, sugeriam que a terapia não fazia bem à saúde”, recorda Ragaz.

Incidência menor
O estudo é formado por dois grupos de mulheres: as que não têm útero e tomam apenas estrogênio e aquelas que não retiraram o órgão e fazem terapia com estrogênio e progestina (hormônio sintético). Ragaz reavaliou os dados do WHI detalhadamente e descobriu que as voluntárias sem histórico familiar de câncer de mama que receberam apenas o estrogênio tiveram uma redução significativa — mais de 70% — na incidência da doença. “Essa redução é uma nova descoberta, porque o estrogênio sempre foi associado à alta incidência do câncer de mama, mas agora sabemos que, administrado de forma exógena (sem ser produzido naturalmente pelo organismo), ele é, na verdade, um protetor”, diz.

De acordo com o médico, são necessários mais estudos para determinar o tratamento ideal, definir o perfil de mulheres beneficiadas e entender melhor o mecanismo do hormônio no processo de prevenção do câncer de mama. “A recomendação baseada nas análises anteriores do WHI era a de não fazer terapia de reposição hormonal, mas acredito que isso vai mudar”, diz Ragaz, enfatizando que é preciso realizar outras pesquisas antes de prescrever o estrogênio.

Outra forma de reduzir um tipo de câncer de mama, o HER-2 positivo, considerado um dos mais agressivos, também foi descrita na reunião da Associação Americana para Pesquisa sobre o Câncer. Segundo o Centro de Câncer do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, a combinação de três substâncias já aprovadas e existentes do mercado melhorou a resposta do tumor, comparando-se à ação dessas drogas sozinhas. O principal autor da pesquisa, José Baselga, chefe da divisão de hematologia e oncologia do hospital, conta que dados iniciais indicam uma taxa de remissão total de 50% — o índice foi de 20% nas mulheres que tomaram apenas uma das substâncias.

“Já havia sido sugerido em pequenos estudos clínicos que a combinação de lapatinibe, trastuzumabe e paclitaxel seria mais efetiva que cada uma dessas drogas sozinhas, mas essa é a primeira vez que provamos isso em uma pesquisa de larga escala”, disse Baselga ao Correio.

A “chave”
Na área de pesquisas que podem levar ao desenvolvimento de novos tratamentos, o destaque de dezembro foi um estudo publicado na revista especializada Cancer Research. Cientistas do Centro de Câncer Kimmel da Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos, finalmente conseguiram provar uma antiga suspeita: a de que inflamações nas mamas são a chave do desenvolvimento e da progressão do câncer. Em uma experiência feita com ratos de laboratório, eles demonstraram que os processos inflamatórios dentro das mamas promovem o crescimento das células cancerígenas, responsáveis pelo aparecimento do tumor. Eles também demonstraram que, ao desativar a inflamação, é possível evitar o câncer.

“Pela primeira vez, um estudo mostra que, ao desativar o padrão inflamatório NFKB (substância que promove a inflamação nas células), o tecido epitelial da mama bloqueia a deflagração e a progressão do câncer em animais vivos”, disse ao Correio Richard G. Pestell, um dos diretores do Centro de Câncer Kimmel. Segundo o pesquisador, foi possível descobrir como o NFKB age no processo cancerígeno. Ele diz que tudo começa com uma alteração na expressão da proteína HER2, responsável pelo crescimento das células epiteliais, que fazem parte do tecido mamário. Esse defeito leva à ativação do NFKB, que tenta consertar o erro promovendo uma inflamação. O problema é que, dessa forma, ele acaba também desencadeando o crescimento de tumores.

O perigo do excesso
HER-2 é um gene que produz uma proteína de mesmo nome. As células mamárias possuem duas cópias desse gene. Em algumas portadoras de câncer de mama, há um excesso de HER-2, o que contribui para o crescimento desenfreado das células. Uma em cada cinco pacientes de câncer de mama metastático, ou seja, que ocasiona metástases, é HER-2 positiva.

EcoDebate, 29/12/2010

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