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2010, Movimentos sociais. A agenda esquecida e a agenda emancipatória

A agenda esquecida
A agenda emancipatória

Movimento social. A agenda esquecida, as lutas e a agenda emancipatória

Os movimentos sociais vivem uma profunda crise e estão longe de exercerem o protagonismo dos anos 1980 e 1990. O “imaginário de transformação social” que embalou os principais movimentos sociais e as principais lutas nos anos 1980 se perdeu. A convicção de que a realidade pode ser transformada, originário do “comunitarismo” de décadas passadas, perdeu a sua força e o encantamento com a política reduziu-se de forma significativa.

Porém, mesmo assim e apesar de sua fragilidade, os movimentos sociais continuam sendo uma referência importante na consciência crítica dos modelos em curso na sociedade e, ao mesmo tempo, estão na dianteira do processo civilizatório, ou seja, são eles que chamam a atenção para os novos temas a serem enfrentados, como a crise ecológica abordada no início desse texto.

A análise do movimento social, suas reivindicações, lutas e contradições sempre foi uma preocupação central nas ‘Conjunturas da Semana’ elaboradas pelo CEPAT/IHU. Não foi diferente em 2010. Ao longo do ano procuramos destacar as reivindicações, lutas e contradições.

A agenda esquecida

Chamamos atenção nessa análise síntese do ano, a elaboração da ‘Conjuntura da Semana Especial. Movimentos sociais: Perspectivas e desafios’, na qual a partir da IHU On-Line n. 325 que tem como tema de capa os movimentos sociais foram entrevistados vários pesquisadores para analisar os movimentos sociais, suas perspectivas e desafios.

Em 2010, destacamos as principais lutas do movimento social e demos atenção particular para a chamada “agenda esquecida”, ou seja, temas que foram relegados a um segundo plano em função das opções do modelo neodesenvolvimentista, analisado anteriormente.

Destacamos em nossas análises, como temas da ‘agenda esquecida’, a questão agrária (reforma agrária, revisão dos índices de produtividade, limite para a propriedade da terra, a problemática dos agrotóxicos, trabalho escravo); a questão indígena (particularmente a luta do povo Guarani-Kaiowá) e a questão ambiental (luta contra as barragens, resistência aos grandes projetos de infraestrutura – sobretudo os de corte de matriz energértica, oposição ao código florestal, entre outros).

Elaboramos ainda uma Conjuntura especial acerca do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra levado a cabo pelos movimentos sociais em 2010.

Destacamos três eventos importantes do movimento social em 2010: A realização do encontro nacional da Assembleia Popular, a assembleia nacional da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. Essas três iniciativas organizadas pelo movimento social tiveram como conteúdo principal formular propostas para um Projeto para o Brasil tendo em vista as eleições de 2010.

Outra reflexão constante em nossas análises foi a relação do movimento social com o governo trazendo à tona o permante debate da autonomia versus cooptação, assim como as perspectivas do movimento social na relação com o futuro governo Dilma Rousseff.

A agenda emancipatória

Trouxemos ainda à tona a reflexão sobre os “novos movimentos sociais”, ou seja, a percepção de que a novidade na proposição de uma agenda emancipatória, que leva em conta a crise civilizacional, vem, sobretudo, dos movimentos indígena, ambientalista, de gênero e anti-globalização. Em nossa análise, esses “novos movimentos”, entre outros, sugerem que no interior da crise já se gestam alternativas que indicam que “outro mundo é possível”. Esses novos movimentos manifestam uma “metamorfose” em curso: “Tudo recomeça por uma inovação, uma nova mensagem desviante, marginal, pequena, muitas vezes invisível para os contemporâneos”, como diz Morin.

Destacamos em nossas análises que os novos movimentos sociais auxiliam na compreensão de que a chave de saída da crise encontra-se, sobretudo, e cada vez mais na categoria cultura. Frente ao “sujeito” da primeira modernidade, assiste-se à emergência da “subjetividade”. Frente aos temas da política e da economia, emerge o tema da cultura. Segundo Alain Touraine, hoje “as mudanças são tão profundas que nos levam a afirmar que um novo paradigma está em vias de substituir o paradigma social, assim como este tomou o lugar do paradigma político”. As categorias sociais da sociedade industrial, da primeira modernidade, tornaram-se insuficientes para a compreensão da sociedade de hoje.

Com a modernidade, surge o conceito da autonomia, o direito de recusa daquilo que sempre foi considerado como natural e de conceder-se sua própria lei – o primado do individualismo: “a liberdade de cada um imprimir sua exterioridade com o selo de sua individualidade para nela poder reconhecer-se e fazer-se reconhecer”, afirma Monod. A modernidade caracteriza-se pelo protagonismo do sujeito. A novidade agora, na segunda modernidade, ou pós-modernidade, é o fato da subjetividade “substituir” o sujeito. Agora, os interesses próprios, subjetivos, são o que irrigam a maior parte da cultura cotidiana.

Atente-se, porém, que a nova subjetividade apresenta também aspectos emancipatórios. É nessa outra subjetividade que aos poucos vai se constituindo que surgem as novas resistências. Basta pensar aqui nos novos movimentos sociais, nas redes sociais, no movimento ambientalista, nos movimentos de expressão cultural, nos movimentos de gênero, no movimento antiglobalização. A “subjetividade” que substitui o “sujeito” não é necessariamente negativa. Se por um lado, exacerba os imperativos do mercado, por outro, podem também ser resistência a ele. A subjetividade da segunda modernidade pode se traduzir em biopolítica.

A biopolítica é uma resposta ao biopoder, destaca Antonio Negri, àquilo que escapa a imposição da sociedade produtivista-consumista. É a idéia de uma produção de poder a partir do poder que se exerce. Possibilita “uma resposta biopolítica da sociedade: não mais os poderes sobre a vida, mas potência da vida como resposta a esses poderes; em suma, isso abre à insurreição e à proliferação da liberdade, à produção de subjetividade e à invenção de novas formas de luta”.

Conjuntura Especial. Uma síntese dos grandes temas abordados em 2010
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=39484
O Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, ao longo de 2010 produziu análises da conjuntura semanais a partir da (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU e da revista IHU On-Line publicada semanalmente. Como fecho do trabalho desse ano, apresentamos uma Conjuntura Especial que retoma os grandes conteúdos abordados pelas conjunturas semanais no ano de 2010.

(Ecodebate, 23/12/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]


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