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Famílias com rendimentos menores compram mais arroz e feijão e famílias com mais renda consomem mais gorduras

Embora tenham perdido participação no prato dos brasileiros de uma forma geral, o arroz e o feijão são mais consumidos por famílias com rendimentos menores. Enquanto nos domicílios em que a renda supera R$ 6.225, a média de aquisição do arroz por pessoa foi de 18,5 quilos por ano, entre as famílias que ganhavam até R$ 830, ela chegou a 27,6 quilos, ou seja, 33% a mais. No caso do feijão, as famílias com rendimento médio anual mais baixo compraram 10,3 quilos por pessoa em um ano, 29% a mais do que aquelas com renda superior, que adquiriram 7,3 quilos no mesmo período.

Esses alimentos foram os únicos, entre os selecionados, que apresentaram nas faixas mais baixas de rendimento médias de aquisição maiores do que as relativas ao total do Brasil (26,4 quilos para o arroz e 9,1 quilos para o feijão), conforme aponta o suplemento Aquisição Domiciliar per Capita, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. O levantamento, divulgado ontem (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avalia as quantidades de alimentos adquiridas pelas famílias brasileiras para consumo domiciliar e as formas dessa aquisição.

Para o auxiliar de serviços gerais José Gomes, mesmo quando não dá para garantir uma alimentação muito variada em casa, a dupla arroz e feijão não pode faltar no prato da família, principalmente por causa dos filhos.

“Lá em casa, arroz e feijão não faltam. Graças a Deus meus filhos sempre tiveram para comer. Pode faltar outra coisa, não ter aquela variedade toda, mas o arroz e o feijão dão saúde”, afirmou.

O estudo revela, por outro lado, que alguns produtos têm diferenças muito significativas entre as classes, sendo as de rendimento maior responsáveis por grande parte da aquisição. É o caso das bebidas alcoólicas, cuja compra por famílias com renda acima de R$ 6.225 supera em 799% a aquisição de famílias que ganham até R$ 830. O mesmo ocorre com alimentos preparados e misturas industriais (514%), bebidas não alcoólicas (401%), iogurte (379%), frutas (316%), leite de vaca pasteurizado (246%) e hortaliças (187%).

Famílias com mais renda consomem mais gorduras e menos carboidratos

As famílias com rendimentos mais elevados tendem a consumir mais gorduras e menos carboidratos. A contribuição mínima de 55% de carboidratos para as calorias totais, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), não é cumprida para aquelas que ganham a partir de 15 salários mínimos, cerca de R$ 7,6 mil. Além disso, cerca de 30% dos carboidratos da dieta nessa classe de renda correspondem a açúcares livres, que são açúcar de mesa, rapadura, mel e açúcares adicionados e alimentos processados.

A constatação é do suplemento Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. O levantamento divulgado hoje (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avalia a qualidade nutricional dos produtos disponíveis para alimentação no domicílio, em termos de participação no consumo de calorias, carboidratos, proteínas e gorduras.

No caso das gorduras, o limite máximo de 30% das calorias totais é ultrapassado a partir da classe com rendimento mensal superior a seis salários mínimos (cerca de R$ 3 mil).

O estudo também aponta que o teor de proteínas na dieta tende a aumentar com os rendimentos, mas permanece dentro do parâmetro entre 10% e 15%, recomendado pela OMS em todas as classes. A proporção de calorias proteicas de origem animal, que têm maior valor biológico, tende também a aumentar com a renda, mas não foge à recomendação de representar pelo menos 50% de todas as proteínas.

O documento do IBGE também traz uma lista com os produtos cuja participação no consumo aumenta na mesma proporção em que sobem os rendimentos. Entre eles estão o leite e seus derivados; as frutas, as verduras e os legumes; a gordura animal; as bebidas alcoólicas e as refeições prontas.

Por outro lado, os alimentos que são menos consumidos na medida em que os rendimentos sobem são os feijões e outras leguminosas; cereais e derivados, principalmente o arroz; além de raízes e tubérculos, especialmente a farinha de mandioca.

O levantamento também aponta que há redução no consumo do açúcar de mesa e aumento no de refrigerantes conforme a renda aumenta; além de elevação no consumo da carne bovina e de embutidos na medida em que se ganha mais; e redução ou estabilidade para os outros tipos de carne.

A empregada doméstica Maria do Socorro Silva diz que não é sempre que pode comprar carne bovina. Ela conta que só leva o produto para casa quando o marido consegue trabalho.

“Ele é auxiliar de obra e nem sempre está trabalhando. Quando fica sem receber, a gente vai comendo frango, ovo, macarrão. Mas quando entra um pouco a mais, passo logo no mercadinho e compro uma peça de chã, que é a minha preferida”, afirmou.

Ainda de acordo com o estudo, o brasileiro está comendo cada vez mais fora de casa. Entre os anos de 2003 e 2009, a disponibilidade diária per capita média de alimentos para consumo no domicílio caiu de 1.791 calorias para 1.610 e os gastos com alimentação na rua subiram de 24,1% do total das despesas com alimentação para 31,1% nesse mesmo período.

Reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/12/2010


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