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Artigo

Dúvidas sobre a degradação do meio ambiente? artigo de Maurício Gomide Martins

[EcoDebate] Há pessoas que ainda duvidam que esteja havendo uma degeneração nos meios de vivência do planeta, tendo como causa, origem, agente, responsável, a ação materialista antropogênica moderna. Alegam que essa visão negativista se fundamenta em informações científicas equivocadas ou alarmistas, e que esses sinais climáticos atuais de transtorno são naturais e cíclicos. Que os estudos geológicos nos indicam a Terra já ter passado, nos últimos 500 milhões de anos, por pelo menos cinco períodos graves de extinção maciça da vida e se recomposta normalmente com seus próprios recursos.

Não nos preocupamos com o planeta em si, que ele sabe perfeitamente se defender, expulsando de sua convivência essa espécie humana tão irresponsável e ingrata. Nossa atenção está voltada justamente para que esse animal, qualificado como racional, inteligente, acorde para a situação de calamidade para a qual nós mesmos criamos.

Pois bem, ignoremos completamente todas as descobertas e conhecimentos científicos obtidos até o momento, porque já foram impregnadas inapelavelmente por interesses mercantis. Apaguemos de nossa mente os estudos fantásticos feitos pela geologia, pela paleontologia e áreas afins, com suas dúbias interpretações feitas por renomados mestres. Abstenhamo-nos de todos os conhecimentos obtidos pela observação e registro de longas gerações humanas, trazidas até nós pela cultura dos registros do conhecimento.

O que restará? Somente a inteligência, esse prodígio biológico evolutivo e recurso fantástico de autonomia e conscientização. Por ela, fica à nossa disposição esse fantástico e exclusivo recurso mental do raciocínio lógico. Por este valioso instrumento, adquirimos a capacidade que outros seres vivos não têm: a de observar, comparar, avaliar, refletir e, finalmente, deduzir. Pela dedução, passamos a conhecer um tipo diferente de luz que nos guia pelos caminhos da vida, enriquece o espírito e nos faz enxergar o que os olhos não mostram.

Deduzir é um fenômeno reprodutivo, isto é, tem a propriedade de nos fornecer elementos que vão sustentar e alimentar outros fenômenos mentais, tais como a indução, a ordenação, e propiciar o afloramento dos reflexos ou conseqüências: intuição, reflexão, conclusão. Diga-se, por oportuno, que essas ferramentas mentais foram o nascedouro da ciência, outrora frágil e sem nome. Sem esse jogo mental, o “homo sapiens” – maior predador mundial – não teria surgido, as leis evolucionárias não teriam sido contrariadas pelas tecnologias médicas, e o paraíso terrestre não teria sido corrompido.

Pois bem. Para perceber e se conscientizar do estágio em que nos encontramos na História, basta lançar mão de alguns argumentos lógicos, claros e evidentes para todos, prescindindo de todas as informações científicas.

Dispomos, atualmente, dos dados estatísticos do PIB mundial, sempre anunciados com satisfação e sorrisos como notícias grandiosas, como se fossem galardões. A China crescerá economicamente, em 2010, à taxa de 9%; o Brasil, à de 7%. No mundo, a média será de 2,3%. Nos anos anteriores houve desenvolvimento positivo – crescimento – nesses países e no mundo. Desde a grande revolução industrial do século XVIII, em ritmo geométrico, o mundo só faz crescer, estufar. Os recursos naturais do planeta, que se recompõem lentamente – ao compasso cósmico -, não suportam esse ritmo e já estão desfalcados em 40%. Em outras palavras: o exuberante planeta está se tornando anêmico pela ganância materialista de seus filhos, ditos racionais.

E a faina de cupidez, insaciável pela sua própria doentia motivação, continua a crescer. A população mundial cresce, o consumo supérfluo ou de conforto cresce, o capital monetário cresce. As atividades industriais, que nos trazem envenenamento para o meio ambiente, também crescem, provocando crescimentos gerais. No aspecto material, tudo cresce. Até quando, ó ingênuos?

As fábricas de automóveis crescem, e o espaço das ruas e estradas não acompanha esse inchaço. As de aparelhos eletrodomésticos, televisores, celulares e quinquilharias, modernos e atrativos, a que os indivíduos passam a desejar em substituição aos fora de moda de ontem, e que se transformam em lixo, também crescem, crescendo o lixo indestrutível. Até quando, ó não-pensantes?

Os meios de pagamento e créditos abundantes, cuja função deixa de ser social para ser econômica, sustentam o consumo contínuo e rápido, acompanhando e estimulando mais crescimento generalizado. E essas atividades estúpidas fazem crescer incessantemente o envenenamento das águas, atmosfera e terra; enfim, os meios de vivência dos seres vivos. Até quanto, ó insensíveis?

Alguém já viu ou teve notícia de algo que crescesse indefinidamente? Sem parar? Sem limite? Não existe. Na Natureza, o desenvolvimento, o progresso, o crescimento são feitos até atingir o seu predeterminado objetivo. Não vemos bactéria com volume de 1 km, nem humano com altura de 40 metros. Nem elefante do tamanho de uma mosca. Uma bola de futebol com raio de 60 metros seria uma aberração para o fim a que se destina. Tudo tem seu específico limite. Por que o crescimento econômico, predatório e suicida, tem que continuar mesmo sabendo-se que já ultrapassou em 40% a capacidade do planeta? Uma colônia de bactérias infectantes em um individuo cresce, cresce, e vai crescendo satisfeita e feliz. Essa felicidade festiva vai somente até que o limite-sustentável seja atingido pela morte do hospedeiro, o que ocasiona a falência de toda a comunidade. E a comunidade humana almeja crescer sempre, sem parar. Até quando, ó racionais?

Faz parte do sistema econômico vigente, construir um condicionamento mental para consumo de bens materiais, enquanto planeja e executa a destruição ou imobilização das energias espirituais de que os indivíduos possuem ao nascer. Citamos apenas que as escolas transmitem conhecimentos voltados para a melhoria do desempenho econômico. Põe o homem, inconscientemente, a seu serviço, destruindo dessa forma as potencialidades de criação livre que habitam, por natureza, o espírito e a mente sã. O sistema econômico vigente está desnaturando o homem. Até quando, ó inertes?

Nossas potencialidades mentais são tão poderosas que não necessitam de informações científicas para ver, enxergar, perceber, sentir, notar, compreender, pressentir que estamos destruindo nosso próprio meio de existência. E isso equivale a um suicídio em grande escala; talvez total. Até quando, ó inconscientes?

As dúvidas que ainda habitam a alma de diversas pessoas podem ser eliminadas de vez com os próprios recursos mentais e espirituais. A vida é riquíssima em suas facetas multiformes. Despertem por esforço próprio para a capacidade de visitar e conhecer as belezas dessas facetas que a natureza nos oferece de graça, diferentes das que estão acostumados a ver nas vitrines do comércio corrompido. Não continuem a ser escravos do sistema econômico. Até quando, ó aprisionados?

A população mundial, agente, base, sustentáculo e causa única dessa anomalia geológica, poderá continuar crescendo? Até quando, ó adormecidos?

Não tenham dúvidas; tenham certezas, ó leitores.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 16/12/2010


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