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Artigo

Eleições 2010: O que está em questão realmente? artigo de Luciane Costa e Silva

Uma rápida análise abordando Eleição, Política Econômica, Política Social, Desigualdade e Aborto.

[EcoDebate] Uso meu blog, para replicar notícias que considero importantes. Sempre penso que as pessoas têm que ter as informações, para tirarem suas próprias conclusões. Mas hoje, diante de tanta picaretagem e o uso indiscriminado do audiovisual para promover uma campanha terrorista contra as candidaturas voltadas para o social é preciso continuar a luta na formação de opinião.

Vejo meus amigos defendendo seus interesses particulares. Vejo o uso da mídia e da religião como arma política de campanha baixa. Então preciso me colocar, porque não dá mais para ficar deixando que as pessoas sejam arrastadas pelas propagandas midiáticas e pelo egoísmo.

Eu tive a oportunidade de dizer em outro “post” que a brava campanha anti-PT da mídia se dá por dois motivos: primeiro por conta da DERROTA dos destaques ao Projeto de Lei 029, que trata das cotas de produção audiovisual nacional independente nos espaços televisivos da TV fechada. Discussão derrotada no final do ano passado na Comissão de Ciência e Tecnologia, que seguiu adiante para o Congresso, sem mudanças substanciais. Em segundo lugar, as argumentações contra as idéias das Classificações Indicativas, alegando inclusive que quem tem que educar são os pais, portanto, cabe a eles escolher o que seus filhos devem assistir. Minhas argumentações sobre isso estão em outro “post” e esses são dois dos principais motivos de questionamento da grande mídia PIG, como argumento para o tal autoritarismo contra a “liberdade de expressão”.

Infelizmente nossa população discute política sem nenhuma base teórica ainda, porque não faz parte da nossa educação fundamental pensar em como se deu a construção política no nosso país. A educação formal é meramente a reprodução do sistema atual (segundo Bourdieu in Barros).

Modelos Econômicos
Precisamos ver o que está realmente em jogo aqui: trata-se de uma discussão econômica, meramente econômica, para os defensores da vertente liberal, onde os mercados se regulam entre si a partir da relação oferta x demanda. A vertente do Estado Mínimo, no qual ao Estado cabe apenas aquilo que não é interessante para o mercado.

Nós tivemos essa experiência nos anos 1990. As privatizações foram um esforço, na busca por esse Estado Mínimo, alegando que o Brasil precisava se “desinchar”, para investir no que realmente era importante. Esse discurso não nos apresentava os reais motivos. Vejam na internet o que foi o Consenso de Washington.

O Consenso de Washington foi o resultado de uma reunião entre governantes da América Latina, na capital estadunidense, com diversos organismos financiadores, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, além do governo dos EUA, dentre outros, que a partir de análises feitas pelo economista John Williamson (feitas para um contexto específico, como forma de contribuição para o enfrentamento do inchaço econômico da Europa e dos EUA, fruto de uma política intervencionista keynesiana, vivida no pós segunda guerra) estipularam 10 pontos “consensuais” para que esses países pudessem enfrentar a crise da falta de condições de financiamento, da divida externa, etc.

Essas condições eram “sine qua non” para empréstimos por esses próprios organismos financiadores. Note a repetição e redundância nesse texto é proposital, para enfatizar as imposições (condições “consensuais”) àqueles países, que precisavam de dinheiro para alavancar a única forma de desenvolvimento que conheciam: a industrialização.

As privatizações do Governo Fernando Henrique foram fruto dessas imposições, tratava-se de abertura ao capital estrangeiro; de desinchaço da máquina pública. Foi assim que, por exemplo, as privatizações não concluídas do Sistema Eletrobrás, com o agravamento da falta de chuvas, causaram o apagão de 2001.

Deixe-me explicar. Segundo Ildo Sauer (2003) e Nivalde e Fernandes (2007) o apagão foi consequência da falta de planejamento quando das privatizações. Privatizaram o sistema elétrico, mas não pensaram em como atrair investimentos para um país social e ambientalmente tão rico, quanto delicado de se investir. Dessa forma, os investimentos na geração não vieram, com o agravo da falta de chuvas não fica difícil compreender o apagão de 2001.

É essa política de intervenção mínima a proposta do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Portanto, ao eleger Serra, não estamos elegendo uma pessoa apenas, mas um conteúdo por traz dele, uma ideologia de intervenção mínima, intervenção compreendida inclusive como o esvaziamento do papel do Estado no planejamento e nas diretrizes, que nosso país seguirá.

Nós vimos o que essa intervenção mínima causou nos EUA. Vimos através da crise que começou no mercado imobiliário em 2006 e terminou com a crise dos grandes tomadores de crédito – os grandes bancos americanos. Vimos o socorro que o presidente Obama teve que prestar sobre pena de quebrar toda a economia daquele país. Vimos que no primeiro ato de regulação econômica os mesmos socorridos correram com seus lobistas no congresso estadunidense, para questionar tal intervenção, alegando novamente em causa da livre concorrência. Está comprovadamente explicitado, por experiência em diversos pontos do mundo, que essa proposta de livre mercado não funciona. Não gera emprego e distribui renda. É preciso o Estado regulando essas relações, como o grande planejador de tudo isso em parceria com a iniciativa privada.

A proposta do candidato tucano – da intervenção mínima – usando o caso da energia, como exemplo, é contrária ao MME, ANEEL, ONS, EPE, CCEE, etc, atuando como pensadores, operadores, pesquisadores do Setor de Energia. Isso é um inchaço nas atividades do Estado e emperra, segundo esse modo de pensar, as relações mercadológicas que podendo atuar livremente se equilibrariam de forma mais saudável. Foi isso que a gente viu? É isso que a gente quer?

Por outro lado, eleger Dilma, significa continuar com um projeto keynesiano adaptado ao Brasil. Não puramente keynesiano, onde o Estado injetaria sozinho dinheiro na economia, onde a iniciativa privada não tem interesse. Mas uma política econômica em parceria com o setor privado, onde a própria forma como se deram as relações mostrou segurança do setor privado para investir no Brasil. Tanto é assim que foi ao Brasil que fugindo da crise internacional vieram os investimentos. O Brasil foi o último país a entrar na crise e primeiro país a sair dela.

Bolsa Família
Recebi muitos e-mails incentivando, em nós da classe média, o racismo, alegando sermos os mais penalizados pelo programa “Bolsa Família”, uma vez que é de nossos salários (IRPF) que saem esses investimentos. É nessa hora que faço uma análise religiosa muito pessoal, que talvez só sirva a mim e segundo os ensinamentos da minha religião, que é Cristo. Não tem pastor, padre, pai de santo, dirigente de grupo, que me faça pensar diferente do que meu Cristo pregava: o amor. Como cristã, sou grata a Deus por não precisar de Bolsa Família, de R$40,00 por criança, para me alimentar. Sou grata por ter podido contribuir minimamente, para que meus irmãos tenham o mínimo, para poder ter forças, para continuar a procura de trabalho.

Quanto à corrupção e a esse dinheiro não chegar à mesa de muitas pessoas. O que tenho a dizer é que isso é outra discussão. A esses corruptos temos que cobrar, temos que continuar lutando pelo combate à corrupção, que agora aparece por todos os lados, como se nunca tivesse existido, mas na verdade é que novos mecanismos deram mais transparência ao processo dos gastos públicos, permitindo que vejamos os maus usos. A corrupção não pode ser usada como pretexto, para a inviabilidade das políticas sociais e de distribuição de renda direta.

Desigualdades Sociais
Por meio de um trabalho voluntário eu acompanhei brevemente no início do ano cerca de 50 famílias aqui de Porto Velho (RO) beneficiadas pelo BF, pessoas com no mínimo três filhos, de baixa escolaridade, que tinham sequer vasos sanitários em suas casas. Eu, nascida e criada em Niterói no Rio de Janeiro, não sabia que ainda existia pobreza extrema assim. Sabia dos números, mas há muito não via isso. Eu não posso ser a favor de um programa de governo que volte às convicções cepalinas e fale do Brasil em números como se pessoas não vivessem aqui. É por isso, que eu voto na DILMA 13, porque suas propostas representam a continuidade com programas de distribuição de renda direta que deu certo.

Basta ver os estudos do IPEA que apontam a redução da pobreza, a ascensão das Classes C e D. Eu não posso ser egoísta e não reconhecer o benefício, para essas pessoas. Eu poderia ficar aqui escrevendo laudas e laudas explicando como se deu a Industrialização no Brasil, a acumulação de capital no Brasil. Sempre a custas das camadas mais pobres, desde os anos 1920, a custas de muito arrocho e congelamento salarial. Poderia ficar também discutindo a questão religiosa do Aborto. Mas o que os religiosos não enxergam é Jesus na causa.

O Aborto
Deus é contra o pecado (atitudes movidas ao orgulho, egoísmo, etc.), mas nunca contra o pecador. O debate do aborto é muito intenso. Minha religião é expressamente contra o aborto. EU TAMBEM SOU, A DILMA TAMBÉM É.

O que os intelectuais religiosos não querem ver é que a discussão não é a favor do aborto, mas de dar proteção às mulheres que se submetem a essa escolha.

Penso que as mulheres que “escolhem” esse caminho o fazem por sentirem-se sem saída. NÃO VÃO DEIXAR DE FAZER PORQUE A LEI PROIBE. É muito mais profundo que isso. É LIVRE ARBITRIO. Vão continuar fazendo e a gente fingindo que não existe, que não vê, dizendo que não pode. Muitas mulheres MORREM por conta da nossa CEGUEIRA SOCIAL e MORAL. Fico pensando o que Jesus faria??? Tenho certeza de que ele não atiraria a primeira pedra, como estamos sempre prontos a fazer. Tenho certeza de que ele é contra o aborto. Para nós espíritas tem uma implicação muito maior do que para os católicos, ou protestantes, porque acreditamos na reencarnação, no planejamento reencarnatório e o aborto tem consequências muito maiores, segundo o espiritismo, do que nas outras religiões, porque pode inviabilizar o planejamento reencarnatório e a vida de várias outras pessoas. Ainda assim, as pessoas não têm essa consciência e abortam. É livre arbítrio delas. É a expressão ainda de sua condição moral (para nós espíritas).

E o que fazemos diante disso? Às condenamos. Sem leis e com a proibição as clínicas são clandestinas. Verdadeiros matadouros. Famílias inteiras se desestruturam. Mães morrem. Sabem como funciona uma clínica de aborto?

Várias amigas minhas já fizeram e posso dizer: elas são primeiramente sedadas. Em 20 minutos o “procedimento” de coletagem está feito e elas são liberadas ainda sonolentas. Voltam para casa sem ficar em observação e caso tenham algum problema sofrem preconceito para ser atendidas na rede pública e muitas morrem. O material usado, as condições sanitárias, os profissionais que se prestam a esse papel não se conhece. A pergunta que faço é: por ser ilegal vai deixar de existir? O resultado é que não temos estatísticas, não sabemos nem do que estamos falando direito. Estamos condenando mulheres e famílias inteiras a essa degradação social, por querermos impor o que só diz respeito a cada ser individualmente. Cada ser individualmente vai responder por suas escolhas e pelas consequências dessas escolhas na vida de outras pessoas.

Podemos repensar essa realidade, se tivermos leis que as ampare, as faça refletir melhor, promova sustento àquelas que optarem pela gravidez e mecanismos para aquelas que realmente não queiram o bebê possam entregá-lo para a adoção, enfim, programas e políticas públicas para desvelar essa questão e tratá-la de maneira clara, sem panos quentes, sem fingir que não existe, sem mais mortes em matadouros clandestinos. Acredito que aí sim estaremos então seguindo na luta por um país melhor, para todos.

Basta de hipocrisia.

Para mais esclarecimentos ver também:

Barros, Cesar Mangolin de. Ideologia, política e educação. http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/mangolin-ideologia-poltica-e-educacao-2009.pdf

Terrorismo Religioso: http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/terrorismo-religioso-igreja

Há religiosos que conseguem se desvencilhar desses grilhões mentais: http://brasillivreedemocrata.blogspot.com/2010/09/posicionamento-do-pr-paschoal-piragine.html

Consenso de Washington: http://pt.wikipedia.org/wiki/Consenso_de_Washington

A mídia comercial contra Dilma e Lula: http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/a-midia-comercial-em-guerra

Sobre a mídia e o Gov. Lula, tirem suas próprias conclusões: http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/sobre-a-midia-e-o-gov-lula

O Estadão demitiu Maria Rita Kehl por seu texto “Dois Pesos”: http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/o-estadao-demitiu-maria-rita

Dois pesos… Maria Rita Khel: http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/dois-pesosde-maria-rita-kehl

PIG: http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_Imprensa_Golpista

CASTRO, Nivalde J. e FERNANDEZ, Paulo Cesar (2007). A Reestruturação do setor elétrico brasileiro: passado, presente e tendências futuras. XIX SINPTEE – Seminário Nacional de Produção de Transmissão de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, 14 -17 de outubro de 2007.

SAUER, Ildo. (2003). A Reconstrução do Setor Elétrico Brasileiro. ed. Paz e Terra UFMS Campo Grande/MS.
Ministério da Justiça: Campanha da Classificação Indicativa: http://www.youtube.com/watch?v=RNQWg_Ryo7E

Veja o que é censura para a elite, por eles próprios:

Veja sobre redução das Desigualdades Sociais em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/101005_comunicadoipea63.pdf
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,desigualdade-social-e-a-menor-desde-2002-aponta-ipea,413529,0.htm

* Artigo originalmente publicado em http://energiaesustentabilidade.ning.com/profiles/blogs/eleicao-politica-economica

** Luciane Lima Costa e Silva, Mestranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável

*** Colaboração de Luciane Costa e Silva para EcoDebate, 14/10/2010

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3 thoughts on “Eleições 2010: O que está em questão realmente? artigo de Luciane Costa e Silva

  • Dilma é a candidata da elite: Sarney, Collor, Renan, Maluf/Dornelles/PP, Lily Marinho/Globo e os maiores grupos do país, principalmente os bancos que nunca antes lucraram tanto neste país.
    Serra enfrentou a ira dos laboratórios multinacionais para criar o genérico, remédio acessível para a população carente. Tirando a retórica e e os sofismas próprios das universidades de elite, estarei eu enganado com os FATOS acima (fale mais alto, Luciane, porque seus ATOS berram bem mais). A Constitução, o Código Florestal e as leis e a liberdade de imprensa e de expressão são instituições burguesas que precisam ser desmontadas ou alteradas para garantir o domínio do Estado Total (big brother de “1984” disfarçado de keynesianismo)?

  • Entrega de terras a megadesmatadores nacionais e internacionais, inclusive 100.000 ha ao empresário chines Lu Weigang em terras indígenas (da União) em 2004 sob o beneplácito do governo Lula até hoje, os recordes absolutos de desmatamento no país, a entrega do monopólio do GNL (gás natural liquefeito) da Petrobrás aos americanos (através da joint venture Gemini) por parte de Dilma e Lula…
    Tudo isso é a mistura de capitalismo selvagem sem lei com roupagem “de esquerda”. Ainda dá tempo para mudarmos isso tudo no 2.o turno votando em Serra. É tempo de dar um basta na transposição do São Francisco, no desastre de Belo Monstro e na maior corrupção já perpetrada na história deste nosso sofrido país.

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