Eleições, lixo, debates e pesquisas, artigo de Aroldo Cangussu

‘Lixo’ pós-eleições. Foto ABr

[EcoDebate] Quando os astronautas americanos da Missão Apolo chegavam das suas viagens à Lua, na década de 60, eram recebidos em carros abertos e desfilavam pelas ruas e avenidas de Nova Yorque para serem aclamados pelo povo. Sobre eles desciam gigantescas chuvas de papel picado. Dizem as crônicas da época que, no dia seguinte, não havia o menor vestígio nas ruas de qualquer mísero pedacinho de papel que lembrasse o evento anterior.

Já agora, em 2010, aqui no Brasil, as eleições nos deixam um legado que nos remete para algumas reflexões, além do significado profundo de democracia, liberdade de pensamento e livre escolha dos governantes.

Lixo eleitoral: bueiros entupidos, montanhas de lixo acumuladas, poluição visual, incapacidade do poder público municipal de recolher os santinhos antes que eles sejam direcionados para os corpos de água e diversas outras mazelas que agridem o meio ambiente são lembranças do dia da eleição. Será preciso alguma atitude das autoridades e dos candidatos para evitar isto nas próximas campanhas. Tem que se impedir esse verdadeiro derrame de propaganda, atirado na última hora nas ruas, ao sabor do vento pelos cabos eleitorais, inundando de papel a cidade, as vilas, distritos e comunidades.

Outra herança desagradável dessas últimas eleições foram os debates entre os candidatos. Cheios de regras e entraves, engessaram o andamento das discussões e apresentação de propostas. Informações truncadas e pelas metades foram a tônica dos debates televisivos, não deixando ao telespectador/eleitor informações suficientes para a definição do seu voto. Acho que uma pequena abertura na legislação eleitoral será imprescindível para os próximos pleitos para permitir uma maior auto exposição dos candidatos.

Após a divulgação dos resultados, constata-se a disparidade entre o que previam as pesquisas e o que realmente aconteceu. Alguns exemplos são emblemáticos, como a ida para o segundo turno da eleição presidencial, que muitos davam como absolutamente improvável devido à popularidade do atual governo, mas que não foi suficiente para a vitória da sua candidata. Em outro caso, li em um jornal, no mesmo dia da eleição, que o candidato favorito ao governo do Espírito Santo tinha, aproximadamente, 62% das intenções de voto. Ele teve mais de 82% dos votos. Não sou estatístico nem conheço a metodologia das pesquisas, mas que elas precisam melhorar o índice de acerto, precisam.

* Aroldo Cangussu é engenheiro, ex-secretário municipal de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

EcoDebate, 14/10/2010

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