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Notícia

Pesquisa constata que estatinas não têm efeito preventivo

Droga para colesterol não previne morte de pessoas sem doenças cardíacas – Pesquisadores britânicos colocaram em xeque o uso indiscriminado de estatinas (remédios para diminuir os níveis de colesterol) por pessoas com colesterol elevado, mas sem doença cardíaca.

Revisão de 11 estudos constatou que o uso de estatinas como prevenção primária, nessas pessoas saudáveis, não reduz a mortalidade. Os resultados [Statins and All-Cause Mortality in High-Risk Primary Prevention] foram publicados na revista “Archives of Internal Medicine” [Vol. 170 No. 12, June 28, 2010].

Para chegar a essa conclusão, foram analisados dados de 65.229 pessoas: 32.623 tomaram estatinas e 32.606 receberam placebo. Depois de quase quatro anos, 2.793 participantes do estudo haviam morrido (1.447 dos que tomaram placebo e 1.346 do grupo que recebeu o remédio).

Segundo os pesquisadores, a diferença no número de mortes não tem relevância estatística e, por isso, comprovaria que as estatinas não têm efeito preventivo. Reportagem de Fernanda Bassette, na Folha Online, com informações complementares do EcoDebate.


Os voluntários que tomaram placebo tinham níveis de LDL (colesterol ruim) maiores do que os que tomaram estatinas e, mesmo assim, os índices de mortalidade foram semelhantes, conforme o estudo.

USO MASSIFICADO

É controversa a prescrição de estatinas para quem tem colesterol elevado, mas não tem doença cardíaca.

O assunto ganhou destaque em 2008, quando outro estudo sobre o tema demonstrou que essas drogas poderiam prevenir doença cardíaca em pessoas com colesterol baixo, mas com níveis altos de PCR (uma proteína que indica inflamação no corpo).

“As estatinas viraram a “pedra filosofal” do cardiologista. Há uma tendência de massificar a indicação. Os médicos prescrevem muito essas drogas, até fora das indicações clássicas”, diz Marcelo Ferraz Sampaio, médico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

Para José Rocha Faria Neto, diretor-científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia, a primeira providência para prevenir riscos cardíacos deveria ser uma mudança no estilo de vida, com dieta e prática de exercícios físicos.

“Estatinas não são para qualquer pessoa. Pacientes de baixo risco devem tentar reduzir o colesterol por pelo menos seis meses antes de tomar a medicação. Depois de iniciado o tratamento com remédio, é para a vida toda.”

OUTRAS CAUSAS

Apesar de o estudo ter demonstrado que as estatinas não previnem a mortalidade geral, os cardiologistas dizem que a pesquisa não avaliou, por exemplo, se as estatinas foram eficientes na prevenção de infarto, derrame e cirurgias cardíacas.

“Ainda existem muitas controvérsias sobre indicar ou não estatinas. Mas, como houve poucas mortes e não foi avaliado se houve menos desfechos cardiovasculares, fica difícil medir o impacto do tratamento”, pondera o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e diretor da unidade de lípides do InCor.

Sampaio concorda e diz que as estatinas são eficientes, quando indicadas corretamente. Para ele, os resultados demonstram que não se deve universalizar a indicação da droga.

“Temos que analisar com muito critério quais pacientes vão realmente se beneficiar com as estatinas, porque elas produzem efeitos colaterais, como dores musculares e até problemas renais.”

De acordo com Santos, as estatinas podem fazer a diferença, desde que o paciente tenha outros fatores de risco agregados. “Temos que individualizar o tratamento”, afirma o cardiologista.

Statins and All-Cause Mortality in High-Risk Primary Prevention
A Meta-analysis of 11 Randomized Controlled Trials Involving 65 229 Participants

Kausik K. Ray, MD, MPhil, FACC, FESC; Sreenivasa Rao Kondapally Seshasai, MD, MPhil; Sebhat Erqou, MD, MPhil, PhD; Peter Sever, PhD, FRCP, FESC; J. Wouter Jukema, MD, PhD; Ian Ford, PhD; Naveed Sattar, FRCPath

Arch Intern Med. 2010;170(12):1024-1031.

Background Statins have been shown to reduce the risk of all-cause mortality among individuals with clinical history of coronary heart disease. However, it remains uncertain whether statins have similar mortality benefit in a high-risk primary prevention setting. Notably, all systematic reviews to date included trials that in part incorporated participants with prior cardiovascular disease (CVD) at baseline. Our objective was to reliably determine if statin therapy reduces all-cause mortality among intermediate to high-risk individuals without a history of CVD.

Data Sources Trials were identified through computerized literature searches of MEDLINE and Cochrane databases (January 1970-May 2009) using terms related to statins, clinical trials, and cardiovascular end points and through bibliographies of retrieved studies.

Study Selection Prospective, randomized controlled trials of statin therapy performed in individuals free from CVD at baseline and that reported details, or could supply data, on all-cause mortality.

Data Extraction Relevant data including the number of patients randomized, mean duration of follow-up, and the number of incident deaths were obtained from the principal publication or by correspondence with the investigators.

Data Synthesis Data were combined from 11 studies and effect estimates were pooled using a random-effects model meta-analysis, with heterogeneity assessed with the I2 statistic. Data were available on 65 229 participants followed for approximately 244 000 person-years, during which 2793 deaths occurred. The use of statins in this high-risk primary prevention setting was not associated with a statistically significant reduction (risk ratio, 0.91; 95% confidence interval, 0.83-1.01) in the risk of all-cause mortality. There was no statistical evidence of heterogeneity among studies (I2 = 23%; 95% confidence interval, 0%-61% [P = .23]).

Conclusion This literature-based meta-analysis did not find evidence for the benefit of statin therapy on all-cause mortality in a high-risk primary prevention set-up.

Author Affiliations: Department of Public Health and Primary Care, University of Cambridge, Cambridge, England (Drs Ray, Seshasai, and Erqou); Department of Cardiology, Addenbrooke’s Hospital, Cambridge (Dr Ray); Department of Clinical Pharmacology and Therapeutics, Imperial College, and National Heart and Lung Institute, London, England (Dr Sever); Department of Cardiology, Leiden University Medical Center, Leiden, the Netherlands (Dr Jukema); and Department of Statistics (Dr Ford) and BHF Glasgow Cardiovascular Research Centre, Faculty of Medicine (Dr Sattar), University of Glasgow, Glasgow, Scotland.

EcoDebate, 17/07/2010

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