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‘Copa’ das árvores, artigo de Maurício Gomide Martins

Madeira apreendida pelo Ibama, em foto de arquivo
Madeira apreendida pelo Ibama, em foto de arquivo

[EcoDebate] Eu acho que, da mesma forma que há campeonatos mundiais, continentais, nacionais, regionais e locais de diversos tipos de esporte, durante praticamente todo o ano, também deveriam ser estabelecidos certames na prática de corte de árvores. Trata-se de excelente esporte que faz desenvolver as habilidades pessoais e constrói esplendoroso cenário para proporcionar ao povo um marcante e bonito espetáculo.

Sugiro que sejam estabelecidos campeonatos em diversas categorias, classificações e modalidades, tais como: para seniores e juniores; para profissionais e amadores; com machado, serra, motosserra, trator de esteira e parelha de trator-corrente. Está excluída a modalidade do fogo por ser altamente inconveniente, pois as cinzas podem sujar as cidades próximas e dificultar a visibilidade nas estradas e espaços aéreos.


A copa oficial, segundo critérios e regulamentos a serem estabelecidos por uma comissão permanente internacional e custeada pelos governos filiados que ainda possuem florestas, seria realizada de 4 em 4 anos, da mesma forma como outros certames internacionais. Entrementes, cada país participante providenciaria treinamentos e formação de profissionais, visando alcançar vitórias nas competições, ao tempo em que estariam glorificando os mais qualificados, elevando-os à posição de heróis. Seriam promovidas, com o estímulo dos governantes e por meio de Ministério a ser criado especialmente para essa finalidade, campeonatos locais, regionais e nacionais.

Os órgãos internacionais de incentivo à cultura se disporiam a contribuir com elevadas somas para o completo êxito das disputas. Os grandes aglomerados da indústria e comércio mundiais fariam também generosas contribuições, à guisa de publicidade, o que traria como retorno indireto gratificantes lucros adicionais.

Os instrumentos de divulgação, como as emissoras de rádio, televisão e jornais, editariam extensos e constantes informativos das atividades. Inseririam novas palavras, a ser criadas exclusivamente para o trato desse estimulante esporte, de tal forma que o povo fosse mobilizado emocionalmente e tivesse sua atenção sempre dirigida para os assuntos pertinentes a essa prática esportiva, tão importante para o desenvolvimento cultural e fortalecimento do sentimento patriótico.

Os participantes que se revelassem mais dinâmicos e habilidosos no corte de árvores seriam estimulados a ingressar em uma federação de profissionais, obtendo o direito de receberem elevados ordenados e de serem deificados nos espaços nobres da mídia, tornando-se potenciais candidatos a cargos públicos.

Na disputa, seria apontado campeão aquele que conseguisse cortar o maior número de árvores no menor tempo possível, dentro de cada categoria. As árvores, depois de abatidas, seriam medidas e cubadas por uma comissão de juízes, devidamente juramentados e indicados por um órgão mundial com autoridade reconhecida por todos os participantes. E todo esse procedimento seria acompanhado pelos torcedores, através da televisão, naturalmente com o patrocínio publicitário dos fabricantes de motosserras, tratores e maconha, digo, cigarros, bebidas e demais artigos supérfluos, que trazem felicidade ao povo.

Nesse campeonato mundial, para a ponderação e justeza do resultado final, seria levado em conta o grau de dificuldade da destruição de árvores grandes, médias, pequenas e até arbustos. Os critérios deveriam ser os mais justos possíveis, dentro da máxima de que o “esporte deve ser sempre sadio”.

O objetivo final é conseguir-se um inesquecível e brilhante espetáculo, com a participação maciça da desvairada população, quando serão consagrados os campeões mundiais de derrubada de árvores. E poderíamos, com festas, alegrias e fogos de artifício, consagrar ao deus Nada a apoteótica manifestação de ódio à Vida.

Ninguém contesta o fato de que é menos doloroso o suicídio do planeta quando feito com festas e alegrias e sob efeito da realidade virtual.

Ademais, quem entende de suicídio sabe: quanto mais rápido, melhor.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 30/06/2010

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