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‘Quero ser grande’, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Estatísticas são interessantes quando mostram realidades diferentes do que se repete por aí, o chamado “senso comum”. Um desses chavões tradicionais é a tendência inevitável de que tudo no mundo se concentre em meganegócios – o tal do “o maior engole o menor”, sem espaço para pequenos e médios empreendedores. A estatística que refuta a tese, agora, vem do Sebrae, segundo o qual os lucros das micro e pequenas empresas vem crescendo sucessivamente, ao longo de todo esse ano, assim como caiu o número de falências. Em São Paulo (onde se pode medir melhor a concorrência com as grandes empresas), existem 1,3 milhões de micros e pequenas empresas, que ocupam cerca de 6 milhões de pessoas.

Não se pode negar a tendência a fusões e aquisições entre os gigantes de cada ramo de negócios, formando verdadeiros monopólios em muitos setores da economia, a nível internacional. Economistas e sociólogos conhecem bem esse processo, decorrente do poder de quem tem mais capital acumulado para superar a concorrência, de forma irresistível. Acontece, porém, que nem tudo é determinado só por fatores econômicos, há também uma variável cultural no comportamento de cada sociedade, inclusive nos negócios. Por exemplo, os italianos estão entre os povos que mais tem micro e pequenas empresas – os juristas consideram, inclusive, que seja italiana a melhor sistematização do regime das pequenas empresas.

A província de Bologna, com um PIB acima de 25 mil dólares per capita, é considerado um “eldorado” das pequenas empresas, mostrando que elas podem ser rentáveis e proporcionar qualidade de vida comparável aos bons cargos na grandes corporações. Isso tem a ver, então, com características culturais, como o conhecido gosto dos italianos pela autonomia pessoal. Ter seu próprio negócio é escapar da “massificação” institucional, da sensação de ser “mais um” na engrenagem de negócios gigantescos e despersonalizantes – seja em instituições privadas ou públicas.

O desejo natural do ser humano em acumular posses, tão instintivo quanto relacionado com os próprios instintos de sobrevivência e conservação, com frequência pode extrapolar para comportamentos obsessivos de competitividade a qualquer custo e sem qualidade de vida. É a síndrome do “quero ser grande”, como poderíamos chamar. Claro que essa é uma característica pessoal, que se manifesta independemente do tipo de empresa em que estiver a pessoa com esta tendência, com a diferença de que é um “modo de vida” estimulado pelas maiores, com métodos de pressão padronizados, no sentido de se aumentar a produtividade e a lucratividade com a adesão máxima de cada um às metas pré-estabelecidas. Empreender, ter sua própria atividade comercial, exige capacidade emocional de conviver com instabilidades e riscos, mas com maior dose de criatividade e participação nas decisões (entre sócios ou auxiliares diretos), ou seja, com possibilidade de exercer um maior grau de autonomia pessoal, habitualmente. É, enfim, um estilo de vida.

Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do Ecodebate

EcoDebate, 11/05/2010

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