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EUA ainda não sabem o tamanho do impacto do vazamento de petróleo no Golfo do México

Aves marinhas em praia atingida pelo vazamento de petróleo no Golfo do México.
Aves marinhas em praia atingida pelo vazamento de petróleo no Golfo do México. Foto: Ann Heisenfelt/European Pressphoto Agency/NYT

O vazamento de petróleo no Golfo do México é ruim –ninguém contesta isso. Mas quão ruim?

Alguns especialistas foram rápidos em prever o apocalipse, pintando um quadro sombrio de 1.600 quilômetros de terras úmidas insubstituíveis e praias em risco, pesca prejudicada por várias estações, espécies frágeis eliminadas e uma região e indústria debilitadas economicamente por anos.

O presidente Barack Obama chamou o vazamento de “um desastre ambiental potencialmente sem precedente”. E alguns cientistas sugeriram que o petróleo poderia pegar carona em uma corrente do golfo, levando caos à Costa do Atlântico.

Mas o acidente da Deepwater Horizon não é sem precedente, nem esta entre os piores acidentes com petróleo na história. Seu impacto final dependerá de uma longa lista de variáveis interligadas, incluindo o clima, as correntes oceânicas, as propriedades do petróleo envolvido e o sucesso ou fracasso dos esforços frenéticos para interromper o vazamento e remediar seus efeitos. Reportagem de John M. Broder e Tom Zeller Jr.*, The New York Times.

Como colocou um especialista, este é apenas a primeira jogada de um longo jogo. Ninguém sabe qual será o placar final.

O poço rompido, atualmente vazando cerca de 210 mil galões (794 mil litros) de petróleo por dia no golfo, poderia continuar fluindo por anos e ainda assim não se aproximar dos 36 bilhões de galões de petróleo despejados pelas forças iraquianas em retirada, quando deixaram o Kuwait em 1991. Também não está próximo da magnitude do vazamento da Ixtoc I na Baía de Campeche, no México, em 1979, que despejou cerca de 140 milhões de galões de óleo cru antes do vazamento ser contido.

E terá que piorar muito para se aproximar do impacto do acidente do Exxon Valdez de 1989, que contaminou 2 mil quilômetros de litoral em grande parte intocado e matou dezenas de milhares de aves marinhas, lontras e focas, juntamente com 250 águias e 22 baleias.

Ninguém, nem mesmo o apologista mais fervoroso da indústria petrolífera, está tratando este acidente sem a devida seriedade. A área contaminada do golfo continua expandindo e o petróleo já foi encontrado em alguns terras úmidas frágeis na ponta da Louisiana. As praias e recifes de coral dos Keys da Flórida podem ser atingidos caso a mancha seja capturada por uma corrente do golfo.

Mas na segunda-feira, o vento estava empurrando a mancha na direção oposta, para longe da corrente. Os piores efeitos do vazamento ainda não foram sentidos. E se os esforços para conter o petróleo forem ao menos parcialmente bem-sucedidos e o tempo cooperar, o pior poderia ser evitado.

“No momento, o que as pessoas temem ainda não se materializou”, disse o dr. Edward B. Overton, professor emérito de ciência ambiental da Universidade Estadual da Louisiana e um especialista em vazamentos de petróleo. “As pessoas têm a ideia de um Exxon Valdez, com uma maré preta mal-cheirosa, viscosa, se erguendo no horizonte, pronta para lavar a costa. Eu não prevejo que isso aconteça, a menos que as coisas piorem.”

Overton disse que tem esperança de que os esforços da BP para colocar tampas de concreto sobre a boca do poço terão sucesso, apesar de ter dito que é uma tarefa difícil e que pode piorar ainda mais as coisas, caso danifique os dutos submarinos.

Outros especialistas disseram que apesar do potencial de catástrofe permanecer, há motivos para permanecer cautelosamente otimista.

“O céu não está caindo”, disse Quenton R. Dokken, um biólogo marinho e um diretor executivo da Fundação Golfo do México, um grupo de preservação em Corpus Christi, Texas. “Nós certamente pisamos em um buraco e teremos que arrumar um modo de sair dele, mas não é o fim do Golfo do México.”

Os engenheiros disseram que o tipo de petróleo que está vazando do poço submarino é mais leve do que o óleo cru pesado que vazou do Exxon Valdez e evapora mais rapidamente da superfície, assim como é mais fácil de queimar. Ele também parece responder ao uso de dispersantes, que dissolvem as massas de óleo e ajudam a afundá-la. O petróleo ainda é capaz de causar um dano significativo, particularmente quando está misturado com a água e forma uma espécie de mousse que flutua e pode viajar longas distâncias.

Jacqueline Savitz, uma cientista sênior da Oceana, um grupo ambiental sem fins lucrativos, disse que grande parte dos estragos já está ocorrendo longe da costa e fora da vista das aeronaves de vigilância e embarcações de pesquisa.

“Algumas pessoas estão dizendo que ainda não chegou na costa, então está tudo bem”, ela disse. “Mas muitos animais vivem no oceano e um vazamento como este é ruim para a vida marinha assim que atinge a água. Estão em risco as tartarugas marinhas, larvas de atum, camarões, caranguejos e ostras, garoupas. Muitos deles já estão sendo afetados e tem sido assim há 10 dias. Nós estamos esperando para ver quão ruim será no litoral, mas poderemos nunca saber qual foi o impacto pleno sobre a vida oceânica.”

O impacto econômico é tão incerto quanto os danos ambientais. Com vários milhões de galões de óleo médio cru já presentes na água, alguns especialistas estão prevendo um amplo dano econômico. Os especialistas do Instituto de Pesquisa Harte para Estudos do Golfo do México, em Corpus Christi, por exemplo, estimaram que até US$ 1,6 bilhão em serviços e atividade econômica anual –incluindo os efeitos sobre o turismo, pesca e até mesmo serviços menos tangíveis, como a proteção contra tempestades fornecida pelas terras úmidas– poderiam estar em risco.

“E esta realmente é apenas a ponta do iceberg”, disse David Yoskowitz, que ocupa a cadeira de estudos sócio-econômicos do instituto. “Ainda é muito cedo e há muitos impactos potenciais corrente abaixo, muitos impactos multiplicadores.”

Mas grande parte dos danos poderá ser evitado caso as várias táticas empregadas pelos técnicos da BP e do governo deem resultado nos próximos dias.

Os ventos estão diminuindo e os mares estão se acalmando, permitindo novas operações de remoção e possíveis novas queimas controladas de petróleo na superfície. Os técnicos da BP estão tentando injetar dispersantes abaixo da superfície, o que poderia reduzir o impacto sobre a vida marinha. Os ventos e as correntes poderiam mover as massas de petróleo emulsificado para longe das áreas costeiras de procriação moluscos.

O golfo não é um ambiente intocado e já sobreviveu a problemas de poluição crônicos e agudos. Milhares de galões de petróleo vazam diariamente para o golfo de fendas submarinas naturais, disseram os engenheiros, e as muitas refinarias e indústrias químicas presentes na costa do México ao Mississippi despejam volumes incontáveis de poluentes na água.

Após o vazamento da Ixtoc há 31 anos, o segundo maior vazamento de petróleo da história, o golfo se recuperou. Em três anos, havia pouco traço visível do vazamento na costa mexicana, que teve o acréscimo de um acidente com um petroleiro poucos meses depois, que despejou 2,6 milhões de galões adicionais, disseram especialistas.

“O golfo é tremendamente resistente”, disse Dokken, o biólogo marinho. “Mas nós sempre nos perguntamos por quanto tempo poderemos cometer esses insultos ao golfo e vê-lo se recuperar. Como cientista, eu preciso dizer que não sei.”

*Leslie Kaufman, em Nova Orleans, contribuiu com reportagem.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [Gulf Oil Spill Is Bad, but How Bad?] do New York Times, no UOL Notícias.

EcoDebate, 06/05/2010

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