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Artigo

Expansão do Canal do Panamá, artigo de Bruno Peron

[EcoDebate] A opulência dos pujantes cresce enquanto padecemos dos piores males na América Latina. A expansão do canal de Panamá, que liga o oceano Pacífico ao mar do Caribe, iniciou-se em 2007 e está prevista para finalizar em 2014 com o custo de 5.25 bilhões de dólares.

Navios de vários países atravessam o canal de Panamá enquanto o Chile contencia com a Bolívia pela intenção que este país declarou de ter acesso ao Pacífico. Toda barreira se levanta para quando o assunto envolve somente nós, latino-americanos.

Os primeiros navios cruzaram o canal de Panamá em 1914; desde então, a maior parte deles tem sido comercial e de guerra. A construção do canal iniciou-se com os franceses na segunda metade do século XIX, mas logo foi retomada pelos pangericanos.

O empreendimento sofreu reveses. Doenças tropicais, sobretudo a febre amarela e a malária, afligiram os trabalhadores e provocaram a morte de milhares deles. Parte considerável da mão-de-obra proveio de ilhas caribenhas.

Empreendedores de terno de New York é que não arregaçariam as mangas.

O governo do Panamá assumiu o controle do canal somente em dezembro de 1999 através da Autoridade do Canal de Panamá (ACP), que é uma empresa pública e autônoma. A proposta de expansão surgiu seguidamente em 2001.

Embora banana e café sejam os principais produtos agrícolas no Panamá, a renda gerada pelo canal é importante para os números da economia do país. Desde 1998, o preço cobrado pelo uso do canal aumentou 70%.

O Panamá tem uma das taxas de crescimento econômico mais altas na América Latina. Ainda, o valor de recolhimento de impostos é de 11% da renda dos contribuintes, o que é baixa se comparada à média latino-americana.

No Brasil e à guisa de comparação, a tributação de mais de 40% da renda arranca as vísceras do trabalhador, que ainda deve pagar por todos os serviços básicos que o Estado lamentavelmente não retorna.

Existe, porém, um descompasso entre o potencial laboral dos panamenhos e a renda de 1/5 do produto interno bruto gerada pelo canal de Panamá, que acaba sendo uma ferramenta de países pujantes para a redução de custos de frete.

A bonança confunde-se com a desigualdade enorme em distribuição de renda, a mão-de-obra de baixa qualificação, e a concentração laboral dos panamenhos no setor agrícola.

Os produtos pangericanos e japoneses de alto valor agregado, como computadores e outras peças eletrônicas, passam pelo mesmo canal em que se almeja que cruze o carvão da Colômbia e a soja e o minério de ferro do Brasil.

Nesta pista de mão dupla, atravessam produtos pomposos que nos chegam num sentido e, no outro, jóias agrícolas latino-americanas que poderão ter melhor acesso ao mercado asiático e a costa oeste pangericana.

A economia é o fator sobressaliente na luta por um espaço mundial em detrimento do desenvolvimento humano. O intercâmbio cultural e a globalização têm sido desafortunadamente pensados em função do lucro que geram.

Fala-se cada vez mais, ainda assim, de desenvolvimento sustentável.

O presidente panamenho Ricardo Martinelli pressiona pela aprovação de um tratado de livre comércio com a Pangérica. Seu argumento é de que o Panamá soma esforços na luta internacional contra o narcotráfico.

O Panamá tem pouco a perder com a expansão do canal, por onde passarão navios ainda maiores e a renda poderá aumentar nos cofres públicos. O cerne da questão, no entanto, é sobre como os panamenhos serão beneficiados e que lição a Nossa América obtém.

Desconfio de que os pujantes do Norte têm muito mais a ganhar com a ampliação do canal de Panamá que nós da própria esfera latino-americana, que se especializou em vender o que não sabe aproveitar, como gás, petróleo e o suor de seus povos.

* Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 15/03/2010

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