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Artigo

A tragédia das águas, artigo de Aroldo Cangussu


São Luiz do Paraitinga avalia os prejuízos após enchente – Moradores da cidade, situada no Vale do Paraíba, em São Paulo, começam a retornar às suas casas um dia após as águas das chuvas baixarem. Foto: José Patrício/AE – 05/01/2010, no Limão-Fotos

[EcoDebate] É com esse título que a grande imprensa brasileira trata da última catástrofe ocorrida na passagem do ano no Brasil, principalmente no estado do Rio de Janeiro e, também, em Minas e São Paulo. Mas, é uma grande injustiça com a Natureza. Água não provoca tragédia, ela apenas ocupa seu espaço sem distinguir o que está na frente. Água não “invade” nada, ela apenas retoma seu caminho natural. Chuva não mata, quem mata são as consequências da imprevisibilidade humana que ocupa lugares inadequados.

As precipitações pluviométricas são fundamentais para a sobrevivência humana e para manter o equilíbrio dos ecossistemas com os quais interagimos, entretanto a ação antrópica consegue reverter essas funções e provocar sofrimento e dor.

O mais entristecedor é que as autoridades conhecem de sobra as causas e consequências e, também, as soluções que, infelizmente, são sempre postergadas e nunca efetivadas.

As causas, sobejamente conhecidas, são:
– ocupação de baixadas, áreas naturais de retenção das águas, possível apenas mediante grandes obras de drenagem;
– ocupação, também, de encostas de morro, perigosíssima, pois os efeitos das chuvas intensas são agravados pelas características do relevo;
– retificação e canalização de rios e córregos – verdadeira praga – que transferem os problemas para jusante multiplicando os efeitos das chuvas excepcionais do verão;
– desmatamento em grande escala, impermeabilização do solo, urbanização desenfreada para atender interesses políticos e outras atividades que reduzem as áreas naturais de retenção são fatores que agravam a situação em casos de picos de chuvas.

E o pior é que, a cada ano, observa-se um crescimento dos prejuízos provocado pelo recrudescimento das ações citadas acima, pela falta de conscientização da população envolvida e pela ganância da indústria imobiliária.

Para tentarmos reverter esse quadro, é necessário tomar medidas em harmonia com a natureza e não contra ela. Estabelecer um planejamento baseado no território da bacia hidrográfica e nas necessidades do rio, e harmonizar com a sociedade através de ações solidárias que envolva o poder público, as responsabilidades individuais e, acima de tudo, o máximo respeito à natureza.

* Aroldo Cangussu, colaborador e articulista do EcoDebate, é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e atual coordenador adjunto do Fórum Mineiro de Comitês de Bacia Hidrográfica.

EcoDebate, 08/01/2010

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