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Morte por causas externas atinge mais o jovem da periferia

Entre 2000 e 2006, 68.242 óbitos de adolescentes e jovens em São Paulo
Entre 2000 e 2006, 68.242 óbitos de adolescentes e jovens em São Paulo

* As mortes por causas externas como morbidade — morte causadas por acidentes/agravos — e as mortes por agressões/violência atingem principalmente os da raça/cor parda e preta *

Na região metropolitana da cidade de São Paulo, entre 2000 e 2006, foram registrados 68.242 óbitos de adolescentes e jovens adultos, com idade entre 10 a 29 anos. Os dados são do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Com base nestas informações, o administrador hospitalar Aparecido Batista de Almeida verificou as causas básicas destas mortes. Os resultados apontam que as mortes por causas externas como morbidade — morte causadas por acidentes/agravos — e as mortes por agressões/violência atingem principalmente os da raça/cor parda e preta. “Esses adolescentes e jovens adultos da raça/cor parda morrem 22 vezes mais de causas externas do que os da raça/cor preta”, diz Almeida. “O número de mortes já é grande. Mas a análise revela que nossos jovens estão sendo abatidos”, lamenta o pesquisador.

O critério raça/cor é de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da forma com o que se declara cada pessoa. Assim, Almeida analisou os dados para as categorias de raça/cor branca, preta, parda e outras. As outras referem-se aos amarelos e indígenas. De acordo com os dados do SIM, os óbitos nas categorias raça/cor foram assim classificados: a categoria branca teve 57,49% (39.231 casos); categoria preta 8,43% (5.754 casos); categoria parda com 33,47% (22.841 casos); as outras categorias com 0,61% (416 casos).

“Analisando as causas básicas das mortes é que chegamos aos índices que nos apontam que as categorias preta e parda são as maiores vítimas das mortes por agressão/violência e por acidentes”, diz o pesquisador. Almeida observou também que a categoria raça/cor preta é a mais acometida por doenças infecciosas e parasitárias, doenças do aparelho circulatório e causas externas. “A maior intensidade da categoria parda ficou mesmo nas causas externas”, ressalta. Almeida lembra que problemas desse tipo acometem principalmente a região de periferias da região metropolitana de São Paulo. Os dados são referentes a 39 cidades da Grande São Paulo, incluindo a capital.

Proporção
O estudo mestrado Mortalidade de adolescentes e jovens adultos na região metropolitana de São Paulo – 2000 a 2006, foi orientado pelo professor Julio Cesar Rodrigues Pereira, do Departamento de Epidemiologia da FSP. Segundo Almeida, a categoria raça/cor preta e parda estão mais expostas às causas externas de mortalidade por residirem em áreas periféricas. “Nesses locais é evidente a falta de infraestruturas básicas de educação, atendimento à saúde e opções de lazer. Isso tudo torna esses adolescentes e jovens adultos mais vulneráveis às causas externas”, avalia.

Em relação às outras categorias, o pesquisador destaca que as pessoas classificadas na categoria raça/cor branca são mais acometidas por neoplasias e doenças do sangue, bem como, doenças endócrinas, do sistema nervoso e respiratórias, entre outras. “Nas outras categorias, amarelos e indígenas, as mortes ocorrem em sua maior intensidade por neoplasias, doenças do aparelho auditivo e do aparelho circulatório.

De acordo com Almeida, há a necessidade de maior ação conjunta dos poderes públicos e comunidade para que estes adolescentes e jovens adultos tenham mais acesso a seus direitos. Ele ressalta, no entanto, que outros estudos devem ser feitos para que seja indicado com mais precisão os locais em que a situação é mais grave. “Nosso trabalho indicou a proporção das causas básicas de mortes entre as raças/cor”, lembra. Almeida, que é funcionário do Núcleo de Informações de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, pretende dar continuidade à pesquisa num programa de doutorado. “Numa segunda fase poderemos detalhar por regiões e situações e, por meio de geoprocessamento, apontarmos números mais precisos”, afirma.

Reportagem Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/10/2009

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