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Cai pela metade participação do carvão da Bacia do São Francisco na matriz enérgética do país

fornos de carvão

A participação do carvão vegetal produzido nos municípios que compõem a Bacia do Rio São Francisco na matriz energética brasileira caiu pela metade entre os anos de 2000 e 2007, passando de 26,17% para 13,79%. Apesar disso, em termos de volume, a redução foi pequena, tendo passado de 374 mil para 349 mil toneladas por ano no período.

A atividade, realizada sem os cuidados de manejo ambiental, é um dos principais fatores de degradação do São Francisco. A avaliação é da geógrafa Adma Hamam, coordenadora do estudo Vetores Estruturantes da Dimensão Socioeconômica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, divulgado ontem (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento traça uma radiografia da região enfocando aspectos como configuração demográfica, usos dos recursos hídricos, além da governança socioambiental. O objetivo é subsidiar políticas de revitalização da área, desenvolvidas pelo Ministério do Meio Ambiente.

“Grande parte da matriz energética do São Francisco é proveniente do carvão vegetal. Isso causa danos sérios, porque, com a retirada da vegetação do Cerrado e do Semiárido, que ajuda a proteger o solo, quando ocorrem chuvas tudo é arrastado diretamente para o rio, gerando assoreamento do São Francisco, prejudicando a qualidade da água e promovendo diminuição da vazão”, destacou a pesquisadora.

O levantamento indica que os seguintes municípios lideravam, em 2007, o ranking da produção de carvão vegetal na bacia: Buritizeiro, João Pinheiro, Pompeu, Felixlândia e Corinto, todos no estado de Minas Gerais.

Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Semiárido, Iedo Bezerra, essa produção é absorvida principalmente pelas indústrias siderúrgicas mineiras.

Ele destacou ainda que em outra região da bacia, no chamado SubMédio São Francisco, que engloba parte dos estados de Pernambuco, do Piauí e do Ceará, o maior problema em termos ambientais é a retirada de vegetação da Caatinga para produzir lenha que abastece principalmente a indústria de gesso. Essa região concentra 95% da produção gesseira de todo o Brasil.

De acordo com um levantamento realizado pela Embrapa em 15 municípios pernambucanos, que abrangem uma área de 2 milhões de hectares, quase metade já está desmatada em função dessa atividade.

“Esse é um problema muito grave na nossa região. Por isso, trabalhamos para conscientizar a classe empresarial de que é possível manter a indústria a pleno vapor adotando práticas sustentáveis”, afirmou.

Entre essas medidas, Bezerra destacou a divisão das propriedades rurais em zonas de produção alternada para evitar o esgotamento do solo; a recuperação de áreas degradadas; o plantio de florestas utilizando espécies de crescimento rápido com o objetivo específico de extração; e ainda a observância dos limites de preservação previstos pela reserva legal em cada região.

O engenheiro florestal da Embrapa citou ainda o uso da lenha para abastecer pizzarias e restaurantes em todo o país e a utilização domiciliar para produção de energia, embora este último, segundo ele, tenha menor impacto ambiental por ser, em geral, fruto de atividade de coleta.

“Essa modalidade é menos predatória porque, embora a lenha ainda seja largamente utilizada especialmente pelas populações mais pobres dos municípios da bacia, em geral elas [as famílias] retiram troncos já caídos e mortos”, enfatizou.

Reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 23/07/2009.

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