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Associação de mulheres luta por melhorias em assentamento do Sertão de SE

Costura e bordado são alternativas para a melhoria de vida das mulheres do assentamento Cachoeirinha. Autor: Incra
Costura e bordado são alternativas para a melhoria de vida das mulheres do assentamento Cachoeirinha. Autor: Incra

Chapéus de palha e lenços coloridos, que protegem contra o sol forte do Semiárido nordestino, igualam o grupo a tantos outros que também semeiam a terra na região. Debaixo deles, no entanto, semblantes delicados e feições que traduzem esperança e determinação confirmam a existência de uma experiência diferente e pioneira no Território da Cidadania sergipano do Alto Sertão.

Em uma área de planalto, quase isolada por um riacho que corta o local, 16 agricultoras espalham diversas sementes pelo solo, redesenhando um cenário até então quase restrito aos homens da região. Moradoras no assentamento Cachoeirinha, situado no município de Gararu (a 161 quilômetros de Aracaju), elas integram o primeiro grupo exclusivamente feminino da reforma agrária em Sergipe.

Organizadas há dois anos em uma associação que também leva o nome do assentamento, elas se dividem em uma jornada diária que inclui atividades agrícolas, trabalhos manuais e os cuidados com a casa e os filhos. “Trabalhamos na roça com os maridos e na nossa lavoura, fazemos costuras e ainda cuidamos da casa e dos filhos. A gente realmente se vira nos trinta”, brinca a agricultora Maria Rosa dos Santos, de 49 anos, membro da associação de Mulheres do Cachoeirinha.

Disposição que vence obstáculos que vão além do cansaço. “Quando começamos a associação, alguns maridos foram contra. Até hoje, tem muita mulher do assentamento que não entra no grupo, porque o marido não quer. Mas a gente segue tocando os trabalhos sem problemas, sem ligar para os preconceitos”, afirma a assentada Maria Nazaré Marques Góes, de 35 anos, que compõe o grupo.

Ela e outras assentadas trabalham semanalmente em uma área de um hectare, que abriga a mais nova aposta do grupo feminino para melhorar as condições de vida no assentamento. “No ano passado, nós nos organizamos e começamos a montagem de uma horta. No início, como ainda não tínhamos experiência, não plantamos muito e tudo o que colhemos foi consumido aqui dentro do assentamento mesmo. Mas este ano, a gente quer aumentar a produção para vender para fora e, assim, conseguir algum complemento para a renda das famílias”, contou Maria Cléa dos Santos, a “Cléa”, de 29 anos, também integrante do grupo.

Segundo ela, o principal objetivo das agricultoras é ampliar a produção e selar uma parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para garantir a comercialização de toda a lavoura. “Como choveu muito este ano, a gente já espera conseguir uma boa produção. E quando conseguirmos garantir safras maiores, vamos buscar o apoio da Conab. Queremos participar do programa de aquisição de alimentos, porque ele garante a venda direta. É um dinheiro certo para o produtor e que pode ajudar bastante na renda das nossas famílias”, analisou Cléa.

Para iniciarem o projeto da horta, as agricultoras receberam o apoio da equipe de Assessoria Técnica Social e Ambiental (Ates) do Incra/SE, que ofereceu arames e estacas para o cercamento da área de plantio, além de enxadas, rastelos e diversos outros equipamentos utilizados no trabalho com a terra. “A ideia da horta veio do técnico que atua no assentamento e do pessoal do Incra. Tivemos um apoio importante deles para começar o trabalho e, hoje, mesmo com as dificuldades, a gente recebe um acompanhamento muito bom”, afirmou Cléa.

A produção da horta das mulheres do Cachoeirinha é bastante diversificada e possui desde ervas medicinais, como capim-santo e boldo, até frutas, verduras e legumes, como tomate, pimentão e couve.

A costura e o bordado

Outra aposta importante do grupo de mulheres para melhorar a renda das famílias do assentamento é o trabalho com tecidos. Aproveitando conhecimentos obtidos antes mesmo do início da associação, elas se uniram e, trabalhando com crochê e bordados, passaram a produzir jogos de cozinha, lençóis, colchas, capas de almofadas e bonecas, que já conquistaram diversos clientes na região. “Muitas mulheres já faziam algumas peças. Então, antes mesmo de a associação ser fundada, elas se uniram e começaram a vender em Gararu, Nossa Senhora da Glória e outras cidades da região. É um dinheiro que tem ajudado bastante as famílias”, contou Cléa.

Capacitadas pelo Serviço Nacional do Comércio (Senac), em um curso promovido em 2003, elas iniciaram também a produção de peças íntimas femininas e esperam a implantação de um novo projeto para expandirem a produção e os lucros. “Depois do curso, muitas mulheres passaram a produzir sutiãs, calcinhas, baby dolls e outras peças que vendem bem. Agora, nós estamos só esperando sair o projeto com a Empresa de Desenvolvimento Sustentável do Estado de Sergipe (Pronese) para aumentarmos a produção e os lucros”, afirmou Cléa.

Segundo ela, por meio de um projeto, que deve começar a ser implantado nos próximos meses, o governo do estado de Sergipe irá instalar um galpão no assentamento e fornecer máquinas de costura e matérias-primas, que irão impulsionar a produção das peças femininas pelas assentadas.

Aposta na educação

Pensando também no futuro, as mulheres do Cachoeirinha já vislumbram a formação de uma técnica agrícola dentro do próprio grupo. Aprovada em uma seleção realizada em 2008, Cléa é aluna da primeira turma de técnicos agrícolas que será formada pela Escola Agrotécnica de Poço Redondo.

O projeto, financiado com recursos do governo de Sergipe, prevê a formação de 60 técnicos agrícolas, que poderão auxiliar em áreas de reforma agrária e agricultura familiar, melhorando as condições de vida na região. “É um esforço grande, porque passo 15 dias na escola e 15 com a minha família. Mas é um investimento importante no futuro. Depois, eu sei que vou poder usar os meus conhecimentos para ajudar nos assentamentos da região”, ponderou Cléa.

* Informação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, publicada pelo EcoDebate, 17/06/2009

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