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O Consumo nosso de cada dia e os impactos sociais e ambientais, artigo de Ciro Torres

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Imagem: Stockxpert

O Consumo nosso de cada dia e os impactos sociais e ambientais, artigo de Ciro Torres

[Ibase] Muitos produtos que consumimos estão relacionados, direta ou indiretamente, a diversos impactos sociais, econômicos e ambientais – positivos e negativos – que afetam a vida de milhares de pessoas em muitos lugares. Esses impactos se dão de diferentes maneiras, mas, muitas vezes, nem sequer percebemos!

O alumínio, por exemplo, é base da nossa latinha de refrigerante, bicicleta ou dos diversos objetos metálicos que estão à nossa volta. E torna-se mais uma das preocupações e considerações que devemos ter no momento de consumir, utilizar e descartar os produtos que usamos.

A cadeia produtiva do alumínio é responsável pelo maior gasto mundial de energia, sendo uma das indústrias mais poluentes do planeta. Os problemas nesse setor estão basicamente relacionados com os impactos da mineração, com o transporte da bauxita ao longo da Região Amazônica (pois é justamente no estado do Pará onde se encontra a maior concentração desse minério que dá origem ao alumínio) e com a geração de energia hidrelétrica.

Enfim, produzir alumínio é utilizar muita água e uma grande quantidade de energia de maneira intensa e constante. Envolve retirar recursos da natureza e afetar o meio ambiente. E justamente um dos principais impactos ambientais dessa produção está ligado diretamente aos resíduos do processamento da matéria-prima do alumínio, a bauxita. Diversos estudos apontam que esses resíduos podem contaminar, de forma severa, os lençóis freáticos (a água doce do subsolo) e o ar no entorno das áreas industriais.

Nesse sentido, podemos dizer que a indústria e a cadeia produtiva do alumínio geram muita riqueza do ponto de vista estritamente econômico e financeiro, mas, ao mesmo tempo, contribuem, de maneira significativa, para o aquecimento global e a destruição da vida, por conta dos acidentes, das grandes contaminações e dos diversos problemas sociais inerentes ao processo, tanto em escala local como mundial.

Olhar atento da sociedade

No Pará, região Norte do Brasil, encontra-se um grande complexo industrial de produção de alumínio, formado principalmente pelas empresas Albras e Alunorte. Esta última é a maior refinaria de alumina do mundo. Esse complexo está si-tuado no município de Barcarena, a região brasileira mais rica em bauxita.

O Ibase e a Ajuda das Igrejas Norueguesas (AIN) estabeleceram uma parceria para conhecer melhor o local (pois uma das empresas, a Alunorte, é 60% brasileira e 40% norueguesa) e, juntos, darmos início a um processo que visa ao fortalecimento da sociedade civil local para que novos problemas não venham a ocorrer naquela região e para que as empresas do complexo busquem práticas mais responsáveis e sustentáveis. Aceitamos participar desse processo por acreditar que ser responsável é priorizar o direito à vida, valorizando as pessoas a partir de um modelo de desenvolvimento mais sustentável.

Na cidade de Barcarena já ocorreram diversos acidentes decorrentes da produção do alumínio. Alguns geraram TACs [Termo de Ajuste de Conduta] e outros são negados pelas empresas, mas confirmados pelas comunidades e noticiados pela imprensa. Os maiores ocorreram em 2003 e 2005, com vazamento de rejeito da indústria (lama vermelha) para os rios e igarapés da região.

Essa substância residual é gerada em grande quantidade no processo de produção de alumina: para cada uma tonelada (1 ton) produzida, cerca de 1.2 ton de lama vermelha é descartada.

Esse descarte é altamente cáustico, com um PH bastante elevado e que pode gerar um problema ambiental significativo, uma vez que a lama possui cerca de 1% de soda cáustica. Se as condições de impermeabilização dos tanques e lagoas de retenção não estiverem em perfeitas condições técnicas e de segurança, quando penetra no lençol freático e nos cór-regos, essa lama também eleva o teor de sódio e de outros contaminantes nos rios, córregos e poços da região.

As declarações e os relatos de pessoas das diversas comunidades locais em Barcarena foram bastante contundentes em afirmar que os “rios e igarapés estavam mortos” devido aos constantes vazamentos de resíduos da produção de alumínio. Essas populações de baixa renda não podem usar a água do subsolo, irremediavelmente contaminada pelas indústrias que operam na região, sendo obrigadas, em muitos casos, a comprar água mineral engarrafada e outras bebidas para garantir o consumo diário de líquidos. Alem disso, as diversas lideranças são enfáticas em afirmar que, devido à contaminação e aos problemas fundiários na região, “não é possível mais manter nossas pequenas plantações”, coletar plantas e frutos (contaminados e deformados) e pescar nos rios e igarapés.

O outro principal problema relatado pelas comunidades visitadas é a poluição do ar, proveniente do refino da alumina, quando gases cáusticos e outras poeiras corrosivas são liberadas na atmosfera constantemente. Nos últimos anos, segundo declaram as lideranças locais, nuvens de pó e partículas cobrem a região por vários dias, fato constantemente negado pelas empresas. Em uma visita ao redor das avenidas no entorno das indústrias, as lideranças locais nos mostraram a vegetação coberta por uma fina camada de pó avermelhado. Segundo nos foi informado, trata-se do pó da bauxita que paira no ar da cidade de Barcarena.

Acreditamos que demos apenas os primeiros passos de uma longa caminhada para, efetivamente, ajudar a fortalecer o protagonismo das pessoas, organizações e redes locais, buscando estabelecer pontes para a construção de uma rede nacional e internacional que possa gerar – no médio e longo prazos – um controle social efetivo, participativo, democrático e transparente sobre a empresa Alunorte e sobre toda a cadeia produtiva do alumínio no estado do Pará, no Brasil e no mundo.

I – AÇÃO – A empresa obtém abastecimento energético da Usina Hidrelétrica de Tucuruí,
Pará. CONSEQUÊNCIA – impactos ambientais inerentes às barragens, à inundação de florestas nativas, expulsão de comunidades originais e indígenas.

II – AÇÃO – A produção de alumina é escoada pelo Porto de Vila do Conde. CONSEQUÊNCIA – uma paradisíaca praia de rio agora, encontra-se contaminada e com o visual alterado pelos navios e instalações das indústrias.

Os insumos necessários, como a bauxita, são recebidos de duas fontes:
da mina na cidade de Oriximiná, oeste do Pará, bauxita fornecida pela empresa Mineração Rio do Norte (MRN) e transportada por navios ao longo dos rios Trombetas e Amazonas. CONSEQUÊNCIA – a mineração tem devastado grandes áreas, criado problemas para populações originais e quilombolas, além da poluição dos rios e igarapés, resultando na poluição do ar por partículas.
Também recebe bauxita da mina da cidade de Paragominas, leste do estado, que segue para Barcarena através de um mineroduto de 244 km de extensão. CONSEQUÊNCIA – impactos na vida das populações originais e contaminação, destruição de florestas originais, aterro de igarapés, poluição de rios.

PROGRESSO? – A instalação do complexo do alumínio atraiu um grande número de pessoas para região, sob falsas promessas de “desenvolvimento, progresso e emprego” – hoje essas pessoas estão desempregadas e em ocupações sem condições mínimas. Um video produzido pelo Ibase está disponível no endereço:
www.youtube.com/ibasetube

Ciro Torres, Coordenador do Ibase

[EcoDebate, 05/06/2009]

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