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Instituto de Tecnologia da UFPA propõe construção de casa ecológica

O lodo gerado na Estação de Tratamento do Bolonha pode ser reaproveitado para fabricação de tijolos. Foto de Mácio Ferreira
O lodo gerado na Estação de Tratamento do Bolonha pode ser reaproveitado para fabricação de tijolos. Foto de Mácio Ferreira.

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil apontam soluções ambientalmente viáveis para reaproveitamento de resíduos

O que uma garrafa de refrigerante, um vaso de cerâmica, uma folha de papel, um pedaço de alumínio e a água que chega a nossas torneiras têm em comum? Para produzir cada um deles, geramos rejeitos, substâncias que ameaçam o meio ambiente e que não possuem uma finalidade. Aliás, não possuíam. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará estudaram cada um desses problemas e apresentam propostas para o uso desses materiais como matéria-prima para a construção.

Que tal construir uma casa feita com tijolos fabricados com o resíduo do tratamento de água? Suas paredes podem ficar mais resistentes utilizando o rejeito da indústria cerâmica misturado com cimento. Quer construir um segundo andar? Então façamos uma laje com garrafas PET. É mais leve e barato. As telhas podem ser fabricadas com a lama vermelha que sobra do processo de beneficiamento do alumínio, no nordeste do Pará. Seu lar doce lar poderá ficar mais bonito se o mesmo resíduo for usado para colorir paredes e pisos em tons avermelhados, inclusive as calçadas. Mas, se sua preocupação é com os custos da construção, você pode economizar 30% do valor da obra adotando um novo método para moldar e escorar as colunas e paredes de sua casa, sem utilizar madeira. Essa casa ecológica está sendo “construída” diariamente, parte por parte, com as pesquisas realizadas pelos professores e alunos da Faculdade de Engenharia Civil, da UFPA.

Paredes de lodo defendem o meio ambiente

Problema: o beneficiamento de água gera um resíduo chamado lodo, que ameaça o equilíbrio ecológico em cursos d’água. Solução: transformar a ameaça em produto, utilizando o resíduo na fabricação de tijolos.

Construir uma casa com tijolos fabricados com lodo tem o desafio de enfrentar dois graves problemas ambientais. De um lado, criar uma utilidade para o que sobra no processo de tratamento da água e que pode prejudicar os ecossistemas aquáticos de rios e igarapés. De outro, diminuir a extração desordenada de argila para uso cerâmico ou para a construção civil, prejudicando a várzea e os manguezais.

Para que a água chegue até a torneira de nossas casas, ela passa por um processo de tratamento que retira resquícios de terra ou folhas. Essas impurezas formam o lodo. “É um subproduto que contém matéria orgânica, sílica e outros elementos, mas é composto, principalmente, das substâncias químicas utilizadas durante o processo de tratamento de água. Ele contém considerável teor de alumínio, que é o produto químico utilizado em Belém, e tem um aspecto de lama, mas, praticamente, não apresenta mau cheiro”, explica a professora Luiza Girard, pesquisadora da Faculdade de Engenharia Sanitária e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPA.

Para cada 100 litros de água que entra na Estação de Tratamento do Bolonha, restam 3,56 litros de lodo. Em um mês, são gerados, aproximadamente, 370.000 m3 desse resíduo, que precisa ter destinação adequada. O Grupo de Estudos em Gerenciamento de Águas e Reuso de Efluentes (Gesa) pesquisa este rejeito desde 2003. “Nosso objetivo é encontrar uma aplicação para o lodo a fim de evitar que ele seja despejado novamente no meio ambiente, prejudicando, inclusive, o abastecimento de água potável dos centros urbanos. O aproveitamento dessa substância para a indústria da cerâmica é uma alternativa viável que imobiliza o resíduo e lhe dá uma função benéfica na sociedade”, conta a professora.

Cabe à Elzilis Muller, a tarefa de propor uma forma de utilizar o lodo como componente de tijolos. Aluna do curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPA, orientada pela sanitarista Luiza Girard, Elzilis testa fórmulas e formas de misturar o rejeito na composição das peças cerâmicas. O estudo é o segundo no Brasil, desenvolvido em escala real, ou seja, testa a possibilidade de ser aplicado em uma verdadeira escala de produção. A mistura de lodo e argila foi usada para a fabricação de 500 tijolos em uma empresa cerâmica localizada em Benfica, no nordeste paraense. “Analisamos a composição do material antes e depois da fabricação das peças e percebemos que ele atende inteiramente às normas, com uma excelente produtividade. É viável ambiental, estrutural e economicamente”, garantem as pesquisadoras.

“Além de reduzir os impactos ambientais, esse produto teria um custo mais acessível, melhorando a oferta desse insumo para a construção, especialmente para pessoas de baixa renda”, defende Luiza Girard.

O desafio da madeira

Problema: para moldar colunas e estruturas, as obras utilizam muita madeira. Solução: nova técnica de pré-moldagem que dispensa o uso de madeira.

Se você passar em frente a uma obra durante a fase de construção das fundações e vigas, perceberá o uso excessivo de madeira para moldagem. Apenas no ano de 2004, foram extraídos cerca de 24,5 milhões de metros cúbicos de madeira em tora da Amazônia. Desse total, 63% foram comercializados para a construção civil. Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil, da UFPA, desenvolveram um novo método de moldagem para colunas e fundações, utilizando elementos pré-moldados que dispensam o uso de madeira.

Elementos pré-moldados são aqueles em que os elementos estruturais são formados fora do local da obra, o que traz a necessidade de transportar essas peças até a construção. Um desafio, se levarmos em conta o peso de uma coluna ou de uma viga, por exemplo. “Desenvolvemos um elemento pré-moldado que dispensa a madeira em todas as etapas, com a vantagem de ser mais leve que os outros modelos do tipo, o que soluciona o problema do transporte. O material é tão leve que dois homens são capazes de carregá-lo e sua resistência no estágio final da montagem é a mesma dos modelos tradicionais”, revela o engenheiro civil Dênio Ramam.

Para usar essa tecnologia, é preciso ter o projeto da obra com as dimensões de cada peça. Então, é confeccionada uma espécie de molde com placas delgadas de concreto, do tamanho exato de cada parte da estrutura. Essa pré-forma já contém um espaço para que sejam encaixadas as armaduras de aço. O material, então, está pronto para ser levado até a obra, onde receberá, por fim, o concreto formando a viga ou coluna.

O Grupo de Análise Experimental de Estruturas e Materiais (Gaema) já utilizou essa tecnologia para a construção de prédios, obras de saneamento, muros de contenção de cursos d’água e solo, cortinas e paredes. “Em uma obra comum, os custos com moldes de madeira podem chegar a 30% do valor total da estrutura da construção e tudo isso vai para o lixo depois. Com a dificuldade que temos para adquirir madeira, usar a disponível como molde descartável é uma prática complicada econômica e ambientalmente”, afirma Dênio Ramam.

Leia também: O colorido e a resistência da lama vermelha nas paredes e pisos

Matéria de Glauce Monteiro, no Jornal Beira do Rio, JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ . ANO VII Nº 73, JUNHO/JULHO 2009

[EcoDebate, 03/06/2009]

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2 thoughts on “Instituto de Tecnologia da UFPA propõe construção de casa ecológica

  • Tenho um trabalho relacionado a esse assunto e gostaria de saber se essa casa ecológica tem alguma relação com o turismo e se podem servir em determinadas áremas como hoteis?

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