EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Aquecimento Global: Amazônia deve ficar mais seca e quente

Aumento de temperatura e poluição concentrada são causas das fortes chuvas que atingem os grandes centros. Foto de Mácio Ferreira
Aumento de temperatura e poluição concentrada são causas das fortes chuvas que atingem os grandes centros. Foto de Mácio Ferreira

Consequências das mudanças climáticas já são sentidas nos centros urbanos

Furacões, chuvas prolongadas, ciclones, propagação de doenças, como malária e dengue, extinção de espécies animais e vegetais, enchentes, secas, alagamentos, estiagens prolongadas ou desertificação de algumas áreas e, principalmente, aumento da temperatura da atmosfera. Essas são as principais consequências do aquecimento global, fenômeno que se refere à elevação da temperatura média dos oceanos e do ar próximo à superfície terrestre.

A dissertação de mestrado “Tempestades severas na Região Metropolitana de Belém: avaliação das condições termodinâmicas e impactos socioeconômicos”, de João Paulo Nardin Tavares, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do Instituto de Geociências da UFPA, com apoio do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aponta questões relevantes quanto à incidência de chuvas extremas no período de 1987 a 2007.

A pesquisa revela que, nesse período, a cidade cresceu e as chuvas ficaram até duas vezes acima da média climatológica (que é de 2.000 mm por ano). Isso aconteceu em decorrência da elevação dos valores das condições termodinâmicas. “De 1987 a 2007, houve um aumento significativo de 0,5°C nas temperaturas máximas do dia em Belém devido ao aquecimento global, o que resultou em tempestades mais intensas e frequentes”, informa João Paulo Tavares.

Segundo o estudo orientado pela professora Maria Aurora Mota, a incidência de tempestades na capital aumentou a partir dos anos 80, quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra o início do aquecimento global. Já em 1990, é constatada uma maior frequência de tempestades e o aumento da temperatura da terra.

A partir de 1994, há um volume maior de chuvas que, segundo João Paulo Tavares, ocorre em decorrência do crescimento desordenado das cidades. “Os centros urbanos se tornam mais quentes do que a periferia e isso pode causar fortes chuvas por causa do aumento da temperatura e da poluição concentrada. Se continuar assim, as tempestades ficarão cada vez mais severas”, alerta.

De acordo com o pesquisador, o crescimento populacional e a ocupação desordenada aumentam a vulnerabilidade da sociedade aos eventos extremos. “Na estação chuvosa, as tempestades podem durar mais de 24 horas. Em tempo de seca, elas são mais intensas, com rajadas de vento, pancadas de chuva de curta duração, raios e, eventualmente, granizo”, avalia João Paulo Tavares.

As consequências são: pessoas desabrigadas, cidades sem iluminação e prejuízos financeiros. João Paulo Tavares defende a preservação e a criação de áreas verdes na cidade, além da educação ambiental, que minimizaria os impactos das tempestades e amenizaria a temperatura da cidade.

Previsão é de calor e ventos fortes

Engana-se quem pensa que a substituição da floresta por pastagem reduz as chuvas. A dissertação “A influência do arco do desmatamento sobre o ciclo hidrológico da Amazônia”, de Josivan Beltrão, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do IG/UFPA, indica que essa redução ocorre em determinadas regiões, mas aumenta em outras, tanto no período chuvoso como no período de estiagem.

Segundo Josivan Beltrão, que considerou, na pesquisa, o modelo de superfície de terra com vegetação dinâmica, no Estado do Pará, há redução de 25% do índice pluviométrico no período chuvoso, tendo diminuído, em até 15%, na estiagem. Porém, no Estado do Amazonas, é no verão que acontece a maior redução de chuva, tanto em volume quanto em área de abrangência.

Para o período de 1850 até 2000, registros globais mostram que a temperatura e o nível do mar estão aumentando e a cobertura de neve e gelo tem diminuído. Considerando o cenário de desmatamento para o ano de 2050, a pesquisa aponta aumento da temperatura e do vento e diminuição, em 20%, de chuva na zona costeira.

“Se os índices de desmatamento se mantiverem, podemos esperar uma Amazônia mais seca e quente nos próximos 50 anos”, estima Josivan Beltrão. O pesquisador ainda alerta ser necessário que a comunidade esteja atenta aos danos que a retirada da cobertura vegetal do planeta possa gerar, “as pessoas precisam ter consciência de que o desmatamento atual pode provocar uma seca mais violenta no futuro e dias mais quentes”. Os desmatamentos e as queimadas já são responsáveis pela maior parte das emissões brasileiras de CO2 na atmosfera.

Segundo a professora e orientadora da dissertação, Julia Cohen, o estudo foi mais específico, pois avaliou o impacto do desmatamento sobre o clima na Amazônia utilizando um modelo atmosférico de alta resolução (30 Km), o que permitiu examinar o papel dos rios, da topografia e de diferentes tipos de cobertura de vegetação. Também foram utilizados cenários de desmatamento, e não o desmatamento por completo.

Mas, que outros problemas o aquecimento global pode causar? Segundo a professora Julia Cohen, alagamentos, doenças, problema com a produção de grãos, especialmente na Ásia, onde é crescente o risco de inundações, a perda da biodiversidade da Amazônia e a mudança no fluxo dos rios.

O documentário “Uma verdade inconveniente”, dirigido por Davis Guggenheim e vencedor do Oscar, faz um questionamento instigante: “o planeta nos traiu ou nós traímos o planeta? Será esta a maior crise da história?”.
Soluções para diminuir o aquecimento global

• Colaborar para o sistema de coleta seletiva de lixo e de reciclagem;

• Usar, ao máximo, a iluminação natural nos ambientes domésticos;

• Não desmatar nem provocar queimadas nas florestas. Pelo contrário, plantar mais árvores;

• Diminuir o uso de combustíveis, como gasolina, dísel e querosene, e aumentar o consumo de biocombustíveis e etanol;

• Regular, constantemente, os automóveis para evitar a queima de forma desregulada e usar catalisador em escapamentos de veículos;

• Instalar sistemas de controle de emissão de gases poluentes nas indústrias;

• Ampliar a geração de energia por meio de fontes limpas e renováveis: hidrelétrica, eólica, solar, nuclear e maremotriz.

• Deixar o carro em casa e usar transporte coletivo ou bicicleta, sempre que possível;

• Usar técnicas limpas na agricultura para evitar a emissão de carbono.

Matéria de Tatiara Ferranti, no Jornal Beira do Rio, JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ . ANO VII Nº 73, JUNHO/JULHO 2009

[EcoDebate, 03/06/2009]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

Fechado para comentários.