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Rompimento da Barragem Algodões I: Rio seca e o drama agora é com socorro

Moradores que vivem às margens do Piranji esperam ajuda; sentimento é de revolta. Foto de Tiago Queiroz/AE
Moradores que vivem às margens do Piranji esperam ajuda; sentimento é de revolta. Foto de Tiago Queiroz/AE

Moradores esperam auxílio da Defesa Civil para ter o que comer; desastre deixou 3 mil desabrigados na região

COCAL DA ESTAÇÃO (PI) – Entre os atingidos pelo rompimento da barragem, que agora está seca, o sentimento é de que a ajuda demora a chegar. Há cerca de 3 mil desabrigados e desalojados pelo rompimento da Barragem Algodões 1. “Estamos fazendo o melhor e garantindo em primeiro lugar o resgate em áreas isoladas”, afirma o coordenador de resgate da Defesa Civil, Alexandre Lucas.

Para o agricultor Manoel Ferreira, de 49 anos, a tragédia está apenas começando. Sua família estava fora de casa, às margens do Rio Piranji, desde que a população foi alertada sobre o perigo de rompimento da barragem. “Como o engenheiro veio aqui e disse que era seguro, eu voltei”, diz o agricultor. “Assisti a tudo, do começo ao fim. A água passou a 2 metros da minha casa. Saí correndo pelo capoeirão e só fui parar em cima do morro.” Matéria de Emílio Sant’anna e Luciano Coelho – Especial para O Estado de S.Paulo.

Agora, o agricultor espera a ajuda da Defesa Civil para ter o que comer. A roça de milho e feijão e a criação de porcos, tudo foi levado pela onda que ele diz ter atingido “para mais de 10 metros de altura”. “Estou sobrevivendo com uma cesta básica, que recebi de pessoas da cidade”, afirma. “A Defesa Civil veio até aqui, mas não deixou nada.”

A primeira-dama do Estado, Regiane Dias, esteve ontem em Cocal da Estação e sobrevoou a região afetada. “O que vi nessas comunidades são pessoas chocadas, desesperadas, que perderam seus parentes e tudo o que tinham”, disse. Mas, para ela, ainda é cedo para discutir a responsabilidade sobre o acidente e apontar culpados. “Isso vai acontecer, mas por enquanto temos é de tentar resgatar e ajudar as pessoas desabrigadas e desaparecidas.”

Entre os parentes das vítimas, porém, a revolta já teve início. Os familiares da menina Maria Andreína Pereira, de 6 anos, encontrada morta ontem, a cerca de 3 km da barragem, estiveram na porta do Hospital Municipal Joaquim Vieira de Brito – para onde o corpo da garota foi levado – e deixaram claras as reclamações. “Como podem dizer para as pessoas que elas devem voltar para casa?”, indagava o tio da garota, João Vieira Pereira, de 49 anos.

Ao lado do outro tio da menina, Alcione Pereira, de 30 anos, eles se acotovelavam com curiosos, na frente do centro médico. “Para os que perderam a casa é possível pelo menos reconstruir. Muito pior é para a mãe e para o pai dela, que há dois dias não sabem o que é comer ou dormir. A única coisa que fazem é chorar.”

Engenheiro

O engenheiro Luiz Hernani de Carvalho, após avaliação técnica e um projeto executivo de recuperação no valor de R$ 273,4 mil, afirmou que a Barragem de Algodões 1, em Cocal das Estações (PI), não tinha risco de rompimento. Esse registro consta do contrato 44/2009, feito sob regime de empreitada por preço unitário, conforme publicação do Diário Oficial do Estado do Piauí.

O contrato foi assinado pela presidente da Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (Emgerpi), Lucile de Souza Moura, e por Gratuliano dos Santos Fonseca Filho, representante legal da Construtora Fênix, que subcontratou a empresa Geoprojetos Engenharia Ltda, do Rio, pertencente ao engenheiro Luiz Hernani. O extrato do contrato aponta o processo de licitação nº AA.120.1.004984/08, para realizar o reparo na parede da barragem, depois que foi identificada uma fissura que poderia provocar o rompimento.

Logo na sequencia da assinatura, as famílias foram retiradas do local de forma preventiva, para evitar o risco de inundação. Acabaram alojadas em abrigos por quase duas semanas. Mesmo após esse período um relatório do Corpo de Bombeiros informava que as famílias, por precaução, deveriam continuar longe das residências. Mas o engenheiro Carvalho afirmou que a parede da barragem não apresentava riscos de rompimento e autorizou as famílias a retomarem a rotina.

Na semana passada, a Emgerpi ainda realizou uma operação para colocar as famílias de volta em suas casas, após uma audiência pública da qual várias entidades participaram – e atestaram a segurança. Com base nessas informações é que o procurador-chefe do Ministério Público Federal (MPF) no Piauí, Kelston Pinheiro Lages, decidiu abrir uma investigação para definir responsabilidades. “Esses fatos (causados pelo rompimento da barragem) atingem o aspecto cível, a reparação de danos, e também o aspecto criminal, porque houve vítimas e crime de homicídio.” Um levantamento preciso das perdas materiais será necessário para que as famílias sejam posteriormente indenizadas.

O governo do Estado também iniciou investigações (mais informações nesta página). As prefeituras pretendem, posteriormente, construir casas em outras áreas para que os desabrigados não corram riscos no futuro.

[EcoDebate, 01/06/2009]

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