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Artigo

A importância do emprego das geotecnologias na prevenção de desastres naturais, artigo de Carol Salsa

As geotecnologias, representadas em especial pelo Sistema de Informação Geográfica (SIG), Sensoriamento Remoto e Sistema de Posicionamento Global (GPS), apresentam uma série de facilidades na geração e produção de dados e informações para o estudo de fenômenos geográficos, como os desastres naturais. (Coppock,1995)

[EcoDebate] Um trabalho divulgado em 2007, em Versão Preliminar, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE , em Santa Maria, Rio Grande do Sul , de autoria de Emerson Vieira Marcelino, traz os conceitos básicos sobre desastres naturais e geotecnologias empregadas.

“ Face ao considerável aumento da freqüência e intensidade dos fenômenos naturais tem-se danos e prejuízos associados como as precipitações nas regiões sul e sudeste e um agravamento da seca nas regiões norte e nordeste”, diz Marcelino. Temos, no entanto, acompanhado as enchentes na região Norte do Brasil e o drama da seca nos estados do Sul. Em todo o mundo há um agravamento desses fenômenos provocado pelas mudanças climáticas com efeito em todo o Planeta. Fazendo parte da geodinâmica terrestre não há como erradicar tais fenômenos mas, as ações humanas podem e devem ser direcionadas para a adoção de medidas mitigadoras e preventivas para minimizar os efeitos danosos de tais eventos.

Os desastres são considerados como o resultado de eventos adversos que causam grandes impactos na sociedade sendo distinguidos principalmente em função de sua origem, isto é, da natureza do fenômeno que o desencadeia ( Tobin e Montz, 1997 ). A defesa civil no Brasil, obedecendo as normativas da Política Nacional de Defesa Civil classifica os desastres como naturais, humanos e mistos (Castro,2003). Segundo Marcelino, a diferença nessa conceituação está na participação direta ou não do homem. Portanto, para simplificar a análise, os desastres podem ser distinguidos como humanos e naturais, conclui ele.

Os desastres humanos são aqueles gerados pelas ações ou omissões humanas. Como exemplo, citamos a permissão da administração pública na ocupação de áreas de riscos, nas encostas dos morros, acidentes de trânsito por falta de manutenção de estradas ou sinalização, incêndios industriais, contaminação de rios pelo tombamento de cargas tóxicas ou despejos industriais, e, em alguns casos, medidas não estruturais ou, estruturais, ainda não implementadas, desprezando a tecnologia, em alguns casos, as geotecnologias. A falta de divulgação do mapeamento de todas as áreas de risco em território brasileiro e o não gerenciamento com dados precisos dos principais acidentes ocorridos que motivaram as políticas públicas em vigência recrudescem a situação que já é caótica. O gerenciamento dos desastres está a exigir tecnologias que permitam a coleta, armazenamento e avaliação de dados que se tornam impraticáveis se analisados por métodos tradicionais.

“ Os desastres naturais podem ocorrer em qualquer continente ou país, visto que os fenômenos naturais que o desencadeiam, como as tempestades os terremotos e os vulcões existem em diversas partes do globo. Entretanto, algumas regiões são mais afetadas em função da magnitude e freqüência dos fenômenos e da vulnerabilidade do sistema social ”, diz Marcelino.

Segundo ele, utilizando-se dados de desastres do banco global EM-DAT ( Emergency Events Database ), período 1900-2006, o continente que apresentou o maior número de registros foi o asiático, com 3.699 registros, seguido pelo americano, com 2.416 registros ( EM-DAT,2007). Destaca-se também que em todo o mundo os tipos de desastres que mais ocorreram foram as inundações ( 35%) e as tempestades ( 31%), que é a soma dos eventos associados a furacões, tornados e vendavais. Portanto, aproximadamente 66% dos desastres naturais ocorridos no mundo estão vinculados às instabilidades atmosféricas severas, acrescenta. A grande maioria dos desastres (70%) ocorre em países em desenvolvimento, segundo (EM-DAT, 2007).

O governo brasileiro editou quatro volumes de domínio público, sobre desastres naturais, com pouco conteúdo ambiental e, ao que parece, não são conhecidos ou não foram suficientemente divulgados, além da web. Ale de estarem obsoletos não trata das geotecnologias que poderão ajudar nas causas e conseqüências destes eventos. Poucos dos 5.564 municípios brasileiros têm um Plano de Contingência ou uma Diretoria de Defesa Civil que através de dados meteorológicos, se antecipem às catástrofes nos casos mais brandos. Como parte integrante e extremamente necessária de suas administrações públicas, todos os municípios brasileiros que procuram defender-se através de capacitação, educação ambiental e experiências anteriores, buscam meios de reduzir o número de vítimas atingidas pelas catástrofes. Parece que a variável ambiental ainda não fez parte da concepção de documentos que vinculem os desastres naturais às diretrizes a serem adotadas, minimizando-os. Os quatro volumes dizem respeito às providências a serem tomadas em casos de emergência, mas, não há medidas não estruturais que sejam dignas de nota. Ficou só no papel e de conhecimento de poucos que navegam na web. Deixo aqui o registro dessa lacuna a ser preenchida, tantas vezes propagada pelo geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, que insistentemente tem chamado a atenção das autoridades para as medidas não-estruturais, como parte de políticas públicas a serem adotadas, com o objetivo de reduzir os riscos de acidentes, como os de Santa Catarina, recentemente. Três sites do governo para acessar os Manuais de Defesa Civil são aqui citados:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/min000018.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/min000019.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/min000020.pdf

Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate, é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

[EcoDebate, 27/04/2009]

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