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Povos indígenas do Cerrado sofrem graves ameaças com agronegócio

Cerca de 70 lideranças indígenas, representantes de 30 povos de diversos estados do Cerrado brasileiro que sofrem com o avanço do agronegócio no entorno e, por vezes, dentro de suas próprias terras indígenas, discutiram a situação em que se encontram essas áreas no encontro “O impacto da soja sobre as terras indígenas do Cerrado” que aconteceu entre os dias 07 e 12 de dezembro, na Terra Indígena Wawi – Kisêdjê – no Parque Indígena do Xingu (MT). Matéria de Helena Ladeira, do CTI-Centro de Trabalho Indigenista.

Hiparidi Xavante, coordenador geral da Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado, explicou que a escolha do Mato Grosso para sediar este encontro ocorreu devido aos impasses existentes entre os próprios indígenas habitantes deste Estado, que acaba por enfraquecer o próprio movimento. “Têm parentes que querem PCH (pequena central hidrelétrica) nas terras porque dá dinheiro. Nós (MOPIC) apoiamos os parentes que lutam contra as PCHs porque sabemos que isso não dá resultado”.

Para o agricultor extrativista e coordenador geral da Rede Cerrado, organização que abrange várias instituições para discutir os impactos causados neste bioma, Braulino Caetano, a idéia é unificar as forças. “Aqui no MT o problema é a soja, em outros é o eucalipto. Nós fizemos muitas denúncias em relação ao que esta acontecendo a nível municipal, estadual e federal, mas temos que juntar essas acusações. O Cerrado é muito rico, porém não existe uma legislação rígida que o proteja”.

Apesar da imensa diversidade cultural e de guardar 5% de toda biodiversidade do planeta, o Cerrado encontra-se em constante ameaça, pois a cada ano vastas áreas do bioma são derrubadas para dar lugar à pecuária, eucalipto, e principalmente às monoculturas de soja.

Os grandes projetos de infra-estrutura, como construções de barragens, estradas e hidrovias, empreendidas para viabilizar a exploração e o escoamento de produtos agroindustriais também colaboram com o aumento do desmatamento e das ameaças para os povos indígenas desta região.

Com relação às comunidades Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, o líder Eliseu Lopes da aldeia Kurusu Ambá, declarou que faz um ano que eu não vê a sua família, pois está sendo perseguido em função de sua luta pelos direitos de seu povo. “Queremos nossa terra de volta para plantar e produzir. Estamos vivendo na beira de uma BR sendo que nós somos os donos da terra. É uma situação triste, mas não vamos recuar. Se uma liderança for morta por um fazendeiro, mil lideranças vão se levantar”.

O cacique da aldeia Ngojwere, onde foi realizado o encontro, Kuiusi Kisêdjê, expôs a ação de sua comunidade na conquista de seu território. “Nós lutamos para recuperar essa terra porque ela é sagrada para nós, temos os nossos parentes enterrados aqui. Muita gente acha que estamos interessados no dinheiro, mas nós queremos é a terra”.

A questão da saúde indígena também foi um dos temas abordados durante o encontro, já que o órgão federal responsável por fazer o atendimento das populações indígenas no país, a FUNASA – Fundação Nacional de Saúde, passa por um processo de reestruturação, provocando insegurança entre os povos.

Um dos membros do Grupo de Trabalho (GT) criado pelo Ministério da Saúde para discutir como será a Secretaria Especial de Saúde Indígena, Pablo Kamaiurá, explicou como andam as negociações frente ao Governo. “Pela primeira vez vamos escrever uma proposta sobre como deve funcionar a saúde indígena. Sabemos que o Governo não vai acatar logo de cara esta proposta, porque são sempre eles que querem definir. Mas é um desafio muito grande. A autonomia do distrito deve ser construída a partir da nossa realidade, e não vir de cima”.

No último dia do encontro foi feito um documento final com as preocupações e os encaminhamentos do movimento em relação aos principais temas discutidos. Esta é a terceira assembléia geral que a MOPIC está organizando – as outras duas ocorreram na Terra Indígena Pareci (MT) e na Terra Indígena Cachoeirinha (MS).

O encontro foi organizado pela MOPIC, Associação Xavante Warã, Iny Mahadu e Associação Indígena Kisêdjê, financiamento do PPP-ECOS e Rainforest Network e apoio da Fundação Nacional do Índio, Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Instituto Socioambiental (ISA) e Cultural Survival, com a participação da FUNAI e do Ministério do Meio Ambiente.

[EcoDebate, 08/12/2008]

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