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Redução das Emissões por Desmatamento (RED): Entidades ambientalistas têm conclusões opostas

Floresta Amazônica, em foto de arquivo MMA
Floresta Amazônica, em foto de arquivo MMA

Dois relatórios de entidades ambientalistas têm conclusões opostas sobre benefício de mitigar clima cortando desmatamento.Um dos documentos diz que gerar créditos de carbono por floresta em pé premia poluidor; outro, que é única forma de manter as matas. Por Pedro Dias Leite, na Folha de S.Paulo, 06/12/2008.

Dois documentos publicados nos últimos dias colocaram lenha na fogueira da discussão sobre o futuro das florestas, com visões muito diferentes sobre a tática de utilizar compensações financeiras para combater o desmatamento, conhecida como Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, na sigla em inglês).

A discussão é central no debate sobre o aquecimento global porque as mudanças no uso da terra -principalmente o desmatamento tropical- respondem por 20% da emissão anual global de gases-estufa.

De um lado, o grupo ambientalista internacional Amigos da Terra afirma que o Redd não só não cumpre o seu objetivo como pode acabar por ter o efeito contrário, piorando as coisas. De outro, o Global Canopy Programme afirma que a tática é o modo mais eficiente de proteger as florestas.

O Redd é uma das principais propostas para conter o aquecimento global e faz parte das discussões em curso até a próxima semana em Poznan, Polônia, para definir o regime de proteção ao clima após 2012, quando o Protocolo de Kyoto expira. Ontem foi o Dia das Florestas em Poznan.

Uma das propostas para o mecanismo prevê que países ricos comprem créditos de carbono gerados pela manutenção das florestas em pé. O dinheiro serviria para incentivar desmatadores a abandonarem suas atividades; os créditos poderiam ser usados para compensar, em parte, a emissão de gás carbônico por queima de combustíveis fósseis países ricos.

Num relatório divulgado na semana passada, a Amigos da Terra diz que o mercado de carbono de florestas prejudica as comunidades locais, incentiva a corrupção nos países mais pobres, premia os poluidores e não barra as emissões.

O problema é que os países desenvolvidos continuariam a poluir e a consumir, com uma preocupação menor em diminuir suas emissões. “Os países ricos querem comprar sua rota para escapar de parar de poluir”, disse um dos autores do relatório, Joseph Zacune.

A iniciativa também acabaria por beneficiar os desmatadores, porque o valor seria pago com base no que essas atividades lucrariam se continuassem a destruir as florestas, incentivando um aumento antes da proibição. Além disso, nações que desmatam mais acabam sendo mais ajudadas do que aquelas que fazem o seu dever e conservam suas florestas.

A visão é combatida por Andrew W. Mitchell, diretor e fundador do Global Canopy Programme, editor de um “Little Redd Book” sobre o tema.

“Trabalho com conservação há 35 anos e tudo o que tentamos até agora não funcionou. Estamos perdendo 13 milhões de hectares de florestas por ano. Acabar com isso é difícil e caro, deve custar entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões por ano. Esse dinheiro não vai surgir da filantropia.”

Segundo ele, o Redd nem foi definido ainda, já que o modelo final só será decidido no ano que vem, então as críticas de que premia quem desmata mais são precipitadas. Sobre a “fuga” dos países ricos, ele diz que uma coisa não exclui a outra. “Existe uma consciência nos países desenvolvidos de que não é “ou”, mas sim “e””, diz.

“A razão por que as árvores caem é porque as florestas valem mais mortas do que vivas. O serviço que elas produzem não é reconhecido pelos governos nem pelo mercado, então elas têm de ser convertidas em alguma outra coisa que valha dinheiro”, afirma Mitchell.

Brasil

O governo do Brasil é contra usar florestas para gerar créditos de carbono, e propõe que o Redd seja alimentado por doações voluntárias.

Governos estaduais, no entanto, são favoráveis ao mercado. O do Amazonas assinou neste ano um acordo com a rede de hotéis Marriott para compensar emissões usando a conservação de uma unidade de conservação estadual.

No mês passado, o governador Eduardo Braga assinou um acordo com seu colega Arnold Schwarzenegger, da Califórnia, que abre a possibilidade de investimentos californianos em Redd no Amazonas.

“A posição do governo brasileiro contra a iniciativa é positiva, mas existe uma preocupação muito grande com a política de “saldo de desmatamento”, em que a derrubada de uma parte da floresta é compensada com a conservação ou a expansão de uma outra”, diz Zacune.

Já Mitchell diz que o Brasil precisa e deve fazer parte dele. “Ninguém paga o país pelo serviço que ele presta ao mundo, de conservar as florestas e evitar a emissão de gás carbônico. A perda de capital natural é enorme para o mundo.”

[EcoDebate, 08/12/2008]

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