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Crédito de carbono entra em declínio

Diante da iminência de uma recessão global, já diminui a demanda por créditos de carbono na Europa, que responde por 70% dos negócios nesse mercado. Na última quarta-feira, as permissões européias (direitos de emissão comprados de empresas que lançaram gases-estufa abaixo de suas metas) foram cotadas em Londres a 19,90 euros por tonelada de CO, seu menor preço desde fevereiro. O valor das RCEs (Reduções Certificadas de Emissões), que são os créditos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo de Kyoto (MDL), acompanharam a queda e fecharam a 16,60 euros , valor mais baixo desde maio. Desde o início de setembro, os preços sofreram recuo de 20%. Cada crédito equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (CO). Por José Alberto Gonçalves, para o Valor Econômico, de São Paulo, 28/10/2008.

O mercado de carbono entrou em rota descendente no início de setembro. Inicialmente, foi influenciado negativamente pelo recuo nas cotações do petróleo, que diminuíram mais de 50% desde julho. Quando o petróleo sobe, as companhias de energia européias queimam mais carvão, que é mais barato, mas libera mais CO na atmosfera, aumentando a procura por créditos para cumprir suas metas de redução de gases-estufa, o que puxa para cima os preços do carbono. O inverso também é verdadeiro. Se o petróleo cai, as empresas queimam menos carvão e reduzem a demanda por créditos.

Ao longo de outubro, o fantasma da recessão também adicionou novo elemento baixista no mercado. Antevendo o declínio na produção, a indústria européia está se desfazendo de parte de suas permissões e RCEs antes que os preços do carbono recuem ainda mais. A retração na atividade econômica deverá levar a um menor consumo de energia elétrica. Como a maior parte da energia tem origem fóssil (petróleo e carvão), as emissões de gases-estufa tendem a diminuir, levando a uma menor procura por créditos de carbono.

“Vemos uma diminuição de apetite por negócios de mais longa duração, particularmente créditos para entrega entre 2010 e 2012. Como está mais difícil conseguir financiamento, bancos e traders estão menos propensos a empacar capital em operações mais longas”, avalia Alessandro Vitelli, diretor de serviços de informação da Ideacarbon, uma consultoria de Londres. Vitelli também atribui a diminuição nos negócios à falta de certeza regulatória para o período pós-2012, quando se encerra a primeira etapa de redução nas emissões de gases de efeito estufa do Protocolo de Kyoto.

Embora não seja possível, ainda, estimar qual será o tamanho da retração na demanda por créditos, analistas já trabalham com um cenário baixista. “Se a Europa entrar em recessão, a demanda por energia cairá, as emissões diminuirão, sobrarão créditos de carbono e o preço tende a declinar”, prevê Maurik Jehee, superintendente da área de carbono do Banco Real. É incorreto, entretanto, tratar o carbono como uma commodity convencional, advertem analistas. Além do balanço de oferta e demanda, também pesam nesse mercado elementos meteorológicos, regulatórios e uma gama ampla de correlações com os mercados de energia e petróleo. Apesar da queda nos preços, a Ideacarbon projeta para 2009 alta de 30% no valor global dos negócios com créditos de carbono. Para este ano, o mercado prevê transações de quase US$ 100 bilhões, 56% mais que os US$ 64 bilhões estimados em 2007 pelo Banco Mundial.

“A recessão certamente reduzirá as emissões, o que é uma boa notícia para o clima. Mas não estou certo de que ela será negativa para o mercado”, assinala Vitelli, lembrando que há novos mercados de carbono em formação, tais como os da Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coréia do Sul e EUA.

Se de um lado a demanda deve diminuir, por outro lado a oferta de RCEs também vem caindo, o que impede um recuo mais acentuado nas cotações dos créditos ligados ao MDL. Para uma empresa européia, é vantajoso completar suas metas de redução com RCEs, que são créditos mais baratos. Porém, vários projetos do MDL estão reduzindo suas emissões em volume inferior ao previsto por erros de planejamento, problemas tecnológicos, alterações nas metodologias da ONU e má qualidade em sua elaboração. Com isso, a disponibilidade de créditos diminuiu em relação ao que se esperava, provocando alta também nas cotações das RCEs.

[EcoDebate, 29/10/2008]

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One thought on “Crédito de carbono entra em declínio

  • Wilson R Correa

    Excelente matéria com informações intessantes para subsididar as necessárias mudanças nas políticas públicas ambientais, relativas não somente à esfera federal, mas estaduais e municipais, que apoiem a manutenção e a proteção de florestas públicas e particulares.

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