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Aquecimento global ameaça os cangurus, icones da Austrália


Canguru (Antilopine Wallaroo). Imagem do University of Chicago Press Journals

Um aumento na temperatura média de apenas dois graus Celsius poderia ter um efeito devastador sobre as populações de cangurus. É o que afirma um estudo da James Cook University, na Austrália. O estudo “Australia’s Savanna Herbivores: Bioclimatic Distributions and an Assessment of the Potential Impact of Regional Climate Change,” será publicado na edição de dezembro (81:6) da revista Physiological and Biochemical Zoology. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.

“Nosso estudo oferece evidências de que as mudanças climáticas têm a capacidade de causar impactos de grande escala, bem como a possível extinção de um macropodid (espécie de canguru) no norte da Austrália,”, afirmam os autores do estudo, Euan G. Ritchie e Elizabeth E. Bolitho

Os pesquisadores usaram modelos matemáticos em computador e três anos de observações de campo para prever como as alterações de temperatura, prováveis neste século, afetariam quatro espécies de cangurus. Eles descobriram que um aumento de temperatura tão pequeno como 0,5° Celsius já é suficiente para retrair o pasto, a área geográfica de movimentação (e alimentação) dos cangurus. Um aumento de dois graus pode atrofiar a área em 48%. Um aumento de seis graus pode encolher as áreas em 96%.

O pesquisador Euan G. Ritchie diz que, de acordo com modelos climáticos geralmente aceitos, a temperatura no norte da Austrália deve subir de 0,4 a 2°C até 2030 e, entre 2 e 6°C até 2070.

Os maiores impactos das mudanças climáticas/aquecimento global não ocorrerá nos cangurus propriamente ditos, mas em seus habitats, mais especificamente na disponibilidade de água e isto é particularmente verdadeiro no norte da Austrália.

Diz Ritchie “Se estações secas tornarem-se mais quentes e as precipitações mais imprevisíveis, os habitats se esgotam pela redução da pastagem disponível e pelos poços secos até maio”. “Isso pode resultar na fome e e problemas reprodutivos, além da morte devido à desidratação das espécies que são menos móveis.

Em tese os cangurus podem ter mobilidade suficiente para “deixar” as áreas mais afetadas, mas a vegetação da qual depende não se adapta com a mesma velocidade.

O antilopine wallaroo, canguru adaptado para áreas úmidas, de clima tropical, é a espécie mais ameaçada. Ritchie e Bolitho acreditam que um aumento de 2°C na temperatura reduzirá as áreas em 89%. Um aumento de 6°C poderá levar o antilopine wallaroo à extinção, porque eles não conseguirão se adaptar às pastagens áridas que essa temperatura, provavelmente, produzirá.

“Os grande macropodids são altamente valiosos economicamente, através do ecoturismo e do comércio de carne, além do fato que muitas espécies são uma importantes fontes de alimento para os povos aborígines,” dizem os pesquisadores. “Portanto, é extremamente importante que nós possamos compreender a ecologia dos herbívoros nativos da Austrália, para assegurar o desenvolvimento econômico em uma forma ambientalmente sustentável.”

A pesquisa se soma a outros trabalhos que estimam grandes extinções em razão das mudanças climáticas, inclusive com grande perda de valor nos serviços ambientais prestados pela biodiversidade.

Euan G. Ritchie, Elizabeth E. Bolitho, “Australia’s Savanna Herbivores: Bioclimatic Distributions and an Assessment of the Potential Impact of Regional Climate Change,” Physiological and Biochemical Zoology 81:6.

* Com informações da James Cook University e do University of Chicago Press Journals

[EcoDebate, 16/10/2008]

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