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UFPA desenvolve diesel verde de buriti

Comunidades serão beneficiadas com energia limpa e cotas de combustível

FOTOS: MARI CHIBA

O Laboratório de Pesquisa e Análise de Combustíveis controla a qualidade

A busca por novas alternativas de energia, no Brasil, é cada vez mais freqüente. Na Universidade Federal do Pará, a pesquisa e o desenvolvimento de inovações nessa área são realizadas, entre outros, pelo Grupo de Catálise e Oleoquímica, do curso de Química da instituição – formado pelos pesquisadores Geraldo Narciso da Rocha Filho, José Roberto Zamian, Carlos Emmerson Ferreira da Costa e Heronides Adonias Dantas Filho. “Craqueamento Catalítico de óleo de Buriti” é o mais novo projeto em andamento. Consiste em produzir combustível semelhante ao petróleo, só que gerado a partir da quebra de moléculas de óleo vegetal, no caso o óleo de Buriti. Por Hellen Pacheco, do Jornal Beira do Rio, Informativo da Universidade Federal do Pará n° 61.

As negociações com a Eletrobrás, que está financiando o estudo, iniciaram em março de 2006. Em 2007, o projeto foi assinado, mas só começou efetivamente em janeiro de 2008. Os parceiros da Química nessa iniciativa são a Engenharia Química e a Mecânica (no âmbito da UFPA), o Instituto Militar de Engenharia (IME), do Rio de Janeiro, e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). O projeto tem duração prevista de três anos.

“Gerar energia elétrica a partir da biomassa, no caso o óleo vegetal, por meio de uma cadeia complexa que envolve manejo sustentável e extração, depois a produção do óleo, controle de qualidade e o teste nos motores, é o principal objetivo da Eletrobrás”, afirma o coordenador do projeto, doutor em Química, José Roberto Zamian. O processo de craqueamento é uma espécie de “quebra” das macromoléculas dos triglicerídeos do óleo vegetal em frações similares ao diesel, à gasolina e ao querosene, que possuem moléculas menores. A técnica é semelhante ao que acontece em uma petroquímica, que craqueia o petróleo para conseguir frações mais leves de combustível comum.


O buriti é muito comum na região

A ênfase do projeto está em obter a maior quantidade possível de óleo vegetal. Ele foi denominado pelo grupo de “diesel verde” para diferenciá-lo do biodiesel já conhecido no país, produzido através do processo de transesterificação que é a reação de um álcool com o óleo. A inovação está justamente em realizar um processo de obtenção de combustível, usando somente o óleo vegetal. “É um projeto mais audacioso, em termos de pesquisa, porque não existe um processo igual para este tipo de óleo envolvendo toda a cadeia, da produção até os testes em geradores”, afirma Zamian.

O buriti foi escolhido por ser uma oleaginosa comum na região Amazônica, principalmente no arquipélago do Marajó, mas que ainda não tem plantação comercial. As comunidades serão orientadas para o manejo sustentável da floresta, visando à obtenção dos frutos recolhidos para a produção de diesel verde.

Energia limpa para comunidades isoladas


A 1ª etapa será realizada no laboratório de Química

Ultrapassada a etapa extração, uma parte do óleo obtido será embarcada para a UFPA e a outra para o IME, no Rio de Janeiro. A primeira etapa do processo – denominada “Otimização das condições de craqueamento” – será realizada em laboratório pela Química. Essa fase inicial demorará aproximadamente um ano. Depois será construída uma planta para o craqueamento, ou seja, uma usina em escala maior com dimensões para 200/250 kg para atender a demanda do projeto. Ela será instalada na Engenharia química, que ficará responsável pela operação da planta e utilização do processo em escala maior. Depois do craqueamento do óleo vegetal, as frações de combustível obtidas serão levadas para o Laboratório de Pesquisa e Análise de Combustíveis (LAPAC), que faz o controle de qualidade de acordo com as normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Para a execução do projeto há duas grandes dificuldades. A primeira está relacionada ao manejo e extração do óleo nas comunidades, já que o Buriti deve ser obtido em quantidade suficiente para uma extração satisfatória. A segunda é uma questão técnica, pois o desafio é aumentar a escala do processo, por meio da instalação de uma planta capaz de produzir um craqueamento dentro do padrão de qualidade adequado e em grande quantidade.

Os benefícios gerados a partir da implantação e êxito do projeto são vários. Em primeiro lugar, possibilitará a geração de renda pela população das comunidades locais, que receberão uma porcentagem do que é produzido e poderão revendê-los. O segundo é a geração de energia em comunidades isoladas, por meio da instalação de um motor com base no óleo vegetal. O terceiro é a diminuição do problema de contaminação ambiental, já que o teor de enxofre é praticamente insignificante no diesel verde. Além disso, há toda uma gama de desenvolvimento tecnológico que ocorrerá na região, com a adoção de novos métodos e equipamentos.

A UFPA, em particular, será beneficiada pela modernização da Química, Engenharia Química e Engenharia Mecânica pela implantação da planta de craqueamento e pela ampliação de serviços que a universidade pode prestar à comunidade. Do ponto de vista acadêmico, por meio da oferta de bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado, previstos no projeto, ocorrerá a formação de mão-de-obra qualificada, tanto para a Química quanto para a Engenharia Química e Mecânica.

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Os pesquisadores que integram o Grupo de Catálise e Oleoquímica e que estão envolvidos na pesquisa do diesel verde