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vinhaça: Utilização de poluente para adubação preocupa a Cetesb

Estudo busca saber se resíduo da produção de álcool polui mais que fertilizante. Área agrícola ocupada pela cana-de-açúcar no Estado de São Paulo cresceu 54% desde 2002 e expansão ainda continua em SP.

Os efeitos nocivos provocados no ambiente pelo uso da vinhaça como fertilizante de canaviais preocupa a Cetesb, mas não há um consenso sobre que tipo de adubação é menos agressiva: a orgânica, com o resíduo da cana, ou o uso dos adubos comuns, os industriais. Por José Eernesto Credendio e Afra Balazina, da reportagem local, Folha de S.Paulo, 01/06/2008.

Diante da dúvida sobre o melhor método, a indústria, após acordo com a agência ambiental, começou no ano passado a comparar como o ambiente reage aos dois tipos de adubo. O estudo termina em 2010.

A vinhaça é usada para irrigar e fertilizar as plantações, mas, quando chega a rios e lagos, derruba os índices de oxigênio na água. Pode ainda afetar depósitos subterrâneos de água.

Além dos impactos e danos já provocados pela cultura, há expectativa de que a situação possa de agravar no futuro, devido à expansão da área de cana no Estado, que foi de 54% desde 2002, segundo o IEA (Instituto de Economia Agrícola). “São Paulo passa hoje por uma fase agrícola só comparável à do café, que devastou as matas”, diz Carlos Bocuhy, do Conselho Estadual do Meio Ambiente.

Um estudo realizado no rio Ipojuca, em Pernambuco -outro grande produtor de cana- provou que a vinhaça pode levar ao acúmulo de potássio no solo em níveis tóxicos. O volume de potássio no solo subiu de 2,2 g/ kg para 5,1 g/kg.

Houve um aumento de até 3C da temperatura da água do rio nos pontos abaixo de locais irrigados com a vinhaça. Além disso, a quantidade de oxigênio dissolvido, vital para a vida aquática, caiu pela metade.

Um dos problemas é que, de acordo com a distância entre a plantação e a usina e a declividade do terreno, o custo para usar o resíduo na lavoura fica inviável. É que as usinas usam a gravidade para espalhar a vinhaça. Se o terreno for plano, é necessário bombear ou transportar a vinhaça em caminhões, encarecendo o processo.

Para evitar abusos, a Cetesb criou em 2006 um protocolo que determina os limites máximos e seguros para a aplicação do resíduo no solo.

Hoje, a agência considera que a situação está sob controle, mas, em sigilo, pessoas ligadas à área dizem que não há como garantir que usinas não despejem vinhaça em rios longe dos olhares da fiscalização.

Otávio Okano, da área de controle ambiental da Cetesb, afirma que somente com o fim do estudo, em dois anos, é que será possível indicar que tipo de adubo é mais adequado. “Pode ser que o fertilizante inorgânico contamine mais”, diz.

Para a pesquisadora Regina Monteiro, do Laboratório de Ecologia Aplicada do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura)/USP, é necessário buscar novos usos para a vinhaça, de alto valor comercial.

Como exemplo, a pesquisadora cita o uso da vinhaça como meio de cultura para cogumelos comestíveis. “O fungo produz uma substância [exopolissacarídio] que possui diversas aplicações nas indústrias de alimentos, farmacêutica e cosmética. E transformam a vinhaça em um líquido claro e inodoro, podendo mais bem aproveitada na irrigação”, diz. (JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e AFRA BALAZINA)