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Alimentos não são mais baratos como foram, diz FAO

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) divulgou relatório onde prevê que os preços dos alimentos em todo o mundo não deverão cair substancialmente nos próximos anos, mesmo com o aumento da produção. Por Jamil Chade, do O Estado de S.Paulo, 23/05/2008.

Para a entidade, uma série de fatores levou as cotações internacionais desses produtos para um patamar mais elevado. Por isso, o agronegócio deverá movimentar mais de US$ 1 trilhão neste ano. O Brasil deve ganhar mercados, especialmente de carnes e milho. Mas uma expansão significativa da produção brasileira de grãos na próxima safra não é certa.

Além disso, nem toda a alta de preços deverá ter repercussão positiva para o País, especialmente no caso do trigo, em que há forte dependência das importações. No arroz, a oferta e a demanda estão ajustadas, o que mantém os preços em alta.

A FAO acredita que o novo nível de preços será mantido mesmo diante de projeção de produção recorde de alguns produtos, como cereais. Algumas commodities tiveram os preços reduzidos nas últimas semanas, mas não há previsão de voltar aos níveis anteriores.

Desde fevereiro os preços médios de alguns produtos têm se estabilizado. O problema é que haviam aumentado 53% nos quatro meses anteriores e as projeções são de que a pressão inflacionária poderia persistir pelos próximos dez anos.

Segundo a FAO, a supersafra de 2008 será registrada em vários setores. Os americanos terão sua maior safra do trigo desde 1998, com crescimento de 16%. A União Européia terá uma safra 13% maior.

A produção de arroz deve crescer 2,3%. Ao contrário de 2007, haverá mais produção do que consumo. Mas, diante das barreiras às exportações em vários países, a previsão é de que não haverá arroz suficiente para derrubar a cotação, que teve alta de 71% entre janeiro e abril.

Para a FAO, portanto, o impacto será significativo. Os países mais pobres terão de pagar US$ 169 bilhões neste ano para se alimentar, 40% mais que em 2007 e quatro vezes mais que o importado em 2000.

Para a entidade, a solução seria uma maior ajuda da comunidade internacional à essas economias. O pior, segundo a agência da ONU, é que essa alta não significa que vão comprar mais alimentos. Alguns estão até cortando as importações.

No total, o mundo gastará com alimentos US$ 215 bilhões a mais neste ano que em 2007, uma alta de 26%. Grande parte dessa conta irá para o pagamento de arroz, trigo e óleos vegetais. Os três setores atingiram níveis recordes de preço.

Os motivos são variados, incluindo a explosão nos preços dos fertilizantes – derivados de petróleo, cujo preço supera recordes todos os dias – , o custo do frete, que duplicou em alguns casos, e a especulação. Esses fatores explicariam ainda a alta de 30% nos preços do açúcar e, principalmente, no comércio de milho, com até mesmo uma queda nas importações.

Para a FAO, o cenário deve levar a um aumento da fome no mundo. “Alimentos não são mais baratos como foram”, afirmou o diretor-assistente da FAO, Hafez Ghanem. O planeta tem hoje 854 milhões de famintos, número que deve aumentar. Para a ONU, a crise é a pior em mais de meio século.

Até mesmo o Vaticano decidiu intervir na crise. Em declarações ao Estado, o embaixador da Santa Sé na ONU, arcebispo Silvano Tomasi, alerta que os subsídios nos países ricos deveriam ser revistos. “Subsídios injustos precisam ser eliminados”, disse. “Precisamos mudar a mentalidade do mundo e não pensar na agricultura apenas como lucros”, disse.

Para reverter o problema, a FAO já indica que uma safra apenas não será suficiente e pede que investimentos sejam feitos na agricultura, principalmente nos países emergentes. O aumento na demanda e a necessidade de repor estoques devem fazer com que os preços continuem altos.

Hoje, a crise ocorre diante de uma produção recorde de cereais, de 2,1 bilhões de toneladas. Mas a volatilidade, inclusive no trigo, deve continuar.