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Marina perde a cabeça após confrontos com área do crescimento

RIO DE JANEIRO – “Eu sou obrigado a dizer aqui que, embora o companheiro Mangabeira vá ser o coordenador do Conselho Gestor, ninguém tira de você, Marina, a idéia de ser a mãe do PAS.” As palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao final de seu discurso no lançamento do Programa da Amazônia Sustentável (PAS), na última quinta-feira, foram, segundo pessoas próximas à ministra Marina Silva, a gota d’água para a sua saída do Ministério do Meio Ambiente. Por Mair Pena Neto, da Agência Reuters, no Estadao.com.br, terça-feira, 13 de maio de 2008, 18:58.

A entrega da gestão de um programa da Amazônia, terra de Marina, para outra pessoa que não ela, representaria perda de confiança e a derrota de suas preocupações ambientalistas para a corrente mais desenvolvimentista do governo.

Marina, de acordo com assessores seus, não estava dando muito peso ao programa, mas a designação do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, foi um golpe definitivo para quem já vinha alimentando discordâncias com a política do governo, sobretudo em questões que envolviam a Amazônia.

Ao contrário de Marina, Unger é mais pragmático e emite conceitos polêmicos, como o de levar água da bacia amazônica para resolver o problema do semi-árido nordestino.

DESMATAMENTO E LICENÇAS

A queda-de-braço entre Marina e integrantes do governo, incluindo o próprio presidente Lula, teve muitos rounds. A ministra jamais temeu ferir interesses ligados ao crescimento e a questões estratégicas do governo como o biodiesel.

Quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou em janeiro deste ano que o desmatamento da Amazônia voltava a subir, Marina alertou para o crescimento perigoso das áreas do agronegócio, o que irritou o presidente da República. Lula buscava minimizar a notícia e a ministra atacava uma área sensível, principalmente fora do país, onde já se apontava a ameaça para a Amazônia do crescimento do plantio da soja para biocombustíveis.

Marina também era responsabilizada por não desembaraçar as licenças ambientais que para muitos integrantes do governo travavam a decolagem do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O embate chegou ao auge quando uma questão técnica relacionada às hidrelétricas do rio Madeira (RO) chegou ao presidente Lula.

O Ibama negara a licença prévia para as obras alegando que a reprodução dos grandes bagres não estava solucionada. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, bombardearam o Ibama e pressionaram Marina com o argumento de que a lentidão do instituto impedia o crescimento do país.

Lula não hesitou em tomar partido das obras do PAC e disse que iria até ao papa para acelerar as licenças. O presidente já afirmara em dezembro de 2006, antes de lançar o PAC, que o meio ambiente era entrave ao desenvolvimento, o que motivou a resposta de Marina: “Perco a cabeça mas não perco juízo.”

Para os amigos da ministra ela optou definitivamente pelo juízo.

(Edição de Maria Pia Palermo)