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Furioso, Lula diz que atitude de Marina foi espetaculosa

Segundo assessores, presidente não gostou da maneira como a ex-ministra anunciou sua saída

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou furioso com a forma como a ministra Marina Silva deixou o governo. A assessores próximos, Lula, irritado, disse que foi surpreendido e reclamou do fato de a notícia estar na imprensa antes mesmo que o presidente tivesse lido a carta de demissão, recebida no Palácio do Planalto pelo chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Assessores do presidente disseram que Lula ficou “indignado” e classificaram a atitude da ministra como “espetaculosa” e “espalhafatosa”. Por Luciana Nunes Leal e Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo, no Estadao.com.br, terça-feira, 13 de maio de 2008, 17:33.

Às 18h30 desta terça-feira, assessores diziam que Lula ainda não tinha lido a carta de Marina e não demonstrava intenção de ler tão cedo. A esta altura, o presidente estava trancado em seu gabinete e não atendia sequer os ministros que ficam no Palácio do Planalto. O presidente não gostou do fato de Marina assumir um ar de vítima dentro do governo.

Diante da reação do presidente, a avaliação no governo era de que a demissão era irreversível. No início da tarde, durante solenidade do Itamaraty, o presidente demonstrou grande irritação enquanto aguardava, no sagüão, a chegada do primeiro-ministro da Áustria, Alfred Gusenbauer. Lula falou rispidamente com assessores da presidência e do Ministério de Relações Exteriores. A assessoria do Palácio informou, no entanto, que a irritação do presidente não tinha relação com a saída de Marina Silva e foi motivada pelo que Lula considerou desorganização do cerimonial no almoço em homenagem ao primeiro-ministro austríaco.

Escalado para conversar com Marina, o ministro de Relações Intitucionais, José Múcio, telefonou para a ministra durante a tarde, mas não foi atendido. A idéia inicial de tentar fazer a ministra mudar de idéia foi então abandonada.

Assessores do Palácio reconheceram ontem que Marina Silva se considerou desprestigiada com a decisão do presidente de entregar o comando do Plano Amazônia Sustentável (PAS) ao ministro da Secretaria Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Segundo um assessor da presidência, a ministra “quase caiu da cadeira” quando foi informada que Mangabeira seria o gestor do PAS.

Na avaliação de assessores do Palácio, Marina quis deixar a impressão de que foi injustiçada no governo, mas também tinha uma preocupação com o futuro: é que em 2010 termina o mandato de senadora e ela terá que enfrentar uma nova campanha para tentar a reeleição. Por isso, os colaboradores do presidente acreditam que Marina entendeu ser a hora de voltar ao Legislativo e garantir mais um mandato.

Demissão

A saída do Planalto ocorre cinco dias após o lançamento do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Na solenidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o ministro extraordinário do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), Roberto Mangabeira Unger, seria o coordenador do PAS, mas fez uma brincadeira com Marina: “Dilma, eu disse que você é a mãe do PAC. Ninguém como você, Marina, para ser a mãe do PAS. De mãe em mãe, vocês percebem que estou criando a nova China aqui.”

Marina está à frente do ministério desde o primeiro mandato de Lula. Sua saída põe fim a um processo de desgaste que se acentuou no ano passado, quando o atraso na concessão de licenças ambientais pelo Ibama foi apresentado como o grande vilão para o não andamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Marina chegou a protagonizar disputas com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o próprio Lula fez críticas públicas à área sob seu comando quando a falta de licenças atrasou o processo de leilão das usinas do Rio Madeira.

Sob forte bombardeio desde então, a ministra mantinha suas convicções em eventos públicos. Ainda na última segunda, durante lançamento do Programa Brasileiro de Inventário Corporativo de Gases de Efeito Estufa, a ministra teve a coragem de criticar a menina dos olhos do governo Lula, o investimentos em biocombustíveis: “o Brasil não quer ser a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) dos biocombustíveis(…) Queremos dar nossa contribuição em relação aos biocombustíveis, mas observando nossa capacidade de suporte. E de forma que não comprometa a segurança alimentar nem a questão ambiental”, chegou a dizer Marina à Agência Brasil. “Nossa economia depende 50% da nossa biodiversidade. Quem destruiria sua galinha dos ovos de ouro?”, indagou em Brasília.

Marina reassume sua vaga como senadora no lugar de Sibá Machado (PT-AC), que é seu suplente e ocupava o cargo desde que a ministra assumiu o posto em 2003. O Palácio do Planalto ainda não confirma a informação.

Texto alterado às 19h35 para acréscimo de informações