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Resignificar o ambiental, artigo de Jair Donato

[A Gazeta] No decorrer do ano que passou, o mundo discutiu muito sobre as questões das mudanças climáticas, as causas e efeitos desse fenômeno inconveniente, provocado pela ação humana. Mas em 2008 esperamos por ações mais concretas e rápidas, pois não há muito tempo.

Para o Brasil, a conferência de Bali terminou com a inserção da discussão sobre a contribuição das florestas no equilíbrio climático. Também foi apresentada a proposta para criação de um Fundo de Proteção e Conservação da Amazônia, que visa à arrecadação de US$ 1 bilhão para esse fim. Além da criação de um grupo de trabalho para estudo da redução de gases do efeito estufa, cujo coordenador será o diplomata brasileiro Luiz Alberto Figueiredo Machado. E Mato Grosso terá um projeto-piloto nesse grupo. No entanto, a situação parece bem mais complexa, em escala global.

Quando cientistas, climatólogos e ambientalistas alertam o mundo sobre a poluição que engrossa a camada do efeito estufa, se trata de trilhas de poluição sem volta. Desde o aceleramento da emissão de gases poluentes, após a explosão da Era Industrial, no início do Século XX, que a temperatura da Terra aumenta cada vez mais. Todo o gás emitido desde essa época continua esquentando a Terra e vai continuar aquecendo com maior intensidade.

Contudo, um novo paradigma econômico mundial precisa se estabelecer, com foco sustentável. As matrizes energéticas precisam ser revistas para que as demais ações de conservação e preservação surtam efeito, como é o caso das florestas. “Do ponto de vista das mudanças climáticas, só vale a pena preservar se mudar a matriz energética mundial, com redução do uso de combustíveis fósseis”, declara o pesquisador Antônio Manzi, gerente-executivo do projeto Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).

Se todo o desmatamento das últimas décadas, que já destruiu 17% da Amazônia brasileira, parasse hoje, mesmo assim a floresta continuaria a correr o risco da savanização, essa é a conclusão dos cientistas na conferência de Bali, Indonésia, em dezembro passado. De acordo com especialistas do clima, o maior risco de perda da Amazônia pelo aquecimento global não é pelos desmatamentos e queimadas, que representam 20% das emissões de gases poluentes. Mas, principalmente pelo uso exacerbado dos combustíveis fósseis usados no mundo inteiro, especialmente nos países mais desenvolvidos.

Mas, espere. Essa não é nenhuma transferência de responsabilidade. Isso não é aval para descuidar das nossas florestas, só porque o maior vilão é o setor energético fóssil. Cada um de nós agora se torna ainda mais responsável pela contenção da larga emissão de gases poluentes. A Amazônia está em risco e é bom que isso seja do conhecimento de todos.

“Se o setor produtivo não contar com alternativas para valorizar as florestas em terras privadas, o desmatamento continuará contribuindo para a diminuição das chuvas na região amazônica. Isso afetará não apenas a própria produção agrícola, como também a mata e a vida das populações indígenas e tradicionais”, diz Paulo Moutinho, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Em 2008, será necessário o desenvolvimento de programas de sustentabilidade, de conservação, de preservação do meio ambiente e do consumo racional de energia e de produtos. E, principalmente, o aumento da consciência do consumidor e do cidadão que vota, por ser um ano de eleição. Anseio para que tudo isso se resulte em ações mensuráveis e renovação do clima no planeta.

A natureza não se reconstitui na mesma intensidade em que é destruída. A forma como se utilizava os recursos naturais há cerca de 30 anos, por exemplo, precisa ser repensada, resignificada. Não dá mais pra continuar fazendo as mesmas coisas, porque no passado era assim. Precisamos de um novo significado na atitude e nas ações para conseguir manter a casa em ordem, ou melhor, o planeta em equilíbrio. Continuo acreditando que o mundo mudará mais rápido pela mudança, antes, da consciência de cada um.

Jair Donato é jornalista em Cuiabá, consultor Life Coach, professor universitário – especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jairdomnato@gmail.com

Artigo originalmente publicado pelo jornal A Gazeta, MT, 11/01/2008