EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Consciência ecológica e o consumidor, por Jung Mo Sung

Adital – Um dos principais desafios hoje é a criação, ampliação e/ou fortalecimento da consciência ecológica; consciência que percebe a intrínseca relação entre a reprodução e a qualidade da vida dos seres vivos (incluindo os humanos) e o seu meio ambiente. Isto é, a consciência de que a nossa vida está intimamente ligada ao meio ambiente e de que o modo como tratamos o nosso ambiente definirá o futuro da humanidade e de muitas outras espécies.

Um dos aspectos fundamentais nesta luta é a passagem da mera consciência para o impacto no modo concreto como as relações sociais, econômicas e políticas funcionam no dia a dia. Se é verdade que a sociedade não muda sem uma nova consciência, também é verdade que não basta todos terem uma nova consciência, se esta não produz uma nova institucionalidade e não modifica de modo significativo o modo de reprodução da sociedade. Lutar somente pela nova consciência sem se preocupar com os mecanismos sociais e institucionais efetivos é cair em um idealismo infrutífero.

Por outro lado, o surgimento de novos mecanismos de controle, influência e regulação econômico-social-políticos mostra que a nova consciência está adquirindo força social e poder político.

Em uma sociedade capitalista, o mercado é um dos primeiros lugares de manifestação dessa nova força. Os especialistas em marketing estão sempre atentos para novos valores e desejos sociais para se posicionarem no mercado de tal modo que lhes dê vantagem em relação aos seus concorrentes. Em outras palavras, podemos acompanhar via novidades de mercado a gestação de novos valores e forças sociais. Um exemplo disso é a recente política da Tesco, a maior cadeia de supermercados do Reino Unido, que colocará em cada um dos 70 mil produtos que vende um rótulo com a quantidade de carbono emitido em sua produção. Hoje em dia, todos os produtos vêm com um rótulo descrevendo a quantidade de calorias, de gordura (alguns já anunciando que o produto é “livre de trans”), vitaminas, etc. Foi a pressão dos consumidores e cidadãos que levou às empresas e aos políticos a adotarem, livremente ou pela coerção da lei, este procedimento.

Ainda não há nenhuma lei que obrigue as empresas colocarem no rótulo a quantidade de carbono ou o custo ambiental na produção de uma determinada mercadoria. A iniciativa da Tesco de colocar este novo indicador no rótulo e de se comprometer a diminuir a emissão de carbono da própria empresa revela uma nova tendência no mercado consumidor. Tendência esta que foi captada pelos especialistas em marketing a serviço desta empresa. Esta companhia não é “ecológica” porque é diferente de outras empresas capitalistas. Isto é, ela não faz isto sem pensar no lucro, mas exatamente porque pensa no seu lucro. É um novo posicionamento no mercado para atrair mais consumidores com consciência ecológica. Se essa estratégia de marketing funcionar, outras empresas se verão impelidas a seguir esse caminho mais “ecológico”.

Alguns podem não gostar da lógica econômica que leva as empresas a este caminho, mas, nas sociedades capitalistas, é assim que as coisas funcionam no âmbito da economia. A ampliação da consciência ecológica entre os consumidores altera o comportamento econômico das empresas.

É claro que só isso não é suficiente para resolvermos o problema ambiental. Os neoliberais irão defender que a reação das empresas e do mercado é suficiente e que o Estado não precisa regular sobre este tema. Outros, anti-capitalistas mais ferrenhos, poderão combater estas medidas das empresas simplesmente por serem do mercado. Eu penso que estes dois extremos não são melhores caminhos. Em uma cultura de consumo, em uma sociedade que gira em torno do mercado, precisamos perceber que a luta pela dignidade e direito à vida dos mais fracos e do meio ambiente passa também pela politização da esfera do consumo. Sem reduzir, é claro, a política ao consumo.

Jung Mo Sung – Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ. Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise

(www.ecodebate.com.br) artigo originalmente publicado pela Agência de Informação Frei Tito para a América Latina