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Notícia

Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade (II)

Adital – W. Leon Smith e Nathan Diebenow entrevistam a Leuren Moret, geocientista que trabalha na educação dos cidadãos, mídias, e membros de parlamentos e do Congresso e de outros responsáveis por questões de radiação

Continuação da Entrevista:

P.: Quanto DU será preciso para matar toda a vida conhecida sobre este planeta?

MORET: A quantidade de radiação libertada vai certamente ter um impacto global muito, muito, profundo, e já estamos vendo a mortalidade infantil a aumentar globalmente. O feto é o mais susceptível ao dano por radiação porque todas as células estão rapidamente a dividir-se, os membros e os corpos desenvolvem-se, de modo que quando se começa a introduzir produtos químicos tóxicos e radiação isto realmente danifica o processo natural de desenvolvimento fetal.

O motivo porque foram capazes de convencer o Senado a assinar o tratado de 1963 que baniu parcialmente os testes foi o aumento da mortalidade infantil. Ela esteve caindo e declinou 2 ou 3% ao ano durante um longo tempo devido a melhores cuidados pré-natais e à educação das mães.

A mortalidade infantil começou a subir depois de jogarem as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, especialmente nos anos 50 quando começaram os grandes testes de bombas.

Por volta de 1963 era realmente óbvio que testar bombas globalmente estava tendo um impacto real sobre os recém-nascidos. Eles assinaram o tratado de banimento parcial dos testes. A Rússia e os EUA cessaram os testes atmosféricos, e a seguir a taxa de mortalidade infantil começou a diminuir. Agora está aumentando outra vez. Isto é uma poluição radioativa global, e quanto tempo levaria para eliminar toda a vida é algo que ninguém sabe, mas o urânio empobrecido é uma arma biológica muito, muito, efetiva.

Existem duas finalidades na utilização de armas pelos militares. Uma é destruir os soldados inimigos, e a outra, que é tão importante quanto esta, é destruir a população civil inimiga. Causar enfermidades e doenças, enfermidades prolongadas, realmente impacta a produtividade e a economia de um país. Foi Chernobyl e outros desastres nucleares que realmente destruíram a União Soviética porque a antiga URSS está muito, muito, doente com toda a radiação que foi libertada. Eles foram muito mais negligentes do que nós.

Tenho um inquérito sobre a saúde mundial da Organização Mundial de Saúde que foi publicado pelo Journal of American Medical Association em junho último. O impacto dos testes atmosféricos é muito visível pela porcentagem de população em cada país que eles investigaram quanto a alguma forma de doença mental. Por exemplo: no Japão é 8,8%. Na Nigéria é muito baixa – 4,7%. Eles quase não têm radiação na Nigéria. Na Ucrânia, onde houve o acidente de Chernobyl, é de 20,4%. Na Espanha está em 9,2%.
Na Itália é de 8,2%. É bem baixa porque ele não têm fábricas de ogivas (nukes). A França confia em 75% na energia nuclear, de modo que há doenças mentais em 18,4% da população. O México está em 12,2%, e nos Estados Unidos em 26,3% – a mais elevada taxa de doenças mentais do mundo.

George Bush e seus irmãos foram todos expostos no útero à ocorrência (fallout) dos testes de bombas nos Estados Unidos. Ele teve uma irmã recém-nascida que morreu de leucemia quando tinha cerca de três anos.

Trabalhei com um grupo chamado Radiation And Public Health Project. O seu sítio web está em http://www.radiation.org/. Todos nós somos especialistas em radiação, cientistas bem conhecidas e cientistas independentes. Colecionamos 6.000 dentes de leite de crianças que vivem em torno de centrais nucleares e medimos a radiação nos mesmos, e um dos nossos membros é o vizinho da mulher que trabalhou com todos os filhos de Bush, incluindo o próprio presidente Bush, porque eles têm severas deficiências de aprendizagem.

P.: Como podemos saber que os filhos de Bush foram expostos?

MORET: Pelo ano de nascimento. O ano em que estiveram na barriga da sua mãe. Você tem de ver quanto material de testes de bomba foi libertado para a atmosfera, e há uma correlação direta entre o declínio nos resultados do SAT (scholastic aptitude test) para todos os adolescentes nos EUA e a quantidade de radiação que foi libertada para a atmosfera no ano em que as suas mães os tinham no ventre. Estes são os efeitos retardados da exposição à radiação no útero.

P.: Então eles viviam no Connecticut, mas sentiam os efeitos da radiação em Nevada?

MORET: Dois anos atrás o governo americano admitiu que toda a pessoa vivendo nos Estados Unidos entre 1957 e 1963 foi exposta internamente a radiação. Assim, para qualquer mulher grávida durante aqueles anos, o seu feto esteve exposto.

P.: De que tipo de níveis de radiação estamos falando?

MORET: De níveis baixos, e os principais caminhos são a água de beber e os produtos lácteos. Isto matou mesmo peixes filhotes no Atlântico. O estrôncio-90 é um isótopo feito pelo homem que sai de bombas nucleares e de reatores nucleares. Mediram os níveis de estrôncio-90 na Noruega desde a década de 1950 até a de 1970, e mediram o declínio na captura de pescado durante o mesmo período, e assim como o estrôncio-90 no leite aumentou na Noruega, a captura de pescado declinou.
Por volta de 1963, quando os EUA testaram uma bomba nuclear quase todo dia (fizeram 250 testes em um ano porque o tratado estava prestes a ser assinado), as capturas de pescado declinaram 50%. No Pacífico declinaram 60% porque havia testes russos, chineses, franceses e americanos ali.

P.: De modo que ainda estamos a comer hoje aquele peixe contaminado. O código genético foi alterado?

MORET: Os oceanos estão recebendo tudo o que chove ou neva da atmosfera. Isto fica dentro dos oceanos. A grande mortandade de rãs, que é global, está certamente relacionada com a radiação na água da chuva. É um holocausto nuclear global. Afeta todos os seres vivos. É por isso que chamam-no de “omnicídio”, o que significa que mata todas as coisas vivas – as plantas, os animais, as bactérias. Tudo.

P.: Pensa você que podemos ter o relato do Weather Channel sobre as condições da atual tempestade de areia no Iraque de modo a que possamos nos preparar com quadro dias de antecipação para a radiação?

MORET: Contarei a você o que fiz quando aconteceu o 11 de Setembro.
Telefonei a todos os médicos do Radiation And Public Health Project e disse-lhes: “Saiam da cidade e não voltem até que tenha chovido três vezes”. Uma vivia a 12 milhas (19,3 km) na direção do vento do Pentágono. Ela foi ao seu terraço com o contador geiger. Eu lhe disse: “Ponha esse contador fora da sua bolsa”. Nós havíamos acabado de fazer uma conferência de imprensa em São Francisco e eu sabia que ela o guardava na sua bolsa. Bem, os níveis de radiação eram 8-10 vezes mais elevados do que dentro de casa.

Telefonamos ao EPA (Environmental Protection Agency), HAZMAT (Hazardous Material), FBI e dissemos: “Arranjem todos os trabalhadores para respostas de emergência adequados. Eles precisam ser protegidos”. Dois dias após o 11 de Setembro, o perito da EPA em radiação para aquela região telefonou-nos e disse: “Sim, os destroços do choque no Pentágono eram radioativos, e acreditamos que é urânio empobrecido, mas não estamos preocupados acerca disto. Ele só é prejudicial se for inalado”.

Disse ele: “Nós estamos preocupados acerca da soldadura de chumbo no avião”. Bem, você sabe o que há nos mísseis Tomahawk? Eles tem ogivas com urânio empobrecido. Os destroços radioativos do choque contaminados com DU são a prova de uma ogiva DU.

P.: Não pensei nisso, mas retornando à minha pergunta original: Deveria o Weather Channel relatar para nós as tempestades de pó tóxico no Iraque?

MORET: Mas como as pessoas poderiam escapar delas? Estas tempestades de poeira têm um milhão de milhas quadradas (2,59 milhões de km2). Elas são enormes e vêm através do Atlântico, do Caribe, da linha costeira do Texas e da Costa Leste. Há pessoas que abandonam o Estado todas as vezes em que há um furacão. Está na comida, água de beber, produtos lácteos, e então o problema com o Urânio 238, o qual é 99,39% DU, é que ele decai em mais de 20 passos em outros isótopos radioativos.

Eis porque chamo a isto o “Cavalo de Tróia”. É a arma que se mantém, mantém-se matando. Isto é como fumar crack radioativo. Ele segue através do seu nariz. Ele cruza o bulbo olfatório para dentro do seu cérebro. É um veneno sistêmico. Ele vai a todo lado. Estas partículas, que se formam a temperaturas muito altas – 5.000 a 10.000 graus C – são nanopartículas. Elas têm um décimo de um mícron ou ainda menos. Um décimo de um mícron é 100 vezes menor do que uma célula branca de sangue. Elas ficam presas nos lípidos e provavelmente no colesterol e atravessam diretamente as membranas da célula. Elas desordenam os processos celulares. Elas desordenam a sinalização entre as células porque as células todas conversam umas com as outras e coordenam o que estão fazendo. Elas desorientam a função cerebral.

P.: Sabe você o que era o Iraque antes da I Guerra do Golfo?

MORET: O Iraque antes de 1991 era o país mais avançado de todo o Oriente Médio. Eles tinham meticulosas bases de dados dos problemas de saúde e das taxas de doença, razão pela qual os EUA bombardearam todos os gabinetes do Ministério da Saúde. Destruímos todos aqueles registros de modo a que não pudesse ser estabelecido um quadro da saúde anterior à Guerra do Golfo a fim de mostrar quanto aumentaram estas doenças. Isto preocuparia os EUA, em termos de compensação por crimes de guerra.

Nestas horríveis sanções da ONU, eles (os iraquianos) nunca podiam conseguir todos os remédios padrão para o tratamento da leucemia. A ONU lhes dizia: “Estes passos do tratamento da leucemia são componentes de armas, de modo que você não pode ter disto”. Eles nunca deram ao povo o tratamento completo, prescrito nas regras, de que precisavam para livrar-se da leucemia. Isto escondeu os efeitos do urânio empobrecido porque as crianças estavam morrendo de fome. Estavam desnutridas. Eles tinham a população mais saudável do Oriente Médio (antes da I Guerra do Golfo).

P.: Vamos conversar acerca das crianças do Iraque.

MORET: Após a Guerra do Golfo, pode ser que tivessem um bebê por semana nascendo com defeitos nos hospitais de Bassorá. Agora estão tendo 10 a 12 por dia. Os níveis de urânio na população estão aumentando a cada ano. Todos os dias as pessoas comem e bebem quando todo o ambiente está contaminado. Exatamente o que se poderia esperar. Há mais bebês vindos à luz com defeitos de nascença, e estes estão ficando cada vez mais severos.

Uma médica iraquiana contou-me que os bebês que nascem agora são pedaços de carne. Disse ela que não têm cabeça ou pernas ou braços. São apenas um pedaço de carne. Isto também aconteceu às populações que não foram removidas de ilhas no Pacífico quando ocorreram os testes de bombas. Basicamente, os governos estavam as utilizando como cobaias.

P.: De modo que todos os países que foram equipados com armas nucleares são culpados destas atrocidades.

MORET: Todos eles estavam fazendo isso. A França, a Rússia, a China e os EUA. E não estou certa de que a Grã-Bretanha tenha feito testes de bomba. Eles foram realmente reservados acerca disto.

P.: Onde estão os pontos quentes de radiação nos Estados Unidos?

MORET: Nos Estados Unidos, seria dentro de umas 100 milhas (161 km) de centrais nucleares. Temos 110 centrais nucleares nos EUA. Temos a maioria em relação a qualquer país do mundo, mas somente umas 103 estão a operar. Quase todas da Costa Leste.
O que fizemos foi obter dados do governo a partir dos Centros de Controle de Doença sobre mortes por cancro da mama entre 1985 e 1989. Dois terços de todas a mortes por cancro da mama nos EUA entre 1985 e 1989 verificaram-se em lugares dentro das 100 milhas de uma central nuclear.

Verificaram-se também em torno de laboratórios de armas nucleares. Estes seriam Los Alamos no Novo México, o Idaho Nuclear Engineering Lab em Idaho, e Hanford no estado de Washington, que é onde eles obtêm o plutônio para todas as bombas. Eles contaminaram toda a bacia do Rio Columbia e quase todo o estado de Washington.

Aquilo fica na água, dentro das plantas e da vegetação. Se você comer moluscos, mariscos ou caranguejos ou coisas como estas, mesmo certas espécies de peixe que comem na lama do leito do rio, você terá níveis de radiação muito mais elevados nos seus tecidos. Isto depende de cada pessoa e de quão saudável ela é, mas aquele homem do Estado de Washington morreu subitamente. Ele tinha cerca de 40 anos. Fizeram-lhe uma autópsia e estava cheio de zinco radioativo. Perguntaram: “Onde raios ele obteve isto? Isto vem de bombas nucleares e de reatores nucleares”. Estudaram a sua dieta e descobriram que gostava de comer ostras. Descobriram onde comprava as suas ostras e acharam o viveiro das ostras. Era a 200 milhas da costa do Estado de Washington. A radiação estava sendo transportada para o mar a partir da linha costeira. Passava sobre este leito de ostras. As ostras estavam simplesmente a absorvê-las.

P.: Quais são os sintomas do envenenamento por DU?

MORET: Soldados no campo de batalha relataram um gosto metálico na suas bocas. Isto é o gosto real do urânio metal. A seguir, dentro 24-48 horas, os soldados no campo de batalha relataram que se sentiram doentes. Começaram a sentir dores nos músculos e perderam energia. Alguns deles tornaram-se incontinentes. Por outras palavras, adultos com fraldas.

Uma mulher relatou que na primeira noite em casa quis relacionar-se com o seu marido, mas que ela não tinha absolutamente nenhuma sensibilidade. Ela não podia sentir o que fosse da cintura para baixo. Estas partículas sólidas (particulate matter) danificam o sistema neuromuscular, os nervos, e isto estende-se a toda parte. E não há tratamento para isto. Estas partículas são muito, muito, insolúveis, assim elas não podem dissolver-se mesmo em corpos fluidos, de modo a que possam ser excretadas do corpo. Então, mantêm-se emitindo. Mesmo quando o urânio decai, ele torna-se outro isótopo radioativo. Assim, é uma partícula que simplesmente fica ali disparando tiros até que você morra.

Um outro problema é que os soldados têm dentes se esfarelando. Os dentes logo começam a cair. O urânio substitui o cálcio na estrutura cálcio-fosfato do dente. Alguns queixaram-se acerca de grande ataques de epilepsia, paralisia cerebral. Algumas das doenças relatadas em taxas muito elevadas nos soldados da Força Aérea e do Exército são a doença de Parkinson, a doença de Lou Gehrig e a doença de Hodgkin. Esta é uma danificação da mitocondrina nas células e nos nervos. A mitocondrina faz toda a energia para corpo, de modo que se se danifica a mitocondrina um sintoma é o síndrome da fadiga crônica. Simplesmente não há suficiente produção de energia para o corpo funcionar normalmente.

Descobri um estudo na newsletter dos empregados do SanDia Nuclear Weapons Laboratory de setembro de 2003. Eles estão fazendo importantes estudos junto a veteranos da disfunção mitocondrial relacionada com as doenças de Lou Gehrig, Hodgkin e Parkinson. Uma vez que se trata de um laboratório de armas nucleares, estão plenamente conscientes dos danos para a saúde.

P.: Fale-me dos testes que detectam DU no corpo.

MORET: O teste do cromossomo é o melhor indicador. Custa US$ 5.000. O teste da urina custa US$ 1.000. Se você apresentar resultados positivos com o teste da urina saberá que está contaminado. Se apresentar resultados negativos isso não significa que não esteja contaminado. Significa apenas que você pode ou não estar contaminado mas que não tem bastante DU dissolvido no seu fluxo sanguíneo para ir até os seus rins a fim de ser excretado na sua urina. Qualquer pessoa que viaje agora ao Oriente Médio e ao Afeganistão não pode evitar ser contaminada. Toda e qualquer pessoa, qualquer um, que vá a esses lugares será contaminada.

A questão do DU afeta todo o ser vivo sobre este Planeta. Que outra coisa tem tal impacto? Eles alteraram o genoma em todo o planeta para sempre com este DU. As pessoas do Pentágono dizem: “Você está exagerando ou você utiliza a palavra urânio para assustar pessoas”. Não me importa se as pessoas acreditam em mim ou não. Tudo o que posso dizer é que com o decorrer do tempo as minhas afirmações serão realmente uma subestimação dos efeitos a longo prazo.

Nota de resistir.info: No que se refere a Portugal, Leuren Moret ignora o poder de encobrimento das lamentáveis mídias aqui existentes. As mídias portuguesas nunca deram o destaque devido às doenças contraídas pelos soldados portugueses, como a do cabo Paulino que morreu após a sua missão na ex-Iugoslávia. O silêncio por parte das mídias portuguesas (os mesmos que gostam de se apresentar como “de referência”) mantém-se de forma permanente. Eles nem sequer indagaram se as centenas de homens e mulheres da GNR que estiveram no Iraque foram submetidos ao teste da urina. A atitude generalizada de praticamente todos as mídias portuguesas – TVs, jornais diários e semanários, revistas, etc. – é pior e mais covarde do que a dos seus congêneres italianos. Na Itália pelo menos houve notícias dos soldados italianos vitimados pelo DU. Em Portugal o silêncio é chocante, limitando-se as mídias a transcrever alguns comunicados oficiais.

* O original encontra-se em; http://www.iconoclast-texas.com/News/19news03.htm – Entrevista também publicada em: http://resistir.info/

Outros documentos acerca do DU:

· What Is Depleted Uranium?
· A Military Perspective. Entrevista ao Dr. Doug Rokke, Ph.D, antigo Diretor do U.S. Army Depleted Uranium Project.
· A Survivor’s Perspective. Entrevista a Melissa Sterry, veterana da Guerra do Golfo que está sobrevivendo aos efeitos do urânio empobrecido.

Nota do EcoDebate: clique no link abaixo para acessar a primeira parte desta entrevista
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade (I)

(www.ecodebate.com.br) entrevista originalmente publicada pela Agência de Informação Frei Tito para a América Latina