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Artigo

Recrudescimento perverso: febre aftosa

[EcoDebate]Apesar dos enormes esforços oficiais, envolvimento das comunidades atingidas e dos prejuízos acumulados em decorrência de embargos comerciais à carne brasileira por parte dos importadores, eis que sete (7) meses depois um novo foco de febre aftosa é constatado no Mato Grosso do Sul.

Reações perplexas da opinião pública não chegaram a monopolizar o assunto na mídia pela pronta ação das autoridades estaduais e federais. Suspeitada após uma vistoria de rotina, houve a confirmação pelo Laboratório destacado e o imediato “rifle sanitário” que é a designação, o termo oficial para denominar o abate e o enterrio dos animais infectados. A outra possibilidade seria o “abate sanitário”, nunca adotado – um abate controlado onde se retira a carne sabidamente não contagiada uma vez que o amaldiçoado vírus se aloja apenas nos nervos e ossos dos animais suscetíveis (Casco partido: bovinos, suínos, ovinos e caprinos). Temendo reação negativa pela população, este último método sequer é cogitado pelas autoridades, embora os prejuízos econômicos sejam menores.

Pois bem, a população – sejam produtores ou consumidores que acompanham o assunto mais amiúde, queixa-se da falta de esclarecimentos. Se a imagem e o conceito de “vacinar” são sinônimos de eficácia, então onde está o problema? Perguntas simples como, por quê os Laboratórios que examinam as amostras, localizam-se em Belém* e em Recife*? Parece que o novo foco foi descoberto ao acaso e, então qual é o método empregado, não seria o caso por tratar-se de uma região interditada por completo, merecer vistorias no sistema de varredura completa? Com a palavra as autoridades, que não responderão a estas questões se a imprensa não inquiri-las adequadamente.

Pelo nosso conhecimento da área, a cobertura vacinal dificilmente alcança os 100 % e mesmo ocorrendo como é o caso de se supor naquela região, a “eficiência” da vacina é algo entre 80 e 90%, completando-se a imunização após duas a três vacinações cujo intervalo é de seis meses. Como o nascimento de bezerros continua, é só pensar um pouco para concluir que os animais mais jovens estão mais vulneráveis, como foi o caso – o grupo atingido é de novilhas, sem qualquer sintoma no entanto, quem sabe nunca desenvolveriam a doença, mas diante dos critérios exigidos pela OIE (Organização Mundial de Epizootias) e assumidos pelos signatários entre eles o Brasil, desde 2001 a sintomatologia não é mais a característica principal para a identificação da doença.

Entretanto louvemo-nos nas regras instituídas que são: vacinação a cada seis meses, excluídos os bezerros abaixo de quatro meses. Se a cobertura vacinal fosse integral, certamente o risco de surgimento de novos focos seria bastante minimizado, mas o que ocorre? Sistemática incidência da febre aftosa Brasil afora e, antes de questionarmos a eficiência das vacinas que se sujeitam a regras cujo rigor é também inquestionável, podemos colocar em dúvida a “eficiência” da sua aplicação. Nos locais longínquos a capacidade dos aplicadores e principalmente o modo de conservação da vacina, que deve ser conservada no gelo desde a sua origem, são fatores que deixam vulnerável grande número de bovinos. Para comprovar que a vacinação deixa a desejar, exemplifico com dados do IBGE: Em 2005 foram abatidos 28,5 milhões de cabeças e o setor de curtumes adquiriu quase 38 milhões de couros… Abate clandestino infere também população oculta, basta acompanhar a conversa de pecuaristas nos bastidores. Saber quantas vacinas foram vendidas também é relativo. Enfim, falta “disciplina consciente” para estes brasileiros também!

(*)Os Laboratórios credenciados situam-se em Belém e em Recife porque pelas regras da OIE, não pode haver qualquer tipo de manipulação do vírus em áreas declaradas “livres”, status que as regiões Norte e Nordeste ainda não atingiram.

Eng.º Agr.º Telmo Heinen – Formosa (GO)telmoheinen@yahoo.com.br

in EcoDebate, www.ecodebate.com.br, 25/04/2006