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Artigo

Responsabilidade Social Corporativa, por Márcia Pimenta

O Brasil é considerado o quarto país do mundo em injustiça social. Aqui 1% dos mais ricos detém 13% de toda riqueza nacional, enquanto 50% dos mais pobres detém 14%. A população pobre é de 60 milhões (1/3 do total) e os indigentes somam 22 milhões, ou 1/8 da população.

Apesar do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio – IBGE) ter demonstrado um pequeno avanço no poder aquisitivo dos brasileiros, esse avanço ainda não muda o quadro social historicamente excludente. O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eduardo Nunes, minimizou a queda da concentração de renda nos últimos dois anos. Segundo ele, a redução, embora contínua nos últimos doze anos, ainda é insuficiente para livrar o Brasil da fama de país desigual.

Essa situação só poderá ser transformada buscando-se um novo padrão de desenvolvimento, modificando o paradigma anterior da maximização dos lucros.

Na busca por uma nova ética, as empresas têm um papel fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Hoje 59% das empresas privadas no Brasil realizam, em caráter voluntário algum tipo de ação social para a comunidade. Esses dados foram levantados por uma pesquisa do IPEA e citados por Ana Maria Peliano por ocasião do II Seminário sobre Responsabilidade Social Corporativa, realizado pela Fundação Getulio Vargas. No ano de 2000 as empresas investiram 4,7 bi em ações sociais. Essas ações, segundo a pesquisa, dizem respeito à alimentação e abastecimento em primeiro lugar, seguido por ações de assistência social. A pesquisa mostra que nos últimos anos há um aumento das ações visando saúde e educação.

Apesar da maioria (55%) das empresas afirmarem que sua motivação é de caráter humanitário, existem outros fatores que hoje influenciam essa atitude empresarial. Em um mercado globalizado a tendência é exigir dos seus parceiros comerciais iniciativas pró-ativas em relação ao social e ao ambiental. Sim, por que essas ações têm um custo para as empresas, aquelas que não investem podem oferecer seus produtos por um preço menor, mas com um alto custo sócio-ambiental. Os consumidores também exercem muita pressão, pois valorizam as empresas que investem nessas áreas, e tendem a deixar de lado as empresas omissas. Segundo Albert Alcouloumbre, diretor de Planejamento e Projetos Sociais da Rede Globo, o principal valor considerado pelo brasileiro para avaliar positivamente uma empresa é o seu papel social.
Para ele, os conceitos mais modernos da responsabilidade social excedem o cumprimento da lei. Muitos empresários não compartilham desse pensamento. Para eles a função da empresa é gerar empregos, pagar os benefícios e impostos. Tudo mais seria obrigação do governo.

Os acionistas hoje priorizam seus investimentos em empresas que tem boa performance nas questões econômico-financeiras, sociais e ambientais. Além de um bom relacionamento com os acionistas a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) visa uma um bom relacionamento com seus funcionários, clientes, a comunidade e seus fornecedores.

Apesar de importante e necessária a RSC e a divulgação de seus relatórios de sustentabilidade não são obrigatórios. E o presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social da FIRJAN, Luiz Chor diz que a FIRJAN é contrária a obrigatoriedade, pois isso poderia onerar demais as empresas.

A ABNT, através da NBR16001 certifica as empresas que pretendem implementar a RSC, se antecipando a publicação da ISO (Padronização Internacional para Organizações). Ciro Torres, Coordenador de Responsabilidade Social e Ética nas Organizações do IBASE, criticou essa antecipação alegando que não houve participação dos públicos interessados na confecção da Norma. Para ele a gestão pelos “stakeholders” não está acontecendo como deveria, afinal a Responsabilidade Social inclui o produto, a sociedade e o consumidor. Ciro discorda da escolha dos grupos convidados a participar da confecção da Norma, como por exemplo, a indústria do fumo que foi rejeitada duas vezes e numa terceira tentativa foi aprovada. Pode uma indústria ser ética quando seu produto comprovadamente afeta a saúde de seus consumidores?

Ele discorda também da Coordenação do Grupo de Trabalho ser coordenado pelo Instituo Eco Futuro, que é patrocinado pelo grupo Suzano de Papel e Celulose, ou seja, um representante das empresas. Suas críticas dizem respeito à falta de participação maior das partes mais interessadas: a sociedade.

A Responsabilidade Social é um assunto novo entre os empresários, por isso está em processo de evolução. Como é um comportamento valorizado no mercado teme-se que determinadas atitudes não passem de discurso, visando apenas mais lucros, ou ainda, uma estratégia de marketing, sem interferir em problemas estruturais que hoje nos coloca em quarto lugar em injustiça social. Se hoje vivemos uma situação caótica no que diz respeito ao sócio-ambiental é porque continuamos internalizando lucros e socializando prejuízos, e é essa mentalidade que precisamos mudar. A esse respeito, Isaura Frondizi, Diretora de Novos Negócios da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável acredita que o tempo dirá quais as empresas que atuam seriamente e aquelas que ficam só no discurso. Aquelas que estão apenas no âmbito do discurso manipulador, diz ela, com o tempo serão eliminadas.

Pelo que se pode aferir, nós consumidores temos uma grande responsabilidade no futuro dessas organizações. Sejamos mais responsáveis e atentos para separar o joio do trigo.