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Denúncia: Arsênio de Paracatu não escolhe vítima

 

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Por Sergio U. Dani, de Bremen, junho de 2014

Há muitos anos sabemos que o arsênio é uma substância causadora de câncer e outras doenças. Aliás, o arsênio é um dos agentes cancerígenos mais potentes e persistentes. O arsênio é absorvido via
oral ou respiratória e literalmente gruda nos ossos e mata de câncer e uma série de outras doenças.

Há anos estamos divulgando essa informação em Paracatu, na esperança que o povo e as autoridades tomem providências contra o genocídio de que são vítimas, cometido pela corporação transnacional canadense Kinross Gold Corporation.

Muitos dos que “não acreditavam” que poderiam ser afetados pelo arsênio agora dão-se conta de que talvez, quem sabe? Você não precisa “acreditar” quando eu digo que o arsênio é tóxico. Eu não sou pajé ou sacerdote de uma religião qualquer. Eu sou médico e cientista, e se digo que o arsênio é tóxico, é porque estou baseado em estudos realizados por mim em minha clínica e meu laboratório, e por centenas de outros colegas médicos, cientistas e pesquisadores. Da mesma forma, você não precisa “acreditar” que não será mais uma vítima do arsênio. O arsênio não escolhe vítimas.

Suspeita-se que diversas pessoas que trabalharam na mina de ouro da Kinross em Paracatu já sejam vítimas do envenenamento pelo arsênio. Comenta-se que desde trabalhadores braçais até gerentes e diretores sejam vítimas. O arsênio não escolhe vítima.

Evidências indicam que toda a população de Paracatu seja vítima, desde a criança ao adulto e ao mais idoso, do mais pobre ao mais rico, do mendigo ao empresário, do analfabeto ao mais titulado, do pedreiro ao doutor, do mais ignorante ao mais qualificado, do vereador ao locutor de rádio, do bancário ao professor, do presidiário ao juiz que o condenou, do sacerdote crédulo ao promotor de justiça incrédulo. Acredite se quiser: o arsênio não escolhe vítima.

As águas de Paracatu – especialmente o Córrego Rico, o Córrego Santo Antônio, o Ribeirão Santa Rita, o Ribeirão São Pedro a jusante da barra do Ribeirão Santa Rita e o Rio Paracatu a jusante desses cursos d’água – estão gravemente contaminadas com o arsênio liberado pela mina de ouro da Kinross. A contaminação das águas por arsênio está muito acima dos valores permitidos pela legislação brasileira.

Em um ponto no Córrego Rico, o arsênio no sedimento do leito do córrego atingiu a concentração de 1.116 ppm, o que corresponde a uma concentração 190 vezes maior que a estipulada pela Resolução 344/2004 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e 744 vezes maior que a concentração média natural verificada nos rios e córregos da região.

O arsênio viaja longas distâncias de carona na água. Quando a água seca ou evapora, o arsênio vira pó de novo, e também pode virar gás. Estudos científicos mostram que concentrações de arsênio acima de 7 ppm no solo (como se fossem 7 graozinhos de arsênio no meio de um milhão de grãos de poeira, ou 7 graozinhos de arroz em um saco de 15 kg de arroz) já afetam a saúde humana. Quanto maior é a concentração, maior é o número de pessoas afetadas.

A poeira que se respira em Paracatu tem concentrações de arsênio até 140 vezes mais altas que a concentração acima da qual o veneno começa a causar danos à saúde humana quando é respirado.

Uma pessoa exposta ao arsênio sem querer ou sem saber, dificilmente percebe os efeitos do envenenamento crônico. A população de 80 mil pessoas da cidade de Paracatu está exposta diretamente ao risco de intoxicação, principalmente via inalação da poeira e gases emanados da mina e depósitos de rejeitos.

Outras populações estão expostas indiretamente e à distância, na medida em que o arsênio de Paracatu, dissolvido na água, está sendo persistentemente transportado pela bacia do Rio São Francisco onde entra na cadeia alimentar e, liberado para a atmosfera na forma de poeira e gás, está sendo transportado pelos ventos para outras regiões do país e do mundo.

A gravidade do cenário é de tal monta que supera a arguição de legalidade da atividade de mineração autorizada, visto que os índices oficiais de exposição tolerável não foram calculados para períodos de longa exposição diária e várias vias de ingestão, inalação, absorção e resorção concentradas num mesmo ambiente: solo, atmosfera, água, alimentos, e o próprio compartimento humano.

Hoje já existem testes laboratoriais e clínicos capazes de indicar o seu envenenamento pelo arsênio da genocida Kinross. O genocídio culposo não gera processo criminal, mas gera a obrigação de indenizar as perdas e os danos. Em caso de dúvida, nossa equipe de médicos e advogados coloca-se à disposição para esclarecimentos.

Por
Dr.med. D.Sc. Sergio U. Dani

Texto-denúncia enviado por Serrano Neves para o EcoDebate, 24/06/2014


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4 thoughts on “Denúncia: Arsênio de Paracatu não escolhe vítima

  • Esse problema e’ realmente serio e tem agravantes: com o arsenio temos ainda os sais de cianeto, agregados ao processo de extraçao, e que ficam ativos na lama por 50 (cinquenta) anos!

    Pior mesmo so’ a famosa Morro Velho, que opera ha uns 140 anos, dentro do perimetro da Grande BH, nas margens do rio das Velhas, que chega ao velho Chico…

    Ha outras e mais outras… A mineraçao, no BR e no mundo, e’ MESMO uma grande e interminavel fonte de RENDAS!!! B(

  • Em Outubro de 2013 demos partida a uma Petição pela AVAAZ como se pode ver no link, ao final, e não obtivemos apoio sequer do povo de Paracatú. Enfatizamos, na ocasião: ” Por favor, tome(m) conhecimento e acesse(m) a petição para registrar seu apoio, com sua identificação. Multiplique o apoio repassando este aos seus amigos. Obrigado!
    Interromper a contaminação por arsênio que está causando a disseminação de câncer no município mineiro de Paracatú-MG-BR
    http://www.avaaz.org/po/petition/Interromper_a_contaminacao_por_arsenio_que_esta_causando_a_disseminacao_de_cancer_no_municipio_mineiro_de_ParacatuMGBR/?fbdm
    Consultando, a petição parou em 141 adesões. Fazer o que?
    Fiquei desiludido!
    Nem o pessoal da cidade, que devia impulsionar em massa a petição e tomar outras providências, não engajou!
    Quem sabe agora?

  • Retificando um engano na data: em de de Outubro/2013 foi em Agosto/2013 – como consultamos.

  • Oi,

    Hum… não é por nada não, mas esse envenenamento poderia sim gerar um processo criminal, assim como o de Paulínia gerou.

    O autor do artigo cita que é médico e cientista. Eu gostaria de perguntar: o seu grupo de pesquisa tem algum estudo epidemiológico, de preferência artigo científico publicado, demonstrando o aumento do número de mortes devido ao envenenamento por arsênio?

    Paracatu pelo que vi fica em Minas. Não é o meu estado, mas conheço o pessoal da área de ambiental de lá, e acho que eles teriam ânimo sim para investigar a denúncia, e se for possível provar o aumento de mortes humanas, a denúncia pode ser extremamente contundente.

    Por favor, se possível me contate em umbrios@gmail.com .

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