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São Raimundo e Bom Princípio, Baixo Parnaíba Maranhense, artigo de Mayron Régis

Bacuri, fruto do bacurizeiro (Platonia insignis ant. Platonia esculenta). Foto Wikipédia
Bacuri, fruto do bacurizeiro (Platonia insignis ant. Platonia esculenta). Foto Wikipédia

[EcoDebate] Uma espécie frutífera como o bacurizeiro, espécie da Amazônia, do Cerrado e das suas transições, ganha de goleada de uma espécie como o eucalipto em importância ecológica, ambiental, alimentar, social, econômica e histórica. A verdade é tão pura e simples que alguém um dia perguntou como havia gente com coragem para substituir uma espécie pela outra.

Praticamente, o bacurizeiro pode ser encontrado em quase todo o Maranhão, em partes do Piauí, do Tocantins e do Pará – em trechos mais adensados que outros – e esse fato poderia acanhar os setores do agro-extrativismo e sensíveis ao agro-extrativismo porque pouco ou quase nada se pesquisou sobre esse espécie e os ambientes em que ela se engraça com outras espécies florestais, com espécies de aves, as quais são responsáveis por sua polinização (o maracanã e a pipira), e com espécies de mamíferos.

A importância do bacurizeiro para o ambiente, para a ecologia e para a economia se confere na região do Baixo Parnaíba maranhense, onde ele se agarra a cada fração de terreno nas Chapadas de Urbano Santos, Chapadinha, Anapurus, Mata Roma, Buriti de Inácia Vaz, Brejo, Milagres do Maranhão, Santa Quitéria, São Bernardo e Santana do Maranhão.

Comunidade agroextrativista de Bom Sossego, onde moram 27 familias – município de Urbano Santos – o senhor Itevaldo, em tempos idos recentes, roçou menos de um hectare de sua parte da herança da família – um total de cem hectares; quando menos se espera – um emaranhado de bacurizeiros irrompe do chão. Aniversariaram cinco anos e levará mais uns cinco a dez para seus galhos se calejarem de frutos.

O município de Urbano Santos, no seminário “Bacuri: Do alto das Chapadas ao comércio nas cidades”, entre os dias 28 e 29 de agosto de 2008”, realizado no município de Chapadinha, fora citado como um dos municípios do Baixo Parnaíba onde os bacurizeiros debandaram por todas as Chapadas. O Fórum Carajás assunta, em projeto articulado junto com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Centro de Cultura Negra e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba e financiado pela organização holandesa ICCO, em quase todo o Baixo Parnaíba maranhense quais são ou quais foram áreas onde os bacurizeiros se excediam e águas da chuva eram carreadas e prontamente encharcavam o lençol freático e relativizam o clima úmido seco daquelas paragens.

Os setores do agronegócio da soja e do eucalipto, abrigados no Estado brasileiro, força a legislação ambiental e as suas principais vitimas são os agroextrativistas que vêem o despacho de seus bacurizeiros e pequizeiros para os fornos de carvoaria, para serrarias ou para as cerâmicas. Quando há uma crise econômica esses setores posam de vítimas, requerendo mais recursos, mas em tempos normais eles posam de caridosos permitindo que os agroextrativistas colham as árvores derrubadas ou os frutos para a venda na beira da estrada. O dano que isso ocasiona na organização e no discurso das comunidades agroextrativistas é irreparável na maioria dos casos.

Suspender essa venda da face dos trabalhadores rurais é um trabalho para décadas e justamente uma das etapas é conscientizar as comunidades agroextrativistas que resistem a permanecerem na resistência como é o caso das comunidades de São Raimundo e do Bom Principio, município de Urbano Santos. Curioso que as designações das comunidades agroextrativistas abranjam dois nomes. Uma ou outra preferem nomes ou apelidos que costurem cenas locais como Marçal dos Onça e o restante se inspira nas tramas da religião. Este é o caso de São Raimundo e Bom Principio, onde as famílias dos dois povoados e de outros lugares festejam a maior produção de bacuris do município.

Viajou-se duas vezes para os dois povoados e de cada viagem fica o rescaldo para completar a próxima. A subida à Chapada e o zanzar em torno dos bacurizeiros arremeda as brincadeiras de criança na porta de casa. Nesse mundo, quem vem de fora se perde por desconhecer onde pôr os pés.

Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás

Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba

[EcoDebate, 29/04/2009]

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