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Anabolizantes podem alterar cérebro, diz estudo

anabolizantes
Animais que receberam nandrolona se tornaram mais impulsivos, agressivos e ansiosos. Eles produziram menos receptores de serotonina

Uso de anabolizantes pode causar alterações cerebrais – Anabolizantes frequentemente diminuem a produção de receptores de serotonina em regiões do cérebro relacionadas ao controle da agressividade. A serotonina, uma substância responsável por controlar emoções fortes, não pode passar suas informações de um neurônio para outro sem o receptor. Por isso, usuários de “bombas” têm grande chance de se tornarem mais impulsivos, agressivos e ansiosos.

Essa é a conclusão de uma pesquisa feita com camundongos no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) pelo biólogo Guilherme Ambar. A dissertação de mestrado é o primeiro estudo a mostrar que o uso de anabolizantes altera a maneira que a informação genética é trascrita em diversas áreas do cérebro. Ambar foi orientado pela professora Silvana Chiavegatto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“O anabolizante nandrolona (conhecida no Brasil por Deca-durabolin) em dose muito altas interferiu no sistema da serotonina”, resume Silvana. “Por isso, a agressividade pode ter um componente molecular”.

Para a serotonina atuar no cérebro, ela precisa de proteínas receptoras. Como primeiro passa para fabricá-la, os neurônios produzem o ácido RNA mensageiro. Ambar percebeu que a quantidade de RNAs mensageiros produtoras desses receptores de serotonina era entre 37% a 66% menor em camundongos que receberam anabolizantes.

Para realizar a pesquisa, Âmbar criou dois grupos de camundongos em condições idênticas. A partir do terceiro mês de vida, quando os camundongos já são adultos jovens, um dos grupos recebeu o anabolizante nandrolona por 28 dias. As doses foram semelhantes às usadas em academias — 10 a 100 vezes maiores do que as utilizadas pelos médicos em tratamentos. Depois desse período, Ambar analisou os neurônios de três regiões do cérebro: hipocampo, hipotálamo, córtex pré-frontal e amígdala.

Menos receptor, mais agressividade
A partir do 16° dia recebendo injeções diárias de nandrolona, os animais foram submetidos a uma série de testes de comportamento. Camundongos que receberam o anabolizante tiveram mais sinais de ansiedade em situações desconhecidas, foram mais impulsivos e mostraram maior agressividade.

Para medir a agressividade, os pesquisadores colocaram mais um camundongo na gaiola das cobaias e observaram as reações. Cerca de 75% dos camundongos que receberam anabolizantes atacaram o intruso nos primeiros 15 minutos, enquanto somente 30% do outro grupo atacaram. Os animais que tomaram nandrolona também agrediram de forma mais impulsiva: eles demoraram, em média, 400 segundos para atacar o intruso; a média do outro grupo foi de cerca de 700 segundos.

Nos testes, os camundongos que tomaram anabolizantes também se mostraram mais ansiosos. Cada animal foi colocado num labirinto em forma de cruz, com áreas cobertas e descobertas. Camundongos que receberam nandrolona fugiam mais rápido do que os outros animais para as áreas protegidas.

“Os animais se comportaram como as pessoas que abusam de anabolizantes”, explica a professora Silvana Chiavegatto, orientadora de pesquisa. “Camundongos têm no cérebro um sistema para controlar emoções parecido com o nosso. Por isso, há fortes indícios de que os anabolizantes podem mudar a expressão de genes também no cérebro humano”.

Segundo informações do Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas (CEBRID), o Deca-durabolin é um dos anabolizantes mais utilizados no País. Um levantamento do Centro realizado em 108 cidades em 2005 mostra que 0,9% da população já utilizou anabolizantes alguma vez. Os maiores consumidores são homens entre 17 e 34 anos e o uso é maior na região Sudeste. O uso de anabolizantes aumentou 201 % (triplicou) entre 2001 e 2005.

Mais informações: (11) 3091-7218 / 7322, email schiaveg{at}usp.br, com professora Silvana Chiavegatto

* Matéria de Nilbberth Silva, da Agência USP de Notícias.

[EcoDebate, 09/03/2009]

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