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Alteração do pH dos oceanos por causa do CO2 prejudica olfato dos peixes

peixe-palhaço. Foto de Ihoko Saito,Toshiyuki Tajima/Alamy, no The Guardian
peixe-palhaço. Foto de Ihoko Saito,Toshiyuki Tajima/Alamy, no The Guardian

Água mais ácida confunde peixe – A história do peixe-palhaço (ou peixe-das-anêmonas) que se perdeu no mar, no filme Procurando Nemo, de 2003, pode ser uma amostra do que está por vir. Segundo cientistas, os níveis de CO2 podem fazer os peixes perderem seu senso de orientação.

Testes feitos com larvas dos peixes-palhaço mostraram que eles ficam desorientados e não conseguem encontrar o lugar apropriado para viver se a água do mar absorver CO2 (dióxido de carbono) da atmosfera. Matéria de Ian Sample, The Guardian, com informações complementares do EcoDebate.

O efeito é potencialmente devastador para uma série de populações de peixes porque muitos dependem dos odores da água do mar para encontrar os hábitats adequados para viverem, afirmam pesquisadores que estão investigando o impacto dos gases de efeito estufa sobre a vida marinha.

Os oceanos absorvem enormes quantidades de dióxido de carbono liberado com a queima de combustíveis fósseis. Com a absorção desses gases, os oceanos ficam mais ácidos. O pH global dos oceanos diminuiu 0,1% desde o período pré-industrial. Mas, com o esperado aumento das emissões de carbono, esse pH deve cair 0,3% ou 0,4% até 2100. Escrevendo na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os cientistas descreveram como as larvas do peixe-palhaço perdem a capacidade de sentir odores vitais quando em águas mais ácidas por causa dos danos causados ao seu olfato.

“Eles não conseguem fazer uma distinção entre seus próprios pais e outros peixes e são atraídos para substâncias que antes evitariam. Isso significa que as larvas terão menos oportunidade de encontrar seu verdadeiro hábitat, e isso pode ser devastador para as suas populações”, disse Kjell Doving, coautor do estudo e pesquisador da universidade de Oslo.

O caminho

As ovas dos peixes são levadas pelas correntes oceânicas. Ao sair das ovas, as larvas normalmente captam odores que as conduzem para os recifes e anêmonas, onde fazem as suas moradas. No estudo, os cientistas acompanharam como as larvas seguem os odores em águas normais, com um pH de 8,15, em comparação com seu desempenho em uma água do mar levemente ácida, imitando as condições oceânicas esperadas para 2100 e adiante.

Com as águas a um pH de 7,8, as larvas não seguiram os odores liberados por recifes e anêmonas. Em vez disso, foram atraídas para cheiros que normalmente evitam, incluindo aqueles liberados por plantas e outros organismos que crescem em tipos de hábitat inadequados para os peixes. As larvas, assim, não conseguem usar o olfato para fazer distinção entre seus familiares e outros peixes. A um pH de 7,6, as larvas não conseguiram seguir nenhum tipo de odor na água e passaram a nadar sem direção certa.

* Matéria [Clownfish lost at sea due to rising carbon dioxide levels] do The Guardian, publicada no Estadao.com.br, 04/02/2009.

Nota do Ecodebate: o artigo “Ocean acidification impairs olfactory discrimination and homing ability of a marine fish” publicado na PNAS, before print February 2, 2009, doi:10.1073/pnas.0809996106, está disponível para acesso integral, no formato PDF. Para acessar o artigo, na íntegra, clique aqui.

Para maiores informações abaixo trascrevemos o abstract:

Ocean acidification impairs olfactory discrimination and homing ability of a marine fish

The persistence of most coastal marine species depends on larvae finding suitable adult habitat at the end of an offshore dispersive stage that can last weeks or months. We tested the effects that ocean acidification from elevated levels of atmospheric carbon dioxide (CO2) could have on the ability of larvae to detect olfactory cues from adult habitats. Larval clownfish reared in control seawater (pH 8.15) discriminated between a range of cues that could help them locate reef habitat and suitable settlement sites. This discriminatory ability was disrupted when larvae were reared in conditions simulating CO2-induced ocean acidification. Larvae became strongly attracted to olfactory stimuli they normally avoided when reared at levels of ocean pH that could occur ca. 2100 (pH 7.8) and they no longer responded to any olfactory cues when reared at pH levels (pH 7.6) that might be attained later next century on a business-as-usual carbon-dioxide emissions trajectory. If acidification continues unabated, the impairment of sensory ability will reduce population sustainability of many marine species, with potentially profound consequences for marine diversity.

[EcoDebate, 06/02/2009]

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