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Pesquisadores do IPT indicam ‘infraestrutura verde’ como complementação ao manejo das águas urbanas

 

Pesquisadores do IPT indicam ‘infraestrutura verde’ como complementação ao manejo das águas urbanas

Propostas vão desde a utilização de água da chuva em casas e edifícios até a descontaminação de solos, inspiradas no funcionamento dos ecossistemas na natureza

 

esgoto

 

Comemorado anualmente em 22 de março, o Dia Mundial da Água tem como tema de reflexão no ano de 2018 ‘A natureza para a água’, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar estratégias baseadas na natureza para manejo e preservação do ciclo da água. Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontam, dentro desse contexto, medidas que levam em conta a própria dinâmica das vegetações, solos, rios e lagos para o manejo dos recursos hídricos.

O enfrentamento dos desafios relacionados à água, tais como alagamentos, escassez e poluição, é feito usualmente com a chamada ‘infraestrutura cinza’. Ou seja, obras ou intervenções baseadas na engenharia tradicional, a exemplo de galerias de drenagem de águas pluviais e piscinões, que buscam minimizar os problemas advindos da própria urbanização e das atividades humanas.

Essas soluções, porém, podem ser harmonizadas e complementadas pela chamada ‘infraestrutura verde’, que tem por base a observação e a consideração do modo de funcionamento dos ecossistemas para auxiliar no enfrentamento dos desafios da água e podem ser aplicadas em escala urbana. Confira a seguir algumas das alternativas baseadas nesse conceito sugeridas por especialistas do IPT para o manejo das águas urbanas.

SANEAMENTO AMBIENTAL

O setor de saneamento ambiental, nas áreas de água, esgoto e drenagem, é um dos que podem contar com estratégias de infraestrutura verde, considerando tecnologias relacionadas à capacidade natural da vegetação e do solo reterem, absorverem e tratarem águas de chuva e até mesmo esgotos.

“Jardins de chuva, bacias ou valas vegetadas e biovaletas são soluções de infraestrutura verde que utilizam conceitos debiomimética, ou seja, inspiradas na natureza, em estruturas de infiltração, retenção ou detenção de águas pluviais”, explica Luciano Zanella, pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do IPT. Segundo ele, a construção de sistemas de captação de água da chuva em telhados, tal como apontado em manual lançado pelo Instituto, também é uma solução enquadrada no conceito, pois funciona como uma fonte alternativa de água para fins não potáveis e colabora para atenuar o efeito da impermeabilização do solo nos centros urbanos.

Ele aponta também que o tratamento de esgotos e da poluição difusa, aquela trazida pelas águas de chuva, pode ser feito a partir da ação conjunta de plantas e bactérias para a limpeza da água. “Os wetlands construídos são sistemas de tratamento inspirados no funcionamento natural de áreas de várzea ou pântanos, que permitem a melhoria da qualidade das águas e trazem ganhos paisagísticos, podendo servir inclusive como parques ou como área de atração de aves”, complementa Zanella.

ARBORIZAÇÃO URBANA

A vegetação urbana também tem papel importante na gestão da água nas cidades. Raquel Amaral e Giuliana Velasco, especialistas do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT, explicam que árvores de grande porte, com copas frondosas, favorecem a retenção da água das chuvas e diminuem o impacto das gotas no solo. “Isso reduz o escoamento superficial (runoff) e, consequentemente, os alagamentos, que são um grande problema nas cidades”, apontam.

Elas ainda chamam a atenção para o conceito de evapotranspiração, processo de perda de água do solo e da planta que aumenta a umidade do ar e possibilita maior frescor, principalmente em tempos de clima seco. “Uma única árvore de grande porte pode transpirar cerca de 150 mil litros de água em um ano, ou seja, uma média de 400 litros por dia! Teríamos uma‘bomba d’água’ vinda das árvores se tivéssemos, nas cidades, uma floresta urbana que se interligasse com os parques, as matas remanescentes e os quintais das casas, produzindo o que atualmente é chamado de ‘rio aéreo’”, explicam Raquel e Giuliana.

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E CONTAMINADAS

A degradação das margens dos rios é um dos grandes problemas urbanos com relação à gestão dos recursos hídricos. Um dos conceitos que aliam preservação dos recursos hídricos à recuperação de áreas degradadas na natureza é a bioengenharia de solos, que preconiza o uso da vegetação, isolada ou combinada com outros materiais, para formar sistemas vivos em que espécies vegetais utilizadas são arranjadas em modelos construtivos combinando as funções estrutural e ecológica.

“A bioengenharia apresenta potencial de uso em projetos de gestão de recursos hídricos, com a função de recompor segmentos – ou dependendo do caso, até a totalidade – das margens de cursos d’água, comprometidas pela degradação ambiental em bacias hidrográficas”, diz Maria Lucia Solera, pesquisadora da Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do IPT.

As áreas vegetadas podem ser também utilizadas para a redução da contaminação nos solos e águas superficiais ou subterrâneas por meio do processo de fitorremediação, técnica que utiliza diversos tipos de plantas para a remoção, degradação ou contenção de poluentes nos solos, lodos e sedimentos, como os óleos, graxas e metais pesados.

Embora a fitorremediação seja uma técnica mais lenta de remediação – as plantas devem primeiramente estabelecer raízes e ter a estrutura bem desenvolvida – e seja melhor aplicada em áreas com nível baixo a moderado de contaminação, para que os poluentes não inibam o próprio crescimento das plantas, ela traz uma série de benefícios aos lugares em que é empregada.

“É uma tecnologia de baixo impacto ambiental e baixo custo, resiliente, autoreparadora, que demanda poucos recursos energéticos, mão-de-obra e manutenção”, explicam Letícia dos Santos Macedo e Camila Camolesi Guimarães, pesquisadoras do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT. “Além disso, auxilia na melhora da qualidade do ar, reduz processos erosivos e aumenta a infiltração e a retenção local de água”, elencam.

Além de sustentáveis, as técnicas envolvidas no conceito de infraestrutura verde ajudam, em sua maioria, a melhorar a estética dos ambientes, construindo uma paisagem urbana diferenciada. “Elas podem ser exploradas para criar habitats, tornando os ambientes urbanos ao mesmo tempo úteis e bonitos”, finaliza as pesquisadoras.

Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/03/2018

 

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2 thoughts on “Pesquisadores do IPT indicam ‘infraestrutura verde’ como complementação ao manejo das águas urbanas

  • Como ex-ipeteano e defensor das medidas voltadas a aumentar a capacidade das cidades em reter águas de chuva, com destaque à implantação de bosques florestados (piscinões verdes), fico feliz em ver que profissionais do Instituto defendem competentemente essa tese.
    Há que se ter disposição de enfrentar os grandes interesses econômicos e políticos que estão na base da atual opção por grandes obras de engenharia.

  • Valdeci Pedro da Silva.

    Do controle da natalidade Humana na Terra, para redução da super-população, causa da escassez, nem se fala.

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