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Europa tenta crescer com baixa emissão de carbono

Metas incluem ter 20% de energia renovável até 2020 e taxar poluidores – A Europa revelou no mês passado o “caminho das pedras” para um futuro com baixas emissões de carbono. Um dos mais radicais planos que a União Européia produziu, o pacote é um esforço para posicionar o bloco na vanguarda dos esforços para conter o aquecimento global. Por Mark Rice-Oxley, Christian Science Monitor, Londres, publicado pelo O Estado de S.Paulo, 06/02/2008.

O plano de ação europeu é uma junção de propostas de lei e diretivas para aumentar a presença de energias renováveis e punir com custos mais altos os poluidores. O objetivo é alcançar a chamada meta “triplo 20” – que consiste em cortar as emissões de gases de efeito estufa em 20%, incentivar o uso de energias renováveis para que cheguem a 20% da oferta e aumentar em 20% a eficiência energética – até 2020. A maior aspiração é mostrar ao mundo que crescimento econômico e empregos não dependem de emissões de carbono.

Mas há ceticismo e descontentamento na mesma medida. Líderes da indústria avisaram que colocar um custo mais alto sobre o carbono faria a Europa menos competitiva em comparação com países que não têm esse tipo de objeção. Os ativistas verdes manifestaram desapontamento em relação aos compromissos firmados na última conferência do clima, em Bali, em dezembro.

“É insuficiente”, diz Stephan Singer, da ONG ambientalista WWF. “Em Bali, a Europa estava a favor de que os países desenvolvidos deveriam cortar as emissões em 25% a 40%. Agora, a tinta de Bali nem secou e eles vieram com uma proposta de 20%”, afirma.

Para Antony Froggat, pesquisador do Chatham House, grupo de discussões sediado em Londres, a questão chave para as metas européias é o fato de que, em alguns países, as emissões de carbono estão aumentando. “A menos que revertamos essa tendência, o resto do mundo irá dizer que nossa política é boa, mas não estamos alcançando os objetivos.”

CONSUMIDOR

O impacto do plano no consumidor europeu médio tende a ser palpável, mas não punitivo. Os preços da energia elétrica devem subir em torno de 15%, enquanto viajantes podem pagar uma taxa extra de 40 por vôos de longa distância e um adicional pela gasolina, que irá conter 10% de biocombustíveis até 2020.

José Manuel Durão Barroso, chefe da Comissão Européia, disse que custaria aos bolsos dos europeus em torno de 3 por semana para implementar o plano – um total de 75 bilhões por ano, ou 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) europeu. Mas uma falha no plano de ação custaria “pelo menos dez vezes mais e poderia chegar a 20% do PIB”, diz Barroso. E os benefícios de uma economia pouco intensiva em carbono compensariam o esforço.

“A Europa tem a chance de ser a primeira economia de uma era de baixas emissões de carbono”, diz Barroso. “Há um custo para se chegar lá, que pode ser gerenciado”, disse ao Parlamento Europeu, que aprovou o plano. “Além disso, todos os dias os preços do petróleo e do gás sobem, o que mostra que o custo do pacote de medidas europeu tende a cair.”

Parte do plano europeu gira em torno de metas para energias renováveis impostas aos países membros. Para alcançar o objetivo de 20% na Europa, os países assumiram metas individuais. O Reino Unido, por exemplo, terá de aumentar em sete vezes seu suprimento de energias limpas, dos atuais 2% de participação na matriz energética para 15%. A França deve saltar de 10% para 23%, e a Suécia, dos atuais 40% para quase 50% da matriz.

NÚMEROS

20% é quanto
a União Européia deve diminuir as emissões de carbono, aumentar a eficiência energética e aumentar a oferta de energias renováveis até 2020

3 por semana
é quanto o plano europeu deve custar ao consumidor médio

75 bilhões
é o custo total estimado do plano de redução das emissões de carbono europeu