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Artigo

PAC-real, artigo de Ana Echevenguá

[EcoDebate] Ao apagar das luzes de 2007, o barril de petróleo atingiu seu valor máximo: foi negociado por mais de 100 dólares na Bolsa Mercantil de Nova York. Dá pra imaginar que, há dez anos, este mesmo barril custava pouco mais de 10 dólares?

Este preço pode garantir, nos próximos 15 anos, lucros estratosféricos de US$ 6,2 trilhões aos países do Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Bahrein). Jorram petrodólares por lá! Enquanto o mundo teme os efeitos da recessão causada pela crise americana, o Golfo está preocupado com o superaquecimento de sua economia. Recente estudo da consultoria McKinsey apurou que este lucro baseia-se no valor médio de US$ 71 por barril. Usando a média de US$ 100, os ganhos chegarão a US$ 9 trilhões.

Segundo a edição 2042 da Revista Veja, hoje, são produzidos em torno de 85 milhões de barris de petróleo ao dia (13,5 bilhões de litros; cada barril, medida de referência para a indústria petrolífera, contém 159 litros). A cada 4 barris extraídos no mundo, 1 é gasto nos EUA. Tudo indica que o consumo planetário avançará 50% até 2030, devido ao crescimento acelerado da economia chinesa e indiana.

E agora?

O ano de 2007 foi permeado pelas incertezas relacionadas a este combustível fóssil. Ele mexeu na inflação de vários países. Além disso, ninguém sabe ao certo sobre as reservas mundiais existentes. As mais acessíveis estão se esgotando; as demais situam-se em zonas de conflito (Oriente Médio, África, Venezuela, Irã…). As dúvidas continuam em 2008

Fala-se em fontes alternativas e renováveis de energia. Mas os investimentos nesta área – principalmente na pesquisa de novas tecnologias – são pífios.

E o Brasil?

Ora, mais uma vez, o Brasil está despreparado para a crise energética. Ainda não atingiu a auto-suficiência em petróleo alardeada por Lula na campanha eleitoral de 2006.

Mas nada disso parece assustar nossos governantes! Eles ignoram que energia é questão de segurança nacional. Vocês viram a quem o Ministério de Minas e Energias foi entregue? Ao senador Edison Lobão. Uma imposição do PMDB para permanecer como aliado oficial do governo no Congresso.

Esta indicação foi criticada. Além das denúncias contra Lobão e seu filho, Edison Lobão Filho, há a flagrante incapacidade técnica para gerenciar o setor nesta crise de escassez de energia. Sobre isso, gostei do que disse o cientista político Octaciano Nogueira, da UnB: “O pragmatismo do governo tem se traduzido no mais desavergonhado fisiologismo. Com isso, a política tem se reduzido à administração dos interesses pessoais”. Gente, nomear um político de carteirinha para Minas e Energias é uma leviandade!

Lobão assumiu o cargo pedindo otimismo com responsabilidade e afirmando que não há risco de apagão. Principalmente porque as usinas térmicas estão aí para evitar racionamento. Questionado sobre o fisiologismo de sua indicação, Lobão disse que isso nada mais é do que uma “aliança política entre o partido e o governo”. E sobre à ânsia pela nomeação dos amigos aos cargos do Ministério: “Ora, se o partido indica um ministro, é razoável que os cargos sejam ocupados por pessoas desse partido”. (Os limites de um ministro, Correio Brasiliense, 18/01/2008).

Soluções do Ministro para o problema energético

Ele já anunciou que defenderá a construção de uma usina nuclear no Nordeste. Claro! Pra ele tudo é possível! No ano passado, propôs o desmembramento do Maranhão, queria criar o Maranhão do Sul, cuja capital seria a cidade de Imperatriz, sua base eleitoral.

Nosso novo Ministro está trabalhando mesmo! Pensando em obras faraônicas que exijam muito dinheiro. Sabem da última? “O Piauí vai receber recursos da ordem de R$ 2 bilhões para a construção de cinco hidrelétricas na Bacia do Rio Parnaíba, constituindo-se na maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Estado. Foi o que garantiu, nesta quinta-feira, 31, em Brasília, o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, em audiência com o governador Wellington Dias” (http://www.portalaz.com.br/noticia/geral/96056).

Nesse ano eleitoral, vai chover dinheiro pros Estados e municípios por conta do PAC ou da proposta lulista de transformar o Brasil num canteiro de obras públicas. Tudo isso graças à Medida Provisória que facilitou a liberação de verbas do PAC.

No Golfo jorram petrodólares; aqui, teremos uma chuva de PAC-reais! Tudo isso em nome da superação da crise energética que assola o Brasil.

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, e-mail: ana@ecoeacao.com.br