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crise alimentar: Famintos crescem 8% com alta de alimentos


Depois de uma década em queda, o número de famintos volta a subir na América Latina e no mundo. O alerta é da agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que concluiu em seu recém-publicado relatório anual que a alta dos preços de alimentos fez disparar os números da fome pelo planeta. Por Jamil Chade, do O Estado de S.Paulo, 22/09/2008.

Segundo o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, 75 milhões de pessoas entraram para os índices da fome, 8% de 2005 para 2007, quando o número chegou a 923 milhões. Desse total, 907 milhões vivem nos países pobres. Em 2008, o número deve ser ainda maior, por causa da inflação.

Se a atual tendência for mantida, Diouf alerta que a meta de reduzir a fome pela metade apenas será alcançada em 150 anos, e não em 2015, como pede a ONU. Para alcançá-la, seria necessário tirar 500 milhões de pessoas da condição de fome em sete anos.

A alta nos preços dos alimentos incluiu 33 países na África, Ásia e América Latina na lista de locais onde a fome se transformou em uma crise. As regiões mais atingidas foram as Ásia e África, onde estão 89% dos famintos. Nos países asiáticos, são mais 41 milhões de famintos. Outros 24 milhões surgiram na África.

Já a América Latina registrou mais 6 milhões famintos, subindo seu índice para 51 milhões. “Isso representa uma reviravolta depois de mais de uma década de progressos na região”, alertou a FAO. O número é praticamente o mesmo registrado na região em 1990, quando 53 milhões de pessoas passavam fome.

O economista da FAO responsável pelo levantamento, Kostas Stamoulis, evitou dizer se o aumento afetou o Brasil. “Para países exportadores de alimentos, certamente uma parcela da população ganha com a alta das commodities. Mas a realidade é que a parcela mais pobre e os agricultores sem-terra sofrem”, alertou.

POLÍTICAS

Mas a FAO destaca que o mero crescimento das economias não é garantia de que a fome será reduzida. A entidade pede políticas específicas, principalmente para as áreas rurais. “A fome é uma causa da pobreza, não apenas sua conseqüência” afirmou Stamoulis. “O custo econômico da fome chega a centenas de bilhões de dólares em perda de produtividade”, disse. Para Hafez Ghanem, vice-diretor da FAO, a fome aumenta “em um momento que a produção de alimentos nunca foi tão grande”.

Para a FAO, US$ 30 bilhões terão de ser investidos por ano para dobrar a produção de alimentos, ajudar os pequenos produtores, tornar alimentos acessíveis e reduzir a fome. Esse volume de investimentos é “modesto”, em comparação aos mais de US$ 100 bilhões em subsídios gastos no mundo por ano ou os US$ 1,3 trilhão de gastos em armas.

Nos últimos cinco anos, o preço médio dos alimentos mais que dobrou. Apenas neste ano, a alta foi de mais de 57%. Entre 2005 e 2006, os preços subiram em 12%. No ano seguinte, foi de 24%. Olivier de Schutter, relator da ONU para o Direito à Alimentação, admite que houve redução nos últimos dois meses. Mas prevê patamares elevados nos próximos anos. “A idéia de que os alimentos voltarão a ficar baratos não está em nosso radar.”

[EcoDebate, 23/09/2008]