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Santa Catarina: tornados no oeste, artigo de Ana Echevenguá

Santa Catarina: tornados no oeste, artigo de Ana Echevenguá
Imagem: Eco&Ação

[EcoDebate] Desta vez, os problemas não ficaram restritos ao norte do Estado. Tornados em  Guaraciaba, Salto Veloso e Santa Cecília, no extremo oeste. 3 somente numa noite. Ventos com mais de 100 quilômetros por hora atingiram 14 comunidades, destelhando e derrubando casas, árvores… Mais de 200 famílias perderam  as residências e o que havia dentro delas; somente em Guaraciaba, 4 mortos, 89 feridos e  91% dos 10 mil habitantes de desalojados.

Novamente, Santa Catarina está na mídia! A mesma chuva que assolou o Vale do Itajaí em 2008, e que também começou em setembro daquele ano, volta a destruir e a matar gente. Os meteorologistas já afirmaram que, até novembro, teremos chuva acima da média.

Assim como no ano passado, os catarinenses foram penalizados pelas mudanças da Natureza, que é dilapidada a cada minuto pelo bicho homem.

Desta vez, os problemas não ficaram restritos ao norte do Estado. Tornados em  Guaraciaba, Salto Veloso e Santa Cecília, no extremo oeste. 3 somente numa noite. Ventos com mais de 100 quilômetros por hora atingiram 14 comunidades, destelhando e derrubando casas, árvores… Mais de 200 famílias perderam  as residências e o que havia dentro delas; somente em Guaraciaba, 4 mortos, 89 feridos e  91% dos 10 mil habitantes de desalojados.

Quando soube disso na manhã do dia 08 de setembro, fiquei em pânico. Minha filha Candice mora ali pertinho, em São José do Cedro – que ficou sem energia elétrica, água e telefonia. Nessas horas, como é importante o telefone! Ela só conseguiu se comunicar comigo no final do dia, via torpedo: “tudo bem com a gente. Os celulares não estão pegando desde ontem. Passou um furacão que destruiu muita coisa. Te amo. Beijão”. Que alívio, após tantas horas de silêncio e de angústia! E de tantas notícias sobre o flagelo na região. Sabem como é cabeça de mãe, né? Eu a imaginava morta, ou toda machucada, sem socorro no meio da chuva e do frio… No dia anterior, horas antes do temporal, havíamos conversado e ela me disse que lá estava muito quente e começara a chuva. Coitadinha! Como imaginar que a chuva seria tão prejudicial assim?

E as causas da mudança no clima?

Vento, chuva,  terra encharcada,  deslizamentos… Cerca de 20 mil edificações foram danificadas em todo o Estado pela chuva e ventos. O Vale do Itajaí está alerta. O planalto serrano também: na SC 430, entre Urubici e São Joaquim, ocorreram deslizamentos de terra nos mesmos lugares do ano passado (entre os km 51 e 52). Quedas de barreira também na  BR-116, em Santa Cecília.
A chuva está castigando o sul também. A vergonhosa e homicida BR 101 – eternamente em construção – está com mais problemas ainda… O Rio Araranguá já subiu mais de 2 metros acima do leito e as famílias em risco estão sendo retiradas de suas casas. Em Nova Veneza, a ponte provisória sobre o Rio Guarapari foi interditada devido à destruição de suas cabeceiras.

O sul de SC é detentor das enchentes mais violentas do país: a de 1974 causou a maior tragédia do Brasil, com mais de 200 mortes 60 mil desabrigados; no Natal de 1995, 29 pessoas morreram. E também já contou com ciclones e tornados, conforme relato do socioambientalista Tadeu Santos*.

Os urubus sobrevoam a carniça

Ano que vem tem eleição. Deputados federais e senadores catarinenses aterrissaram em  Guaraciaba, São Domingos e Monte Carlo. Com certeza, a democracia vai reeleger os que nunca se preocuparam com a segurança dos governados,  nunca se preocuparam em investir em prevenção, defesa e proteção ambiental porque meio ambiente não dá voto… gente que, sempre  que possível, vendeu e/ou destruiu nossos recursos naturais, nossos ecossistemas, nossas áreas de preservação permanente. Neste grupelho estão os deputados que rasgaram a nossa Constituição Federal ao aprovarem o Código Ambiental Estadual.

Promessa! O governador prometeu R$ 250 mil do Fundo Estadual de Defesa Civil para Guaraciaba, onde predomina a agricultura familiar. Garantidos mesmo? Só os R$ 2 milhões pras empresas que já foram contratadas pra reconstruir 4 escolas da cidade.

Situação de Emergência, Estado de Calamidade Pública. Os prefeitos sonham com esses decretos para fugir da licitação para contratar  obras/serviços. Assim, muita gente pode colocar dinheiro no bolso; os rombos dos cofres públicos podem ser sanados… se sobrar algum, poderá ser aplicado em medidas paliativas e midiáticas. Guaraciaba, Santa Terezinha, São Domingos, Vargeão, Vargem Bonita e Dionísio Cerqueira são os primeiros da fila.

Lembrando da enchente de Blumenau, no ano passado, sei que mais uma vez, seremos coniventes com a exploração da dor dos governados, com o clamor em prol das doações que nunca chegarão às vítimas e com uma sucessão de crimes e de politicagem na gestão dos recursos doados.

Tragédia e administração pública

Claro que ninguém fala que esta tragédia, e a de 2008, estão diretamente vinculadas à péssima administração pública aqui reinante. A mídia marrom já achou o culpado: El Niño** em conluio com a chegada da primavera.

“A combinação de fatores é o problema: o calor, a umidade, a frente fria avançando levam aos temporais. Como o trimestre será chuvoso, a chance de deslizamentos são maiores” – Francine Gomes, meteorologista do CIRAM – Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de SC***.

Mas o renomado engenheiro agrônomo Gert Fischer sabe que a história não é bem assim:

“certamente, a falta de cobertura vegetal vem criando microclimas novos diante do aquecimento do solo e da atmosfera. Mas até o momento, o governo não quis escutar profissionais idôneos sobre o enfrentamento das dificuldades e sobre mecanismos de minimização do sofrimento humano. O povo catarinense ainda está sob os impactos negativos dos desastres ocorridos em novembro de 2008. As vítimas ainda não  foram indenizadas. Por mais de 50 anos, a ACARESC, EPAGRI, CIDASC, BRDE, BADESC e BESC financiaram negócios que destruíram as Áreas de Proteção Permanente, em flagrante desrespeito ao artigo 2º. do Código Florestal Brasileiro. E, para não serem condenados, forjaram o Código Ambiental Estadual, esse instrumento vergonhoso que está contaminando outros governadores”.

Acorda, Santa Catarina! Efeito estufa, mudança climática, aquecimento global não ocorre somente nas geleiras do  Pólo Norte, na África, no filme do Al Gore…  Acorda para entender as causas destas tragédias e para evitar que estas se repitam em 2010, em 2011…

* – http://tadeusantos.blogspot.com/2007/11/o-carvo-e-o-furaco-catarina.html

** – El Niño é um fenômeno que ocorre quando as águas do Oceano Pacífico aquecem acima do normal. E provoca chuvas no sul do Planeta.

*** – http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2648229.xml&template=3898.dwt&edition=13096&section=846

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Água, e-mail: ana{at}ecoeacao.com.br, website: http://www.ecoeacao.com.br.

EcoDebate, 14/09/2009


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