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Aumento do nível do mar ameaça cidades costeiras e milhões de vidas no Brasil e no mundo

 

 

Inundações, corrosão de infraestrutura e deslocamento de populações são previsões, com projeções piores que o esperado, atingindo em cheio o Brasil.

 

Projeções de elevação do nível do mar até 2100 para dois cenários com a quantidade de aumento em metros indicados (leite de 1m; extremo x 4m). Porcentagem e deslocamento total da população indicados no canto inferior direito

Projeções de elevação do nível do mar até 2100 para dois cenários com a quantidade de aumento em metros indicados (leite de 1m; extremo x 4m). Porcentagem e deslocamento total da população indicados no canto inferior direito.

 

O aquecimento global está impulsionando um aumento sem precedentes do nível do mar, e as consequências para as cidades costeiras e suas populações já são uma realidade preocupante, com projeções que indicam um cenário ainda mais drástico do que o esperado.

Este fenômeno complexo, resultante do aquecimento dos oceanos e do derretimento acelerado de geleiras e calotas polares, está redefinindo o futuro das regiões costeiras, impactando tanto a infraestrutura visível quanto a subterrânea, e ameaçando milhões de pessoas.

Ameaça Subterrânea: Corrosão e Falha da Infraestrutura Essencial

Uma das faces menos visíveis, mas igualmente devastadoras, do aumento do nível do mar é a sua interação com as águas subterrâneas costeiras.

Conforme o nível do mar sobe, o lençol freático costeiro é elevado e, simultaneamente, torna-se mais salgado e corrosivo. Essa intrusão de água salgada no subsolo exacerba a corrosão e a falha de redes complexas de infraestrutura enterrada e parcialmente enterrada em cidades.

Sistemas críticos como:

  • Linhas de esgoto e drenagem podem ser comprometidos, levando à mobilização de contaminação urbana.
  • Estradas e fundações de edifícios enfraquecem, comprometendo a segurança e a estabilidade das construções.
  • Porões e sistemas de drenagem já estão experimentando inundações devido ao aumento dos níveis da água subterrânea.

Essa interação corrosiva ocorre muito antes dos efeitos visíveis das inundações superficiais, constituindo uma “ameaça oculta”. Globalmente, cerca de 1,42 bilhão de pessoas em 1.546 cidades e vilas costeiras baixas estão provavelmente já experimentando esses impactos.

Populações em Risco: O Cenário no Brasil e no Mundo

A ameaça direta de inundações costeiras para as áreas habitadas está crescendo drasticamente. Um estudo da Climate Central aponta que, até o fim deste século, terras que hoje abrigam quase 100 milhões de pessoas em todo o mundo estarão em risco de inundações anuais.

No Brasil, a situação é particularmente alarmante:

  • A população em zona de risco de inundação costeira anual em 2030 deverá ser de 1,3 milhão de pessoas.
  • Até 2100, esse número deverá aumentar 68%, atingindo 2,1 milhões de brasileiros convivendo com a ameaça de inundações anuais.
  • Cidades como Rio de Janeiro, Santos, Recife e Fortaleza, com suas vastas áreas costeiras e de baixa altitude, seriam diretamente afetadas por inundações mais frequentes e severas, comprometendo bairros inteiros, infraestruturas críticas e residências.

Outros países também enfrentam desafios imensos: a China, por exemplo, terá cerca de 52 milhões de pessoas em zonas de risco anual de inundação costeira até 2030, com mais 29 milhões adicionais até 2100. Vietnã, Bangladesh, Índia, Indonésia e Japão também verão milhões de seus cidadãos expostos a ameaças cada vez maiores.

A necessidade de realocar populações de áreas de risco traria desafios sociais e econômicos imensos, demandando investimentos em moradias, infraestrutura e serviços públicos.

Projeções Mais Drásticas e a Urgência da Ação

Novos estudos estão elevando as projeções do aumento do nível do mar, acendendo um alerta ainda mais urgente. Uma pesquisa inovadora, utilizando uma nova abordagem de “fusão” que combina modelos climáticos existentes com a opinião de especialistas, projeta que em um cenário de altas emissões, o nível médio global do mar pode subir entre 0,5 e 1,9 metro até 2100. Este limite superior é 90 centímetros maior do que a projeção mais recente das Nações Unidas. Mesmo em um cenário de baixas emissões, um aumento entre 0,3 e 1,0 metro é considerado “muito provável”.

Além disso, modelos de elevação mais precisos, que utilizam dados de satélite lidar da NASA (superiores aos dados baseados em radar que superestimavam a elevação do solo), revelam que os piores impactos do aumento do nível do mar ocorrerão antes do esperado.

Esses novos dados indicam que os maiores aumentos na área inundada acontecerão após os primeiros 1 a 2 metros de elevação, cobrindo mais do que o dobro da terra do que os modelos antigos previam.

Isso significa que as comunidades costeiras têm menos tempo para se preparar, e a maior parte dos danos pode ser mitigada se as ações forem tomadas antes que o mar suba os primeiros metros.

Impactos Multifacetados para o Litoral Brasileiro

As implicações dessas novas projeções para o Brasil são significativas e exigem atenção urgente. Além das inundações diretas e danos à infraestrutura subterrânea, o aumento do nível do mar representa uma ameaça multifacetada:

  • Erosão costeira acelerada: O avanço do mar intensificará a erosão de praias e falésias, ameaçando a estabilidade de construções e a existência de ecossistemas costeiros vitais, como mangues e restingas.
  • Salinização de aquíferos e solos: A intrusão de água salgada em aquíferos costeiros comprometerá o abastecimento de água potável e impactará a agricultura em áreas próximas ao litoral. Um estudo da NASA sugere que 77% dos aquíferos costeiros serão afetados por intrusão salina até 2100.
  • Prejuízos à economia e turismo: Setores vitais como o turismo serão severamente afetados pela degradação das praias e pela inviabilidade de infraestruturas. Atividades econômicas como a pesca e o transporte marítimo também sofrerão grandes impactos.
  • Ameaça a ecossistemas e biodiversidade: Ecossistemas costeiros únicos e ricos em biodiversidade, como manguezais, recifes de coral e restingas, serão severamente impactados, com consequências irreversíveis para a fauna e flora locais.

Adaptação e Mitigação

Diante desse cenário, a implementação imediata de políticas de adaptação e mitigação robustas é crucial. Atualmente, a maioria das medidas de adaptação em cidades costeiras é considerada inadequada em termos de profundidade, abrangência e velocidade.

Embora regiões mais ricas tendam a implementar medidas técnicas como diques e planejamento urbano inovador, em regiões menos desenvolvidas, as medidas focam mais em mudanças de comportamento.

No entanto, construir barreiras físicas como diques é caro e leva décadas para ser implementado. É fundamental que as cidades costeiras priorizem o planejamento e a implementação de medidas de adaptação eficazes, que considerem tanto os impactos nas infraestruturas quanto nas comunidades.

Isso inclui desde o planejamento urbano sustentável e a construção de barreiras físicas até a proteção e restauração de ecossistemas costeiros, que atuam como defesas naturais, e, de forma mais ampla, uma drástica redução das emissões de gases de efeito estufa.

A ação coordenada entre cientistas e governos, informada por pesquisas contínuas, será crucial para desenvolver soluções integradas e sustentáveis e garantir um futuro resiliente para as cidades costeiras.

O futuro do planeta e de suas populações costeiras depende de uma resposta rápida e decisiva às evidências científicas que continuam a surgir.

Fontes:

Aumento do nível do mar ameaça o litoral do Brasil

 

Derretimento de gelo acelera e nível do mar ameaça cidades costeiras

 

Impactos do aumento do nível do mar nas cidades costeiras

 

Aumento do nível do mar ameaça infraestrutura costeira

 

Aumento do nível do mar deve afetar mais de 1 milhão de brasileiros em 2030

 

Infraestrutura costeira é vulnerável ao aumento do nível do mar

 

Piores impactos do aumento do nível do mar ocorrerão antes do esperado

 

 

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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